quinta-feira, 7 de abril de 2016

NOITE ILUMINADA (Borges e Garcia)

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)





Hoje os caminhos já não existem, as estradinhas de terra das fazendas  acabaram, os pastos  desapareceram, as casas dos peões foram todas convertidas em canavial.
Isso faz tempo.
Era uma noite escura. Escura como poucas. Mas ao longe vinha um odor de terra molhada, como se em algum lugar próximo estivesse chovendo ou chovido.
Eu ia para a fazenda, que era perto, guiando uma camionetazinha velha, mas bem tratada, de meu pai.
Isso podia ser por volta das nove horas da noite. Ia só.
Teria de passar um córrego que, por receio de atolar, teria de cruzá-lo em uma pinguela (madeira amarrada entre si de forma a meio equilibrarmos sobre ela). Parei antes da descida para o córrego e deixe longe do atoleiro o veículo.
Fui descendo a pé. Estava com muita pressa, pois tinha de voltar logo.
Quando vi, de repente, como se surgisse do nada, de todos os locais, por toda parte, voando baixo como se forrasse o chão muito mais de milhares de vaga-lumes. Dava para enxergar o caminho. As mãos enchiam de vagalumes.
Parei. Assustei. Nunca vira aquilo. E nunca mais vi.
Coincidência ou não olhei o céu. Estava cravejado de estrelas. Pensei ainda:
---Estrelas na terra e no céu !
A noite não era mais escura.
Eu senti.
Já podia ir agora com calma buscar os peões: meu pai acabara de deixar a vida agônica para dormir o sereno sono dos mortos.  
Não havia mais pressa.
         J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>