sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

FOI ASSIM (CRÔNICAS E CONTOS)



FOI  ASSIM 
 
 VAGA-LUMES
 
Hoje os caminhos já não existem, as estradinhas de terra das fazendas  acabaram, os pastos  desapareceram, as casas dos peões foram todas convertidas em canavial.
Isso faz tempo.
Era uma noite escura. Escura como poucas. Mas ao longe vinha um odor de terra molhada, como se em algum lugar próximo estivesse chovendo ou chovido.
Eu ia para a fazenda, que era perto, guiando uma caminhonetezinha velha, mas bem tratada, de meu pai.
Isso podia ser por volta das nove horas da noite. Ia só.
Teria de passar um córrego que, por receio de atolar, iria  cruzá-lo em uma pinguela (madeira amarrada entre si de forma a meio equilibrarmos sobre ela). Parei antes da descida para o córrego e deixe longe do atoleiro a caminhonete.
Fui descendo a pé. Estava com pressa, pois tinha de voltar logo.
Quando vi, de repente, como se surgisse do nada, de todos os locais, por toda parte, voando baixo como se forrasse o chão muito mais de milhares de vaga-lumes. Dava para enxergar o caminho. As mãos enchiam de vaga-lumes.
Parei. Assustei. Nunca vira aquilo.
Coincidência ou não olhei o céu. Estava cravejado de estrelas. Exclamei:
---Estrelas na terra e no céu !
A noite não era mais escura.
Já podia ir agora com calma buscar os peões: meu pai acabara de deixar a vida. Não havia mais pressa.
J. R. M. Garcia.