terça-feira, 8 de março de 2016

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) = "CONDUÇÃO COERCITIVA" =

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)

"CONDUÇÃO COERCITIVA"


Eram quatro horas da manhã.
Ela levantou, tomou um banho rápido, andou uns quatro quarteirões a pé e mergulhou em uma fila onde, espremida dentro de um vagão semelhantes aqueles que conduziam os judeus, ela desceu -o dia já amanhecendo- correu pela plataforma como animais para um ônibus e nele adentrou, sacolejando de pé, dependurada. A uma distância de aproximadamente quinhentos metros, sob uma chuva agora torrencial, entrou em um prédio.
Havia sido bolinada espremida, encouchada e até beijo na nuca, durante a longa travessia de quatro horas entre o trem, o metrô e a corrida para a casa para ir trabalhar.
E na volta seria a mesma coisa.  
Isso me fez lembrar Felipe da Macedônia, ao visitar pela primeira vez, com Alexandre,  seu filho, as minas de onde extraia material ferroso. Vendo aquele horror, onde as pessoas somete trabalhavam, comiam, dormiam e o resto era puro sofrimento.
Alexandre perguntou:
--Pai ! Que crime eles cometeram para viver este inferno?
--Seu crime Alexandre, foi de terem nascido.
Silêncio.
Nenhuma resposta.
Desta imagem Alexandre jamais esqueceu e teve pesadelos com ela ao longo de sua curta vida.
Humilhante ao escravocrata e desgraçante ao escravo.
O escravo sem esperança, sem fé, sabendo resignado que morrerá ali naquelas condições. Humilhante para quem os escraviza, sabendo que de seu suor e seu sangue extrai, entre suspiros de dor, seus proventos.  
Isso ocorre todos os dias aos milhões de pessoas que trabalham nas grandes capitais, vendo os grandes templos do futebol e das olímpias serem erguidos.
E agora vem Lula, este marginal, jactar-se de que cobra os preços mais altos por conferências pagas pelos que com ele negociam vantagens, dando uma de gostosão, dizendo que foi levado em “condução coercitiva”.
Este homem é um ser abjeto, uma marginal juntamente com sua malta de bandidos.
J. R. M. Garcia.

<martinsegarcia@uol.com.br>