terça-feira, 31 de maio de 2016

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) = GORILA MORTO A TIROS ENJAULADO =


CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)  


GORILA MORTO A TIROS ENJAULADO

Isso faz muito tempo. Nem sei se meu sobrinho, Creso, ainda se lembra do ocorrido. Eu ainda me recordo e creio que o curral fosse o antigo de nossa fazenda, com lascas de aroeira fincadas em pé. Lúgubre. Todo cercado de denso madeirame alto e bastante grande. As únicas porteiras eram duas. Uma de saída e outra de entrada. O acesso a aquels espécie de engradado eram estas porteiras. Do contrário, o que lado dentro se via eram por frestas da cerca ou por estas porteiras.
Eu não sei a espécie de lida que lá estavam fazendo. Talvez passando o gado no tronco, apartando vacas e bezerros. O gado não era manso, pois os dois peões estavam a cavalo.
De repente meu sobrinho pequeno (três anos quando muito) entra no curral debaixo da porteira e no meio do gado  corre em direção ao tronco, onde estavam os bezerros.
Outra não deu. As vacas -algumas-  galopam em direção a ele para afastá-lo dali com os chifres abaixados. Eu, um moleque, pulo a porteira e, sem nem uma vara na mão, interponho-me brrando na disposição de levar a chifrada primeira entre ele é uma vaca mais disposta que ia apanhá-lo em cheio. Ela chegou a uns três metros de mim e partiu para o lado.
Nesta altura, pelos meus gritos e a movimentação do gado, os peões interceptaram e levaram os animais para o outro canto do curral para que, correndo, escapássemos em direção a porteira. Ele, meu sobrinho, já em meus braços.
Levei de meu pai um terrível puxão de orelha pelo ocorrido.
Esta ideia veio-me quando  um gorila, preso na selva, trazido para o cativeiro, ali trancado em um pequeno espaço,  é abatido a tiros pelos funcionários de um zoológico.
Será que precisariam tanto? Será que com gritos e uma vara não poderiam tê-lo afastado da criança? Será que a covardia, o medo e o comodismo não achou mais fácil mata-lo? Será que as intenções do gorila com a criança fossem de fato maltratá-la?
Este mundo de um fato estou certo: está cada dia mais covarde e medroso.
J. R. M. Garcia.