segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) = = GOSMA REPUBLICANA =

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)


 GOSMA  REPUBLICANA

A independência surge neste país de uma confluência maléfica. Um imperador em guerra, doente, lutando para depor seu irmão, p qual lhe roubava a coroa em Portugal; um filho de cinco anos Regente de outro reino que era, também, seu; um general igualmente muito velho e doente. Tudo isso coincide.
D. Pedro Iº, muito novo, corre para Portugal (meses de viagem) onde a Coroa do Reino português está em risco. Derruba o tirano seu irmão,  descendo nas águas do Atlântico a pé, sobre uma praia deserta, sob chuva torrencial, a noite. É, neste sentido, um herói. Morre um ano depois.
Mas deixa aqui como educador de seu filho pessoa civilizada, José Bonifácio e D. Pedro IIº, Imperador do Brasil, com uma regência sob a obrigação do  filho.  Ninguém mais capaz que José Bonifácio,  do qual foi inimigo, mas reconhecia nele valores acima dos que ele próprio havia sido criado.

-A NOBREZA NO BRASIL -

Era direito do imperador, como chefe do poder executivo, conceder títulos e honrarias. Os títulos de nobreza eram, em ascendente:   barãoviscondecondemarquês e duque. Além da posição na hierarquia social, havia outras distinções entre as fileiras: condes, marqueses e duques eram considerados os "Grandes do Império", enquanto os títulos de barões e viscondes poderiam ser agraciados "com Grandeza" ou "sem Grandeza". Todas as posições sociais da nobreza brasileira eram tratadas como "Vossa Excelência", habito que permanece até hoje entre os atuais marginais do Congresso e Judiciário.
Entre 1822 e 1889, 986 pessoas se tornaram nobres. Apenas três se tornaram duques: Augusto de Beauharnais, 2º Duque de Leuchtenberg (como Duque de Santa Cruz, cunhado de Pedro I), Dona Isabel Maria de Alcântara Brasileira (como Duquesa de Goiás, filha ilegítima de Pedro I) e, finalmente, Luís Alves de Lima e Silva (como Duque de Caxias, herói da Guerra do Paraguai). Os outros títulos concedidos foram os seguintes: 47 marqueses, 51 condes, 146 viscondes "com Grandeza", 89 viscondes "sem Grandeza", 135 barões "com Grandeza" e 740 barões "sem Grandeza", resultando em um total de 1.211 títulos nobres. Havia menos nobres do que títulos de nobreza, porque muitos foram elevados mais de uma vez durante a sua vida, como o Duque de Caxias, que foi feito pela primeira vez barão, depois conde, em seguida marquês e, finalmente, foi elevado a duque. Os título da nobreza não se limitavam aos brasileiros do sexo masculinoThomas Cochrane, 10º Conde de Dundonald, um escocês, foi feito Marquês de Maranhão pelo seu papel na Guerra de Independência do Brasil e 29 mulheres receberam doações da nobreza em seu próprio direito, embora não o tendo.
A pequena nobreza, que não tinha títulos, nem tradição, nem cultura, nem erudição era composta por membros das Ordens Imperiais. Havia seis delas: Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus CristoOrdem de São Bento de AvizOrdem Militar de Sant'Iago da EspadaOrdem Nacional do Cruzeiro do SulImperial Ordem de Pedro Primeiro e Imperial Ordem da RosaAs três primeiras tinham graus de honra, além de grão-mestre (reservado apenas para o imperador): cavaleiro e comandante. As três últimas, no entanto, tinham diferentes níveis: a Ordem do Cruzeiro do Sul com quatro, a Ordem da Rosa com seis e a Ordem de Pedro Iº com três.
E o resto.
Era somente resto . (negros libertos, estrangeiros, pobres e dedicados a trabalhos manuais e ao cultivo da terra, comerciantes etc.)
Com o advento da Repúbliaca Constitucional, a partir da Proclamação da República em 1889, houve diversas bases esclarecedoras para a queda do Império. Assim, as versões se explicavam nas tensões relativas ao Estado e a Igreja, as questões militares e republicanas e a abolição da escravatura, que se antecede em um ano em relação à instauração do regime republicano. Partindo desse pressuposto, o texto visa enfatizar as novas versões que se puseram para a queda do Império a partir da década de 30, se configurando num revisionismo .

- NÃO HOUVE QUEDA DO IMPÉRIO –

“A partir de 1930, quando se inaugurou um novo período da vida política do país, a história do Brasil] passou a ser vista de forma inteiramente nova. A crise política de 1929 e a consequente desorganização da economia cafeeira, suporte do Império e da Primeira República, o processo de industrialização, a urbanização com seu cortejo de influências, a ascensão lenta e progressiva da classe média, a formação do proletariado, os progressos do capitalismo industrial modificaram a perspectiva do historiador.” [VIOTTI, 2008, p. 453](Emília Viotti)
Marechal Deodoro estava muito doente, como morreu logo depois, e sob o efeito de malária e febre amarela, febril vai ao palácio em uma carroça e lá monta  um cavalo mais condigno ao momento.
Dizem alguns historiadores que ele gritava: “Viva o Imperador!” e a soldadesca e o povo respondia: “Viva a República!” E assim, nesta confusão o Imperador, que estava fora do Palácio, a “Independência do Brasil foi feita.” Um homem quase morto e um infante ausente.

- CORONELISMO E SEUS FILHOTES -

Coronelismo é um brasileirismo  usado para definir a complexa estrutura de poder que tem início no plano municipal, exercido com hipertrofia privada (a figura do coronel) sobre o poder público (o Estado), - tendo como caracteres secundários o mandonismo, o filhotismo (ou apadrinhamento), a fraude eleitoral e a desorganização dos serviços públicos - e abrange todo o sistema político do país, durante a República Velha. Era representado por lideranças que iam desde o "áspero guerreiro" Horácio de Matos a um letrado Veremundo Soares, possuindo como "linha-mestra" o controle da população. Como forma de poder político consiste na figura de uma liderança local - o Coronel - que define as escolhas dos eleitores em candidatos por ele indicados, e a indicação dos juízes que presidiam as eleições.
E, aqui  prefiro concluir.
Estes filhotes de coronéis, apadrinhados, usando da hipertrofia privada, de um povo pobre e infeliz, são os mesmos que ocupam a
Câmara e o Judiciário em seu poder maior, até hoje. Os nobres foram substituídos pelos cartorários. Os coronéis por eles mesmos e os magistrados pelo auto clero onde nada lhes falta.
Somos esta gosma fétida, uma baba nojenta, onde de longe passa uma pessoa decente e trabalhadora.
J. R. M. Garcia