CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
CAMINHOS DE DEUS
Estou certo de que muitos -a maioria quase absoluta- haverá de
considerar-me louco ou diletante nesta sugestão sobre os “caminhos de
Deus”. Pois que assim o seja, mas já não vejo como não assumir um paralelo
entre ciência e religião.
O ser humano vem, por milhares de séculos,
no desejo de encontrar Deus. Desde religiões enlouquecidas até as pregações
mais brandas. Vai do sacrifício da vida humana a animais e muitas outras
fórmulas exóticas, quando não inteiramente safadas, o que às vezes acontece
também na ciência.
Esquecendo por alguns instantes o
caminho das religiões e olhando a História da Ciência, as religiões ficaram
estáticas, enquanto a ciência criou verdades irrefutáveis descortinando novos
horizontes.
Galileu,
Newton e Laplace, introduziu lá no passado algumas das bases da metodologia científica, presos à simplicidade da obtenção de modestos
resultados.
Henri Poincaré em 1880 viu a impossibilidade
de resolução das equações diferenciais não lineares, na busca das leis da
uniformidade e da unificação dos sistemas físicos. Desanimou.
Einstein e Paul Langevin,
bucam no início do século XX,
meios capazes utilizados para descrever e entender fenômenos meteorológicos,
crescimento de populações,
variações no mercado financeiro e até movimentos de placas tectônicas, entre
outros. É, enfim, o que chamaram "efeito borboleta",
teorizado pelo matemático Edward Lorenz,
em 1963.
Segundo aquela metodologia, a ciência
continuou gradualmente a sua expansão em direção à determinação das realidades
físicas, mas absurdamente longe de uma factibilidade prática.
Normalmente este efeito é ilustrado
com a noção de que o bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre[JG1] ,
pode provocar uma tormenta no outro extremo, no intervalo de tempo de semanas.
Até a década de 1980, os físicos
defendiam a tese de que o universo era governado por leis precisas
e estáticas, portanto os eventos nele ocorridos poderiam ser previstos. Porém a
teoria do caos mostrou que certos eventos universais podem ter ocorrido de modo
aleatório. Caíram no que estava mais próximo com os Atratores e Fractais
Ambos extremamente complexos para serem
cuidados aqui.
Depois Stephen Hawking, descobriu o
que pretensiosamente nominou “a partícula de Deus”, tal seja, a energia que transformou
matéria em uma partícula no aparelho acelerador tubular, CERN (Organisation Européenne pour la
Recherche Nucléaire).
Agora, semana finda, vendo a explosão
de 570 bilhões de sois em um único segundo, é de espantar. Imagine uma explosão que brilha com a energia
de 570 bilhões de vezes maior do que o Sol. É de 10 a 20 vezes maior que o
total emitido por todas as estrelas da Via Láctea juntas. Foi o que permitiu
sua detecção imediata, mesmo a uma distância de 3,8 bilhões de anos-luz de
nosso planetinha.
Esta semana prova-se a detecção das
"ondas" magnéticas, o fenômeno foi previsto há 100 anos. Nesta semana,
pesquisadores anunciaram esta descoberta fantástica e complicada. Eles
detectaram ondulações no tecido que forma o universo. Um fenômeno que foi
previsto por Einstein há cem anos e que
abre uma nova Era para a astronomia. O que os pesquisadores do projeto Ligo
(Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) encontraram
essencialmente foram "distorções no espaço e no tempo" causadas por
um par de objetos com massas imensas interagindo entre si. O espaço, que para
Newton era plano é, agora, vago e dependente de fenômenos de “ondas
gravitacionais”.
Pergunto-me: a Ciência caminhou e as
religiões hoje em vigor no mundo?
Ficaram paradas, buscando a assertiva
de um ato de fé, seguindo rituais alguns estranhos, outros tolos e inócuos,
porém todos teatrais.
Dentro da busca científica, tudo no
universo demonstra uma evolução lógica trabalhosa em busca de padrões em
determinação de um campo racional, tanto em enormes grandezas como em diminutas
grandezas.
E onde isso leva?
Leva a uma Lei universal única ou
múltipla, capaz de trazer Deus aos corações de todos nós, apontando nossa
insignificância frente ao universo sem preocupações éticas, balizando em
eventualidades provadas, na crença que Deus mesmo pode gerir-se sem o ser
humano, seja este de que forma for.
Santo Agostinho, em um lapso de
luz, lá nos 200 anos a.C., vê a graça
como um ato de vontade que, independe do bem e do mau, gera infelizes e felizes
sem qualquer preocupação moral, ética ou anímica, a causal ou motivada. Chegou
perto, mas longe demais de uma realidade tal qual quase dois mil anos passaram.
Procure Deus em seu ato de fé. Ele
pode estar ai, mas busque seu entendimento na Ciência, onde luz especial alguma
existe, apontando seu caminho e saiba que, com seu amor a Êle, somente pode
servir à sua solidão. Ele é uma causa
incausada. Talvez uma Lei que sequer saiba que existe, mas que gere o mais
ínfimo átomo a bilhões de sois.
Mas, é claro, faça o melhor que puder
de sua fé.
Mas a Ciência é “caminho de Deus”.
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>