FIZERAM-ME UMA PERGUNTA
Indagaram-me o que eu estava fazendo no dia 31 de
março de l964.
Vou responder-lhes.
Estava entre estes tanques.
Eu era Presidente da Federação Universitária de
Ribeirão Preto (FURP), eleito pelo voto dos universitários e ocupava uma
cadeira no Conselho DE Administração da
Faculdade de Direito, por votação de colegas. Meu espaço físico era uma sala no
Centro Acadêmico de Direito.
Quando estourou o golpe de estado. Hoje eu sei que talvez
a única alternativa para um Brasil democrático fosse este golpe, com todas suas
mazelas. Muitos líderes estudantis desapareceram das ruas e de toda militância.
Isolaram-se ou passaram para fora das fronteiras do Brasil. Serra, por exemplo,
(Presidente da UNE) fugiu para o Chile. Gabeira foi parar na Rússia, não sei como. Esta mulher de
nome Dilma nunca vi falar nela, nem Genoino, nem Zé Dirceu, nem Mercadante, nem
nada. Esta gente - se existia - não pertencia ao movimento
estudantil no qual eu estava engajado.
Fui detido na sede da 5ª Circunscrição
de Serviço Militar (Ribeirão Preto). Constatado que eu
não era um fujão podia dormir em casa, passando o dia na instituição. Longo,
(Presidente do Centro Acadêmico de Direito), foi preso e transferido para a
cadeia pública de Jardinópolis. Portinari, fugiu para a fazenda de um tio. João
Cunha, fugiu não sei para onde sem avisar aos companheiros, que aliás até hoje
não sei.
Várias prisões ocorreram pelo país.
Tanques nas ruas da capital, cavalaria, corre-corre.
De quando em quando a gente ouvia
notícias de mortes em confronto ou em fuga de alguns amigos.
Impactado por esta detenção deixei a
militância, fui trabalhar em um escritório de advocacia local. Em seguida veio
o namoro, casamento, aluguel, filhos e tudo se acabou.
Alguém gostaria de ouvir mais
detalhes?
É só pedir e explico. Não dá para
escrever um livro em uma crônica de Blog.
Um abração a todos amigos.
J. R. M. Garcia.