DIABÓLICO RESULTADO
Quatro horas da manhã. Mini rodoviária de Ribeirão Preto. Uma taxista
cochilando é acordado por mim em busca de levar-me em uma “corrida longa” -
segundo ele - para o outro lado da
cidade.
Até para terminar de acordá-lo entabulei conversa.
--Como vai a
vida?
Ele despertou como se cutucado na costela.
--Péssima. Um
horror. Imagina o senhor que esta semana vão passar em Brasília uma lei
autorizando o UBER. Isso será o fim dos táxis. Eles não querem pagar impostos e
nós sobrecarregados de taxas e tarifas por todos os lados, fiscalizados de todo
jeito. Veja. Fico aqui na espera de pegar uma corrida as cinco horas da manhã
para o aeroporto. Há outros na fila. Não pego e volto para casa com quarenta
reais no bolso. Faço isso tem trinta anos. Não aguento mais.
A madrugada estava fria. Pensei naquele homem ali, desamparado, sem
proteção senão a de Deus.
E ele continuou a queixar.
--Sabe? O
Brasil foi até que bom quando comecei aqui. Éramos poucos, a cidade era pequena
e conhecíamos uns aos outros. Agora não sei quem é quem. Nem sei se meu
companheiro é conhecido e não podemos confiar. Medo de assaltos, falta de
companheirismo e tudo vai por aí...
Chamei-o para tomar um café, pois
havia algumas conveniências abertas. Ele aceitou. Insisti para que ele comesse
algum salgado, o que ele recusou dizendo: “Estou muito cansado...se como alguma
coisa o sono me derruba...e não consigo a corrida para o aeroporto.”
Continuamos.
E ele arriscou falar-me de uma piada
sutil e emblemática.
Contou.
--É como a
roça de um sujeito. O gato viu uma ratoeira armada para pegar ratos e avisou a
galinha, ao cabrito e a vaca. Ninguém se preocupou, pois todos animais de
grande porte não se dariam a cautela de preocupar com os demais pequeninos.
Nunca cairiam em uma ratoeira. Deu-se que a mulher do dono do sítio pegou uma
cobra na dita ratoeira. Foi picada e adoeceu gravemente. A galinha foi morta no primeiro dia para fazer
um caldo para a mulher que estava doente. Mas ela morreu mesmo assim. Vieram
todos familiares para acompanhar o funeral e o cabrito foi morto para
alimentar os parentes e, por fim, a vaca foi morta e vendida para os vizinhos
para pagar o enterro da falecida. Todos ao final foram mortos. Essa é nossa
desgraça -completou ele- . Parece que ninguém acorda. No fim seremos todos mortos grandes e
pequenos.
Enfim todos mortos. Não nos falamos
mais até o final da “corrida”, pensando no diabólico resultado da historinha que
este humilde servidor contara.
Bom fim de semana.
J. R. M. Garcia.