terça-feira, 17 de novembro de 2015

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) "FIZERAM-ME UMA PERGUNTA"

FIZERAM-ME UMA PERGUNTA
Indagaram-me o que eu estava fazendo no dia 31 de março de l964.
Vou responder-lhes.
Estava entre estes tanques.
Eu era Presidente da Federação Universitária de Ribeirão Preto (FURP), eleito pelo voto dos universitários e ocupava uma cadeira no Conselho  DE Administração da Faculdade de Direito, por votação de colegas. Meu espaço físico era uma sala no Centro Acadêmico de Direito.
Quando estourou o golpe de estado. Hoje eu sei que talvez a única alternativa para um Brasil democrático fosse este golpe, com todas suas mazelas. Muitos líderes estudantis desapareceram das ruas e de toda militância. Isolaram-se ou passaram para fora das fronteiras do Brasil. Serra, por exemplo, (Presidente da UNE) fugiu para o Chile. Gabeira foi  parar na Rússia, não sei como. Esta mulher de nome Dilma nunca vi falar nela, nem Genoino, nem Zé Dirceu, nem Mercadante, nem nada.  Esta gente  - se existia - não pertencia ao movimento estudantil no qual eu estava engajado.
Fui detido na sede da 5ª Circunscrição de Serviço Militar (Ribeirão Preto). Constatado que eu não era um fujão podia dormir em casa, passando o dia na instituição. Longo, (Presidente do Centro Acadêmico de Direito), foi preso e transferido para a cadeia pública de Jardinópolis. Portinari, fugiu para a fazenda de um tio. João Cunha, fugiu não sei para onde sem avisar aos companheiros, que aliás até hoje não sei.
Várias prisões ocorreram pelo país. Tanques nas ruas da capital, cavalaria, corre-corre.
De quando em quando a gente ouvia notícias de mortes em confronto ou em fuga de alguns amigos.
Impactado por esta detenção deixei a militância, fui trabalhar em um escritório de advocacia local. Em seguida veio o namoro, casamento, aluguel, filhos e tudo se acabou.
Alguém gostaria de ouvir mais detalhes?
É só pedir e explico. Não dá para escrever um livro em uma crônica de Blog.
Um abração a todos amigos.
J. R. M. Garcia.