quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) ="BUDAR"=

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) 


   ="BUDAR"=

Não é fácil.
Um exemplo simples.
Uma criança está a volta da mãe, em um pequeno apartamento, “molestando-a” na confecção de um jantar. De repente a criança vira uma travessa sobre uma área da cozinha. A mãe se irrita e dá-lhe um tapa. Ela chora sem compreender o que houve exatamente. A mãe irrita-se e, em tom de ânimo e voz alterada, põe-se a limpar a área que a criança sujou.
É comum acontecer isso.
A compreensão, que deveria de ir além, levando esta mãe a pensar que o apartamento é pequeno e que a criança não dispões de espaço para brincar, vê-se atarantada e desfecha o tapa aparentemente injusto no entendimento da criança. Quando na verdade, espaço é que é o problema. Por transferência de ambos, o clima de beligerância ou de ânimo está estabelecido. E isso pode durar poucos minutos, horas ou o dia todo.
E isso, repetidas vezes, terminará por estabelecer alguma espécie ruim de comportamento na criança, na mãe e na família.  
Creio que, quanto mais o nível de consciência de uma criatura atingir níveis mais elevados, esta dificuldade aumenta.
Complica, digamos assim.
Enquanto uma pessoa simples atribui a culpabilidade sobre seus semelhantes, isso torna mais fácil para si própria a absorção, a análise e os gravames que ela carrega sobre si mesmo, os equívocos que vão enrijecendo dentro de si.  
Com uma consciência mais ampla sobre os fatos, seus entendimentos, suas apreciações, seus julgamentos interiores, sua autocrítica, as analogias aumentam a complexidade no estabelecimento de um critério que fica mais próximo da realidade e alivia a todos. Ao contrário, isso, esparge, sobre um certo sentido, a faz sofrer a todos. Logo o pai chega e já pega um clima ruim sem nada entender. Filho nervoso, mulher nervosa e ele cansado.
O fenômeno da transferência para terceiros é o mais comum. Sempre nosso próximo tem a culpa e nós mesmo vítimas.
        No fim, o que resulta, é que enquanto deveriam conversar do fato em si, mas já agora esquecidos do que aconteceu, vão ver a TV irritados, mudos, em uma atitude que digo para minha mulher “budar” (emburrada). -rs-
A falta do diálogo e uma compreensão mais vasta, inteligente,  arrasa uma vida. Do nada começa uma grande desgraceira de pessoas abespinhadas, prontas a beligerância.
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>