CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
FAMÍLIA CIBERNÉTICA
Todos sabemos o que vem a ser
cibernética, mas para não deixar dúvidas, “...é
uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos
e grupos sociais através de analogias com as máquinas eletrônicas (homeostatos, servomecanismos,
etc.).
Estas
analogias tornam-se possíveis, na Cibernética, por esta estudar o tratamento da informação no interior destes processos comocodificação e descodificação, retroação ou realimentação (feedback),
aprendizagem, etc. Segundo Wiener (1968), do ponto de vista da transmissão da
informação, a distinção entre máquinas e seres vivos, humanos ou não, é mera
questão de semântica.”
Talvez isso seja possível. Talvez
não.
Para um humanista imagino que esta
ideia seja assustadora. Para um racionalista puro talvez seja factível esta
forma comportamental.
Empresas existem que funcionam
dentro deste espírito, aliás o que foi criticado com imortal humor pelos filmes
de Chaplin. O operário torna-se uma engrenagem da máquina e é por ela devorado.
Creio que para se atingir este
ponto, a família tem de ser antes condicionada a um tratamento eminentemente
virtual, tal seja, como diz caçoando uma
amiga minha, protocolo, método, sistema e hierarquia.
Às favas a ligação emocional que
se possa ter entre os pares desta família, seja na dor ou no amor, na dúvida ou
na esperança, no desespero ou na alegria. O que sobre-existe, é o resultado do
entrosamento cibernético à uma sociedade que aceite este tipo de comportamento.
Seria,
digamos assim, a desumanização dos humanos. Qualquer coisa próxima ao explanado
por Herbert Marshall McLuhan: “Além do estudo
dessas transformações, McLuhan nos apresenta como se reconfigura essa Galáxia
de Gutenberg nos tempos da comunicação eletrônica. Foi com esta a obra que
popularizou-se o termo Aldeia
Global.”
Se assim for, o brilhante comunicador, pioneiro da difusão
da moderna ideia de virtualidade, nossos
filhos seriam criados à base de deveres e obrigações. Ora estaríamos a estudar
inglês, ora física, química, filosofia, música e, ao final, estariam mais
loucos do que já estamos.
Triste daquele que não deu uma bela canelada e foi expulso do
campo, uma boa luta de socos na escola, tomando chuva enquanto sua mãe odiava
que viesse com a roupa imunda, rasgando o caderno do colega por ter escrito
nele uma poesia de amor.
O inverso é processo é de preparação para a família
cibernética, a qual, fora uma tecnologia pobre não pode arriscar-se em águas
nunca d’antes navegadas em navios de madeira, porque os protocolos, os métodos
e a hierarquia pregam os métodos reducionistas que não os permite a tanto.
Enfim a Sociedade se dissociaria, como dissociará nesta
piada de que os conceitos do inconsciente prevaleçam em busca de segurança e de
um “ninho”. O homem veio até aqui fora do “ninho” e assim continuará ou terminará.
Um bom fim de semana.
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>