CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
GOSMA REPUBLICANA
A independência surge neste país de
uma confluência maléfica. Um imperador em guerra, doente, lutando para depor
seu irmão, p qual lhe roubava a coroa em Portugal; um filho de cinco anos
Regente de outro reino que era, também, seu; um general igualmente muito velho
e doente. Tudo isso coincide.
D. Pedro Iº, muito novo, corre para
Portugal (meses de viagem) onde a Coroa do Reino português está em risco.
Derruba o tirano seu irmão, descendo nas
águas do Atlântico a pé, sobre uma praia deserta, sob chuva torrencial, a
noite. É, neste sentido, um herói. Morre um ano depois.
Mas deixa aqui como educador de seu
filho pessoa civilizada, José Bonifácio e D. Pedro IIº, Imperador do Brasil,
com uma regência sob a obrigação do filho. Ninguém mais capaz que José Bonifácio, do qual foi inimigo, mas reconhecia nele
valores acima dos que ele próprio havia sido criado.
-A
NOBREZA NO BRASIL -
Era
direito do imperador, como chefe do poder executivo,
conceder títulos e
honrarias. Os títulos de nobreza eram, em ascendente: barão, visconde, conde, marquês e duque. Além da posição na hierarquia
social, havia outras distinções entre as fileiras: condes, marqueses e duques
eram considerados os "Grandes do Império",
enquanto os títulos de barões e viscondes poderiam ser agraciados "com
Grandeza" ou "sem Grandeza". Todas as posições
sociais da nobreza brasileira eram tratadas como "Vossa Excelência", habito que permanece até hoje
entre os atuais marginais do Congresso e Judiciário.
Entre 1822 e 1889, 986 pessoas se
tornaram nobres. Apenas três se tornaram duques: Augusto de Beauharnais, 2º Duque de
Leuchtenberg (como
Duque de Santa Cruz, cunhado de Pedro I), Dona Isabel Maria de Alcântara Brasileira (como Duquesa de Goiás, filha
ilegítima de Pedro I) e, finalmente, Luís Alves de Lima e Silva (como Duque de Caxias, herói
da Guerra do Paraguai). Os outros títulos concedidos
foram os seguintes: 47 marqueses, 51 condes, 146 viscondes "com
Grandeza", 89 viscondes "sem Grandeza", 135 barões "com
Grandeza"
e 740 barões "sem Grandeza", resultando em um total de 1.211 títulos
nobres. Havia menos nobres do que
títulos de nobreza, porque muitos foram elevados mais de uma vez durante a sua
vida, como o Duque de Caxias,
que foi feito pela primeira vez barão, depois conde, em seguida marquês e,
finalmente, foi elevado a duque. Os título da nobreza não se limitavam aos
brasileiros do sexo masculino: Thomas Cochrane,
10º Conde de Dundonald, um escocês,
foi feito Marquês de Maranhão pelo seu papel na Guerra de Independência do Brasil e 29 mulheres receberam doações
da nobreza em seu próprio direito, embora não o tendo.
A pequena nobreza, que não tinha
títulos, nem tradição, nem cultura, nem erudição era composta por membros das Ordens Imperiais. Havia
seis delas: Imperial Ordem de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Ordem de São Bento de Aviz, Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, Imperial Ordem de Pedro Primeiro e Imperial Ordem da Rosa. As três primeiras tinham graus de
honra, além de grão-mestre (reservado apenas para o imperador): cavaleiro e
comandante. As três últimas, no entanto, tinham diferentes níveis: a Ordem do
Cruzeiro do Sul com quatro, a Ordem da Rosa com seis e a Ordem de Pedro Iº com
três.
E
o resto.
Era
somente resto . (negros libertos, estrangeiros, pobres e dedicados a trabalhos
manuais e ao cultivo da terra, comerciantes etc.)
Com o advento da Repúbliaca
Constitucional, a partir da Proclamação da República em 1889, houve diversas
bases esclarecedoras para a queda do Império. Assim, as versões se explicavam
nas tensões relativas ao Estado e a Igreja, as questões militares e
republicanas e a abolição da escravatura, que se antecede em um ano em relação
à instauração do regime republicano. Partindo desse pressuposto, o texto visa
enfatizar as novas versões que se puseram para a queda do Império a partir da
década de 30, se configurando num revisionismo .
- NÃO HOUVE QUEDA DO
IMPÉRIO –
“A partir de 1930, quando se inaugurou um novo período da vida política
do país, a história do Brasil] passou a ser vista de forma inteiramente nova. A
crise política de 1929 e a consequente desorganização da economia cafeeira,
suporte do Império e da Primeira República, o processo de industrialização, a
urbanização com seu cortejo de influências, a ascensão lenta e progressiva da
classe média, a formação do proletariado, os progressos do capitalismo
industrial modificaram a perspectiva do historiador.” [VIOTTI, 2008, p.
453](Emília Viotti)
Marechal Deodoro estava muito doente, como
morreu logo depois, e sob o efeito de malária e febre amarela, febril vai ao palácio
em uma carroça e lá monta um cavalo mais
condigno ao momento.
Dizem alguns historiadores que ele gritava:
“Viva o Imperador!” e a soldadesca e o povo respondia: “Viva a República!” E
assim, nesta confusão o Imperador, que estava fora do Palácio, a “Independência
do Brasil foi feita.” Um homem quase morto e um infante ausente.
- CORONELISMO E SEUS FILHOTES -
Coronelismo é um brasileirismo usado para definir a complexa
estrutura de poder que tem início no plano municipal, exercido com hipertrofia privada (a
figura do coronel) sobre o poder público (o Estado), - tendo como caracteres
secundários o mandonismo, o filhotismo (ou apadrinhamento),
a fraude eleitoral e a desorganização dos serviços públicos - e abrange todo o
sistema político do país, durante a República Velha. Era representado por lideranças que iam desde o "áspero
guerreiro" Horácio de Matos a um letrado Veremundo Soares, possuindo como
"linha-mestra" o controle da população. Como forma de
poder político consiste na figura de uma liderança local - o Coronel -
que define as escolhas dos eleitores em candidatos por ele indicados, e a
indicação dos juízes que presidiam as eleições.
E, aqui prefiro concluir.
Estes filhotes de
coronéis, apadrinhados, usando da hipertrofia privada, de um povo pobre e
infeliz, são os mesmos que ocupam a
Câmara e o Judiciário
em seu poder maior, até hoje. Os nobres foram substituídos pelos cartorários.
Os coronéis por eles mesmos e os magistrados pelo auto clero onde nada lhes
falta.
Somos esta gosma fétida,
uma baba nojenta, onde de longe passa uma pessoa decente e trabalhadora.
J. R. M. Garcia