sábado, 19 de novembro de 2016

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) =HISTÓRIA DE ANA=


HISTÓRIA  DE  ANA
  Não é uma história bonita. Não. É a narrativa objetiva da espécie de uma lenda. Milagrosa, certamente.

Ana, que é gaúcha, conheceu o paranaense Renato em Florianópolis. Em fevereiro de 2013   começaram a namorar. Terapeuta, ela foi convidada pelo novo namorado para trabalhar em seu “spa”, em Curitiba. Alegremente aceitou. Ajudaria a família e seu filho.
Conta ela:
 "Ele foi me buscar na rodoviária e, depois, sumiu por uns três dias. Quando voltou, primeiro, disse que ia fazer uma massagem em mim, quando na verdade ele era quem dizia-se cansado.”
Começam as desgraças para Ana.
Ele adia apresentar-lhe o dito “spa”. Ao final, o que ela descobre, é que ele usava drogas. Foi estuprada por êle mais de uma vez, diz ela no processo. Foi trancada no quarto onde ele morava, sob ameaça de que, se queixasse, mataria seu filho em Florianópolis.
Ana descobriu que o “spa” de Renato era, na verdade, uma casa de prostituição. Ele ganhava dinheiro transformando massoterapeutas em "terapeutas sexuais" e fez o mesmo com ela, a qual passou a ser agredida e estuprada também por outros homens. Ela passa ser  mantida acorrentada dentro do quarto e ficava sem comer por vários dias.
Após estes fatos, o caso foi denunciado via “clientes” com pena dela, à polícia paranaense, mas o prostíbulo continuou aberto.
Ela consegue, finalmente, fugir e volta a Florianópolis -vias ônibus municipais- tentando proteger o filho, o qual ele jurara matar.
Cercou a casa de sua família por cerca elétrica, mas o meliante sempre perseguindo-a. Trocara a detenção do marginal, pela prisão de sua casa onde mantinha o filho sob o pânico de que o tarado viesse a mata-lo.
Somente na 6ª Delegacia de Polícia de Florianópolis, especializada em violência doméstica, ela registrou 20 boletins - três por tentativa de assassinato na frente ao filho e quatro por ameaças de morte.
Ela também requereu à Justiça uma medida protetiva, para impedi-lo de se aproximar, mas foi negada sob alegação de não ter condições de atender.
Na penúltima vez que Renato invadiu sua casa, cerca de dez dias antes do crime, ela resolveu comprar um revólver. No dia 16 de novembro, quando ouviu o agressor forçando o portão, correu e buscou a arma calibre 32, escondida embaixo do colchão.
Atirou 12 vezes, acertou nove balas.
Ele ainda resistiu tentando pular a cerca.
Hoje está calmo, recuperado de seus vícios sob uma lápide no cemitério em Curitiba:  
       Renato Patrick Machado de Menezes.
Ela foi absolvida por unanimidade no júri, inclusive com a anuência lúcida do Promotor Andrey Cunha Amorim, que ao final alegou: entendo que ela não tinha mais recursos diante da ineficiência do serviço de proteção à mulher.
Mulheres, armem-se. A Polícia Civil de nada vale.
Parabéns Ana Raquel Santos da Trindade. Vá criar o seu amado filho.
Ahhh!!! Se outras a imitassem.

J. R. M. Garcia