CRÔNICA IRRITANTE
Advogar é fácil.
Mas é um atropelo, às vezes.
Marcamos para ontem um encontro que dar-se-ia por
volta das 20 horas. O horário seria bom para uma conversa, a qual deveria
ocorrer entre as pessoas interessadas fora do expediente.
Indo para a cidade onde o assunto ia ser tratado,
bateu uma chuva de vento tal, que embora a caminhonete (nosso veículo) fosse
pesada, balançava na pista. Era perto. Uma cidade vizinha.
Lá chegando erramos a entrada da cidade. Uma, duas
vezes sem encontrá-la.
Enfim achamos e, não encontrando a rua, procuramos
bares abertos, pessoas na rua, farmácia, posto de gasolina. Nada. Em meio a
aquela ventania e a chuva forte que começava, todos estavam abrigados. Número e
nome da rua não tínhamos: perto de um posto, descendo, à esquerda, a última
casa. Era isso só.
E como encontrar isso?
Impossível. Já passava das 21,30 horas e nada.
Eu, já encabulado com o motorista, que não anotara
corretamente o dito endereço, estava bastante irrequieto.
Finalmente, entramos em uma rua bastante íngreme e estreita.
Eu pedindo ao motorista que fosse a pé até lá, procurando uma referência
qualquer, batendo palmas nas casas, procurando a dita casa escondida.
Não. Ele, teimoso, tocou viela abaixo. Eu vi que a
iluminação não continuava, terminava logo adiante.
E ele gabando-se: “Esta caminhonete é 4x4. Não
atola”.
Pronto.
Caiu em um atoleiro tendo adiante um córrego com
apenas uma pinguela. Quase desabou no córrego.
Ele engatou marcha ré e, sendo a caminhonete 4X4,
tentou sair, até que o piso do veículo acoplou-se, definitivamente, no barro.
Saímos, a pé, na chuva, atolados no barro, e fomos
até a casa do prefeito, pedir que ele nos tirasse daquela triste situação.
Depois de muita explicação, ele - desconfiado mais de
mim de gravata envolto em barro - resolveu nos ajudar. Arrumou um trator.
Nessas alturas já me encontrava sem camisa e
descalço.
Saímos arrastados ladeira acima, de ré, até o
asfalto. Molhado e enlameados os dois.
E a reunião, já além das 24 horas de luta, ficou
adiada para o dia de são nunca.
Advogar é isso também, sabia?
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>