domingo, 27 de dezembro de 2015

CRÔNICAS E CONTOS ( Borges e Garcia) = FAMÍLIA CIBERNÉTICA =

CRÔNICAS E CONTOS ( Borges e Garcia) 
    = FAMÍLIA  CIBERNÉTICA  =



Este é um fato novo e não previsto nos anais da sociologia e psicologia.
Estou certo disso.
As distâncias sempre existiram. Antigamente maiores. Há pouco tempo menores. E, com a internet, a coisa mudou muito. Todo o mundo está dentro de minha casa e ninguém está. O aparelhozinho controla. Estou jantando e minha filha está aqui, mas na verdade não está.  Se esquecemos o quê dizer, nem lembramos mais e as ideias escapam como o vento que entra pela janela.
A discussão sobre um elemento ou um assunto mais ou menos complexo, fica embaraçado nas palavras sem de fato esclarecer nada.
Conheço famílias com quatro filhos que vivem longe, até para fugir das responsabilidades que “teriam” para com os pais. Ou, às vezes, da miséria, das dificuldades em ganhar a vida. Suam e sofrem para economizar algo para os pais. Sei de um fato triste, que o filho tendo economizado alguns poucos pecúlis e mandando para o pai guardar, para quando voltassem, iriam comprar uma casa. O velho pai,  viciado,  foi jogando na mesa de jogo. Quando o filho chegou, antes de vê-lo, suicidou-se.
O clima emocional de um é distante do de outro. Ninguém mais está como antigamente esteve. É uma conversa formal, uma vez que não se sabe como o outro está reagindo animicamente. Não lhe vê as faces senão filmadas, que deforma. As experiências vividos por um são bem diferentes do que as de outro.  
E depois se esconde, não se mostra e, quando você procura, a pessoa não está, estando.
E isso é um elemento de solidão gregária. Talvez a juventude, mesmo meio velhinha, não perceba ainda isso.
Mas é. Um dia descobrirá que ninguém está por si e ela também não estará por ninguém.
Antigamente os velhos tinham alguma utilidade para se aconselhar, agora eles foram trocados pelo Google e deles só se tem interesse no dinheiro, quando possuem. Fora isso...
A energia elétrica que nos abastece vem de longe, os remédios, os veículos. São tudo trocas. Mas não valorizamos isso. Mas devemos muito ao carteiro. Digo mais: quanto mais nos distanciamos, mais gregários ficamos.
Imaginemos que sejamos tão “tarados” a ponto de uma única pessoa preencher-nos a vida manipulando-nos. Mas será que isso é o bastante? Somos animais societário por natureza. Isso ninguém ousou negar.  Vivemos em conjunto. Trocamos idéias  – o que é primordial – E mais: trocamos emoções. Estas emoções tem efeitos sobre nós, altera-nos os ânimos e traz-nos vida. Supondo que não estejamos em mãos de uma pessoa manipuladora ao extremo, podemos viver uma fantasia e, no final de nossa existência, vermos que a vida não passou de uma empulhação.
E jogar tudo isso para cima, como de uma janela, não é bom.
E nossos ancestrais?
E nossas lembranças?
E o estar uns com os outros?
Eu não creio que filósofo algum defenda que um abraço real de saudade, seja como algumas linhas de computador vazias.
Dir-me-ão: “Falo de mim somente. E não de outros”.
Sim. Primeiro sinto e depois falo. E o fato do sentir é algo pessoal, somente faz sentido falando se sinto e o quê sinto. Sem sentir, escreverei como o som de um tambor vazio que faz unicamente som.
Afinal, quem negar a força de um abraço, o apertar do corpo contra o outro, o beijo na face, o ajuntar-se para um, jantar, um almoço, este já está perdido, pois perdeu a alma.  
Bem ou mau, mas a internet está aí e ela propiciará isso por algum tempo.

Será um mundo aparente até que, de repente, pode ou não mudar.
Oremos.
J. R. M.Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>