terça-feira, 1 de dezembro de 2015

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) - DIA TRISTE -

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)   


- DIA TRISTE -


O dia não está   triste.
Há sol, não existe poluição, meu resfriado melhorou. Quando olho os dois filhos -raramente- que tive acho-os acomodados pela própria condição que vivem. Estão bem, eu penso.
Mas estou triste.
Isso não deve interessar a ninguém e, talvez, é um ato de fraqueza expressar-me aqui. Mas talvez muitos - como vou saber! – sintam-se assim sem uma explicação plausível?
O mundo tornou-se em um grande aglomerado de prédios, empilhando-nos como em um formigueiro, semelhante a conglomerados humanos à moda de uma grande colônia de cupins. Vivemos aqui dentro.
Deram-nos a indústria televisões, computadores, telefonia, janelas, interfones, tabletes e vai por aí. Tudo para ficarmos quietinhos em nossas locas. Na verdade o destino do ser humano foi coletor, andando o dia todo para catar seu sustento. Agora é um prisioneiro.
Aliás. Prisioneiro dos veículos e de bandidos que nos mata em troca de muito pouco.
Aqui cuidam de tudo. Limpeza das áreas comuns, jardins, fontes artificiais, pátio com jardins, piscinas sempre limpas. Na portaria, somente entram se falarem no interfone e concordarmos se a pessoa pode ou não entrar. Até correspondência são nos entregue via uma assinatura.
Sabe de uma coisa? Já vivi em casa térrea a vida toda, agora dizem que não dá mais.
Na verdade, é porquê aqui me sinto como se fosse uma espécie de asilo, um tempo de espera para o verdadeiro asilo fechado. Eu posso não saber, mas meu inconsciente sabe que o caminho lento é esse. Preferia passar esta etapa e ir direto para onde tenho de ir, mas isso seria uma coisa traumática a todos.
Por isso, minhas amigas e meus amigos, estou triste.
Um pássaro na gaiola ou um cupim na sua loca.
J. R. M. Garcia.