"VOOZINHO" (CRÔNICAS E CONTOS)
VOOZINHO
2.017
Eita-voozinho canseira!
Começou antes de começar.
Coisinha curta. Tanto o voo como o tamanho do avião. Era um
bandeirantes, um bimotor barulhento que levava de 21 a 15 passageiros. Era
usado pela TAM. Hoje já não o fazem
mais. Voava, penso eu, entre 3.000 e 5.000 mts de altura.
O voo era Ribeirão Preto para São Paulo. E para o lado de São Paulo
estava escuro como breu. O céu já parecia noite, embora ainda não fosse.
Estes aviõezinhos não tinha porta separando a cabine dos dois pilotos.
Era uma cortina.
Embarcamos e fui logo para a cabine grilar do perigo de voar como
estava o tempo, já que no aeroporto (campo de aviação, melhor dizendo) o vento da terrível borrasca balançava no solo
o pequeno avião.
A resposta veio aos gritos:
--Temos
horário a cumprir....Volte e sente.
Bem. Fiquei calado.
E lépido e fagueiro -se se pode assim dizer de máquinas- o aviãozinho
ergueu-se como uma pluma no ar.
Uns cinco minutos depois começou a pular mais que cavalo.
--Amarrem os
cintos.
Não precisava, já que a bagagem de mão caia na cabeça de todos indo
para o chão e ninguém catava. Não tinha aeromoça.
E a coisa foi aos pulos. Descia como uma queda brusca e subia ainda
mais rápido.
Depois de Jundiaí, pegamos uma chuva de pedra que, batendo nas latas da cabine asas,
parecia que estávamos sendo metralhados.
--Que isso !
Estamos caindo?
--Volte,
sente e cale a boca.
Eu nunca tinha visto chuva de pedra em voo. Um horror!
O piloto somente não me veio dar uns tapas porque estava no manche.
E agora, quando vejo nuvens no céu de 2.017 e penso neste voozinho,
fico a tremer.
Será que pulará muito ou vamos para o chão?
No céu as nuvens são densas, escuras e pesadas.
Mas, vamos com Deus.
J. R. M. Garcia.