CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
"CONDUÇÃO COERCITIVA"
Eram
quatro horas da manhã.
Ela
levantou, tomou um banho rápido, andou uns quatro quarteirões a pé e mergulhou
em uma fila onde, espremida dentro de um vagão semelhantes aqueles que
conduziam os judeus, ela desceu -o dia já amanhecendo- correu pela plataforma
como animais para um ônibus e nele adentrou, sacolejando de pé, dependurada. A
uma distância de aproximadamente quinhentos metros, sob uma chuva agora
torrencial, entrou em um prédio.
Havia
sido bolinada espremida, encouchada e até beijo na nuca, durante a longa
travessia de quatro horas entre o trem, o metrô e a corrida para a casa para ir
trabalhar.
E na
volta seria a mesma coisa.
Isso
me fez lembrar Felipe da Macedônia, ao visitar pela primeira vez, com
Alexandre, seu filho, as minas de onde
extraia material ferroso. Vendo aquele horror, onde as pessoas somete
trabalhavam, comiam, dormiam e o resto era puro sofrimento.
Alexandre
perguntou:
--Pai ! Que
crime eles cometeram para viver este inferno?
--Seu crime
Alexandre, foi de terem nascido.
Silêncio.
Nenhuma
resposta.
Desta
imagem Alexandre jamais esqueceu e teve pesadelos com ela ao longo de sua curta
vida.
Humilhante
ao escravocrata e desgraçante ao escravo.
O
escravo sem esperança, sem fé, sabendo resignado que morrerá ali naquelas
condições. Humilhante para quem os escraviza, sabendo que de seu suor e seu
sangue extrai, entre suspiros de dor, seus proventos.
Isso
ocorre todos os dias aos milhões de pessoas que trabalham nas grandes capitais,
vendo os grandes templos do futebol e das olímpias serem erguidos.
E
agora vem Lula, este marginal, jactar-se de que cobra os preços mais altos por
conferências pagas pelos que com ele negociam vantagens, dando uma de gostosão,
dizendo que foi levado em “condução coercitiva”.
Este
homem é um ser abjeto, uma marginal juntamente com sua malta de bandidos.
J.
R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>