quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) = FAMÍLIA CIBERNÉTICA =

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)

FAMÍLIA CIBERNÉTICA


Todos sabemos o que vem a ser cibernética, mas para não deixar dúvidas,  “...é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas eletrônicas (homeostatos, servomecanismos, etc.).
Estas analogias tornam-se possíveis, na Cibernética, por esta estudar o tratamento da informação no interior destes processos comocodificação e descodificação, retroação ou realimentação (feedback), aprendizagem, etc. Segundo Wiener (1968), do ponto de vista da transmissão da informação, a distinção entre máquinas e seres vivos, humanos ou não, é mera questão de semântica.”
Talvez isso seja possível. Talvez não.
Para um humanista imagino que esta ideia seja assustadora. Para um racionalista puro talvez seja factível esta forma comportamental.
Empresas existem que funcionam dentro deste espírito, aliás o que foi criticado com imortal humor pelos filmes de Chaplin. O operário torna-se uma engrenagem da máquina e é por ela devorado.
Creio que para se atingir este ponto, a família tem de ser antes condicionada a um tratamento eminentemente virtual, tal seja,  como diz caçoando uma amiga minha, protocolo, método, sistema e hierarquia.
Às favas a ligação emocional que se possa ter entre os pares desta família, seja na dor ou no amor, na dúvida ou na esperança, no desespero ou na alegria. O que sobre-existe, é o resultado do entrosamento cibernético à uma sociedade que aceite este tipo de comportamento.  
Seria, digamos assim, a desumanização dos humanos. Qualquer coisa próxima ao explanado por Herbert Marshall McLuhan: Além do estudo dessas transformações, McLuhan nos apresenta como se reconfigura essa Galáxia de Gutenberg nos tempos da comunicação eletrônica. Foi com esta a obra que popularizou-se o termo Aldeia Global.”
         Se assim for, o brilhante comunicador, pioneiro da difusão da moderna ideia de virtualidade,  nossos filhos seriam criados à base de deveres e obrigações. Ora estaríamos a estudar inglês, ora física, química, filosofia, música e, ao final, estariam mais loucos do que já estamos.
         Triste daquele que não deu uma bela canelada e foi expulso do campo, uma boa luta de socos na escola, tomando chuva enquanto sua mãe odiava que viesse com a roupa imunda, rasgando o caderno do colega por ter escrito nele uma poesia de amor.
         O inverso é processo é de preparação para a família cibernética, a qual, fora uma tecnologia pobre não pode arriscar-se em águas nunca d’antes navegadas em navios de madeira, porque os protocolos, os métodos e a hierarquia pregam os métodos reducionistas que não os permite a tanto.
         Enfim a Sociedade se dissociaria, como dissociará nesta piada de que os conceitos do inconsciente prevaleçam em busca de segurança e de um “ninho”. O homem veio até aqui fora do “ninho” e assim continuará ou terminará.
         Um bom fim de semana.
         J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>