quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

TRÊS RAÇAS TRISTES (CRÔNICAS E CONTOS)

(CRÔNICAS E CONTOS)
 

TRÊS RAÇAS TRISTES

OS NAVIOS DE BRINQUEDO DE CABRAL

 
      Esta é a composição dos arquétipos que nos gerou. Sei lá que mão pesada do destino assim nos desditou.
      Quando se vê nas palavras de Camões, corta no fundo da alma o momento triste das pequenas naus deixando o Tejo e singrando as ondas do Atlântico.

“Por águas nunca d'antes navegadas, em velas altaneiras no branco dos azuis mares elas vão...Naves sem rumos e sem destinos...queda longe a pátria amada, famílias que vão distantes....
Navegam eles e distanciam da pátria.
Eles vão, a terra gira, o sol passa, a noite vem, as estrelas já não são as mesmas e a quilha sempre cortando os mares.”

       Por quê uma nação tão pequenina ousa nos mares, carrega seus navios e lança no ermo de loucura a felicidade destas criaturas rumo ao nada?
E aqui assusta e desaloja o pobre índio, que descansado vivia feliz há dez mil anos ou mais?

       Por quê?
PORÃO DOS NAVIOS NEGREIROS


E mais tarde comete a suprema loucura e covardia  com a escravidão aqui implantada. Sandice maior não poderia.
Convertemo-nos em preguiçosos na estiva destes miseráveis negros que, de fato, desbravaram o Brasil.
Nas palavras de Castro Alves:



“Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? 
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes.... 
                                                     
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Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmãs                                           
Venderam seu irmão.
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Negras mulheres, suspendendo às tetas  
Magras crianças, cujas bocas pretas  
Rega o sangue das mães:  
Outras moças, mas nuas e espantadas,  
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!  
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Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!”
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           Vê-se nitidamente o desespero do poeta.
Morre aos 22 anos de tuberculose. Muitos de seus colegas morreram também de tristeza e desesperança neste chão. 
Com o trabalho escravo aprendemos a desacreditar do trabalho manual, físico e nossos jovens procuram os "canudos" para se apropriarem dos melhores cargos da nação. Tornamo-nos preguiçosos enfim.
E aqui a escravidão foi menos que uma conquista -tal era a miserabilidade dela mesma por tangível pressão dos escravocratas- sendo que os escravos  foram reduzidos a mendicância. No Estados Unidos uma revolução violenta e fratricida de quatro anos quase dizimou o país. 
Assim convertemo-nos ou somos um país oriundos de três raças tristes e sem esperança.
J. R. M. Garcia.