CRÔNICAS
E CONTOS (Borges e Garcia)
= ORANDO
=
=
ENVIADO POR MIRIAM HORI =
(PUBLICADO SEM AUTORIZAÇÃO)
Eu nunca trocaria meus
amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos
cabelo branco ou uma barriga mais lisa.
Enquanto fui
envelhecendo tornei-me mais amável para mim e menos crítico de mim mesma. Eu me
tornei minha própria amiga ...
Eu não me censuro por
comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou pela compra de algo
bobo que eu não precisava. Eu tenho o direito de ser desarrumado, de ser
extravagante. Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes
de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me
censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e
dormir até meio-dia? Eu dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos
70 & 80 e se eu, ao mesmo tempo, desejar chorar por um amor perdido ...
Eu vou. Se eu quiser,
vou andar na praia em um short excessivamente esticado sobre um corpo decadente
e mergulhar nas ondas com abandono, apesar dos olhares penalizados dos outros
no “jet set”. Eles também vão envelhecer. Eu sei que sou às vezes esquecida,
mas há algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das
coisas importantes.
Claro, ao longo dos
anos meu coração foi quebrado. Como não pode seu coração não se quebrar quando
você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre ou mesmo quando algum
amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas, corações partidos são
os que nos dão força, compreensão e compaixão.
Um coração que nunca
sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito. Sou
abençoada por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos e ter os
risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto.
Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata.
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com
o que os outros pensam.
Eu não me questiono
mais. Eu ganhei o direito de estar errada. Assim, para responder sua pergunta,
eu gosto de ser velha. Eu gosto da pessoa que me tornei.
Não vou viver para sempre, mas enquanto ainda estou aqui, não
vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que
serei. E, se me apetecer, vou comer sobremesa todos os dias.
Que nossa amizade nunca se separe porque é direta do coração!
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>