CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
Hoje os caminhos já não existem, as
estradinhas de terra das fazendas
acabaram, os pastos desapareceram,
as casas dos peões foram todas convertidas em canavial.
Isso faz tempo.
Era uma noite escura. Escura como
poucas. Mas ao longe vinha um odor de terra molhada, como se em algum lugar
próximo estivesse chovendo ou chovido.
Eu ia para a fazenda, que era perto,
guiando uma camionetazinha velha, mas bem tratada, de meu pai.
Isso podia ser por volta das nove
horas da noite. Ia só.
Teria de passar um córrego que, por
receio de atolar, teria de cruzá-lo em uma pinguela (madeira amarrada entre si
de forma a meio equilibrarmos sobre ela). Parei antes da descida para o córrego
e deixe longe do atoleiro o veículo.
Fui descendo a pé. Estava com muita
pressa, pois tinha de voltar logo.
Quando vi, de repente, como se
surgisse do nada, de todos os locais, por toda parte, voando baixo como se
forrasse o chão muito mais de milhares de vaga-lumes. Dava para enxergar o
caminho. As mãos enchiam de vagalumes.
Parei. Assustei. Nunca vira aquilo. E
nunca mais vi.
Coincidência ou não olhei o céu.
Estava cravejado de estrelas. Pensei ainda:
---Estrelas
na terra e no céu !
A noite não era mais escura.
Eu senti.
Já podia ir agora com calma buscar os
peões: meu pai acabara de deixar a vida agônica para dormir o sereno sono dos
mortos.
Não havia mais pressa.
J.
R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>