quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) = Causo verídico =

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)

Causo   verídico

samurai

Faz muito tempo.
Tudo é muito antigo em mim.
Fui contratado para o quê devia de ser uma concordata em Araguari. E, para lá fui. Tudo indicava que seria mesmo  concordata (hoje chamam de recuperação judicial).
A dívida maior era com a firma de um japonês em São Paulo. Eles vendiam, naquele tempo, insumos para agricultura. Quanto aos bancos controlamos a situação. 
Havia ainda mercadoria encalhada na empresa procedente da fornecedora de adubos.
Pedi para ver uma saca lacrada. Olhei. Vi uma fórmula muito bem descrita, especificando o que deveria conter no dito ingrediente.
A firma credora ameaçando protestar os títulos, como de fato protestou.
Peguei uma saca lacrada do dito adubo e fui para Campinas, para o CATI (Coordenadoria Técnica de Assistência Integral).
Pediram-me uma semana ou mais para analisar o material. Era tempo demais. E os protesto do japonês caiam. E sofrendo e esperando. O cliente cada vez mais angustiado.
Telefonava dia sim, dia não no CATI.
Uns 20 dias depois, eles disseram: “O resultado de seu material está aqui.”
Pronto.
O que dizia que estava na fórmula e não condizia em nada com o material. Faltava tudo.
Fui para São Paulo, sede da empresa fraudulenta.
Dei-lhes a fotocópia, (nesta época já existia), do laudo do CATI, instituição das mais famosas no Brasil.
Sumiram dois dias. No terceiro apareceram no hotel simples onde hospedava em São Paulo.
Queriam acordo.
Não concordei. Pedi para devolver o resto da mercadoria e o perdão integral da dívida.
Berraram. Espernearam. Tentaram tudo.
Eu firme.
No fim concordaram, mas surgiu outro problema. Topo com um pseudo-samurai.
E aqui entra a filosofia dos japoneses, tão antigas como antes de Cristo.
Eles me trariam a composição de acordo sem eu ver o dono da empresa assinar. Isso não aceitei. Ou eu via ele assinando ou, nem com firma reconhecida, não servia. Eles são irredutíveis nesta coisa de costumes. Mas eu não podia confiar.
E esse impasse ficou por mais três dias.
No fim fui até a empresa, sem portar o laudo, sem assinar o documento de acordo, mas com ele na pasta. O filho, que no princípio me tratava bem, sua vontade agora era matar-me, pois disse que ia desmoralizar o Samurai com uma chantagem. Era interessante! Eles ladrões e eu “chantagista”. Mas não os chamei de ladrões. Apenas fiquei firme.
Vi o velho, o Samurai assinar. Ele não olhou para mim e saiu em um minuto sem cumprimentar-me.
Ganhei a concordata.
Fato real.
Boa Quarta Feira.
J. R. M. Garcia
<martinsegarcia@uol.com.br>