CRÔNICAS E CONTOS(Borges e Garcia)
TUDO PARA O TP
Zica, tuberculose,
subnutrição, esgotos a céu aberto, lepra, verminose dentro da barriga dos
ricos, uma miscelânea de pobres, ricos ainda misturadas a outros seres da
origem da pedra, álcool, prostitutas em todas esquinas por fome, miséria,
desespero, dívidas.
Gente!
Façamos como o Imperador do
Acré, Galvez. Entreguemos isso ao PT. Quando todos eles desistirem da lepra que
estão implantando, devolverão os destroços. Talvez, aí, possamos fazer alguma
coisa. Tentar criar uma nação.
Há muito tempo assisti a um
filme que narrava amazonenses do neolítico tentando adentrar à
sociedade de consumo. Os fatos reais se deram nesta horrível tarefa. O Acre,
que fora durante todo o período colonial um Estado separado do Estado
do Brasil, atravessou a séria crise de sua anexação ao Brasil e de
revoltas contra o poder do Rio de Janeiro e/ou contra a desigualdade social,
contra os costumes onde padeciam sobretudo os negros e os indígenas.
Publicado pela primeira vez
em 1976, o romance de estreia de Márcio Souza, Galvez, Imperador do Acre,
é considerado pela crítica uma obra que inaugura um novo momento no que tange à
narrativa brasileira. Em que as cenas são descontínuas tendo em vista a simultaneidade
das ações, a obra em questão é dotada de uma linguagem telegráfica calcada em
pequenos quadros que remetem a cenas e tomadas de um filme.
É confuso os fatos como a
obra.
Ela sumiu.
A
coroação bufa, que aparece em toda sua plenitude quando na trama se acompanha a
conquista do Acre por parte de Luiz Galvez e sua tropa revolucionária. O ponto
alto do feito histórico/histriônico é cerimônia de coroação do espanhol como
imperador daquelas terras, regada por muitas bebidas alcoólicas, com inúmeras orgias
acontecendo e toda uma série de eventos desestabilizadores da ordem que
concomitantes resultam na dissolução de qualquer hierarquia instituída. Do
mesmo modo, seu posterior destronamento contém todos os mesmos elementos da
solenidade entronizadora. E tal como um legítimo rei bufo de um festejo
carnavalesco no momento de sua deposição, Luiz Galvez sofre também a humilhação
da retirada em plena praça pública e tem suas vestes reais despojadas ali
mesmo. Encerra-se com isso o ciclo vital daquele universo carnavalizado,
passando então a vigorar uma nova ordem das coisas com a retomada do controle
militar e político do Acre por parte dos bolivianos.
Veja este diálogo entre
Juno e Flora:
“Ouçam uma orquestra de quinze músicos cansados a
executarem numa madrugada de domingo a Tritschtratsch, polca de Strauss dentro da Câmara Municipal.
Galvez – Uma casa seleta.
Trucco – Um caralho de conselho municipal.
Galvez – Me parece o paraíso.
Trucco – Será que as meninas não querem beber?
Uma cocotte – Oui, mon copain...
Outra cocotte – Champanha, sim...
[...]
Galvez – Madre de Dios!
Trucco – Aqui a história se faz nos bordéis.
Galvez – É história sagrada...
Trucco – De políticos e ricos de bosta. (SOUZA, 1998, p. 20)
“Morriam no Acre,
anualmente, oito crianças entre vinte, nos primeiros dias de vida. 20% da
população ativa sofria de tuberculose. 15% de lepra. 60% estava infectada de
doenças típicas de carência alimentar. 80% da população não era alfabetizada.
Não havia médicos no Acre. Um quilo de café custava 0$20. 40% da borracha fina
do Amazonas vinha do território acreano. (SOUZA, 1998, p. 82, 154).”
Esta era a realidade.
Hoje Lula, um bufão
despreparado mesmo para a peça que quer representar, mais toda administração
sua e de seus asseclas, pretendeu jogar o país frontalmente de testa com a sociedade
moderna.
É uma desgraça quando temos
ainda índios que na tem a noção de números, de quantidades, como fez publicar a
revista Época. E estas vítimas estão envolvidas em uma sociedade de consumo
onde cartões de crédito pretende serem usados.
E isso vai de A a Z. Tudo
igual.
Zica, tuberculose,
subnutrição, esgotos a céu aberta, lepra, verminose dentro da barriga dos
ricos, uma misselânia de pobres, ricos ainda misturadas a outros seres da
origem da pedra, álcool, prostitutas em todas esquinas por fome, miséria.
Gente!
Façamos como o Imperador do
Acré, Galvez. Entregou bêbado tudo à República. Entreguemos isso ao PT.
Quando todos eles desistirem da lepra que estão implantando devolverão os
destroços. Talvez. Aí, possamos fazer alguma coisa. Tentar criar uma
nação.
Tentem ser felizes.
J. R. M.Garcia