terça-feira, 13 de setembro de 2016

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) = "DESORAR" =

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)

"DESORAR"

 

     Não creio que Bento XVI lesse esta crônica. Mas tenho certeza que Papa Francisco adoraria rindo as gargalhadas.
    Isso se tal fato fosse possível, o que é absolutamente in-conjecturável. 
     Bento XVI (coitado !) foi criado dentro de uma biblioteca entre escritos, publicações e pesquisas teológicas de alto nível. 
Já Francisco foi porteiro de boate, onde o "o pau comia" da meia noite ao amanhecer e testemunha disso é Mujica, o ex-presidente do Uruguay que, também, rodava por lá como frequentador dançarino de tango. São amigos até hoje. 
   Mas não procurem esta palavra "desorar" (aquele que aprendeu a não orar) nos dicionários.       
       Ela não existe. Foi feita agora.
       Como fui eu quem a criou posso dar-lhe a interpretação que desejar, não é?
       Fiquei quatro anos entre os jesuítas e fui muito amigo de um deles. Um Santo. Viril, ótimo orador, cumpridor de seus deveres, capaz de autocrítica pesada e, também, para com sua Ordem. Nessa crítica era até corajoso demais. Morreu sem tomar morfina, porque este -acreditava-  fosse seu Destino, apesar de dores lancinantes.
     E ali tentaram fazer de mim um "desoreiro" . As seis da manhã, com frio, sol ou chuva já estava de joelhos na capela orando, ao meio dia outra oração conjunta, (imagine 300 alunos rezando em voz alta), as sete orações finais do dia e depois, o jantar. Nos dias especiais a tal Via Sacra (um horror!) e mais missas e missas, e missas. Procissões...que tristeza...
     Eu tinha uma namoradinha, a primeira de minha vida, que nas missas flertava com ela. Isso aliviava o mesmismo.
      Mas mesmo apesar disso tudo não fizeram-me desistir de Deus. Empenharam, mas não conseguiram.
      Hoje entendi. A oração depende apenas da alma. Na morte e na vida se reza. Basta uma prece muda, um olhar de piedade para um cão, uma certeza e uma dúvida, desde que exista o amor, é uma oração forte a Deus. De alguma forma, a palavra é desnecessária, mas não o sentir, este é essencial e único. Os gestos, os locais são tolices. Entre dois ladrões um clama ao céu e é atendido e outro, sendo seu próprio amado Filho, não lhe é concedida a graça de seu corpo despedaçado em dores, porque estas eram as palavras das Escrituras e estas são os Destinos. 
     Enfim, não conseguiram tirar-me a fé.
     Tenham uma ótima semana.
     J|. R. M. Garcia.