quinta-feira, 6 de abril de 2017

DIABÓLICO RESULTADO (CRÔNICAS E CONTOS)

DIABÓLICO   RESULTADO 

 


Quatro horas da manhã. Mini rodoviária de Ribeirão Preto. Uma taxista cochilando é acordado por mim em busca de levar-me em uma “corrida longa” - segundo ele -  para o outro lado da cidade.
Até para terminar de acordá-lo entabulei conversa.
--Como vai a vida?
Ele despertou como se cutucado na costela.
--Péssima. Um horror. Imagina o senhor que esta semana vão passar em Brasília uma lei autorizando o UBER. Isso será o fim dos táxis. Eles não querem pagar impostos e nós sobrecarregados de taxas e tarifas por todos os lados, fiscalizados de todo jeito. Veja. Fico aqui na espera de pegar uma corrida as cinco horas da manhã para o aeroporto. Há outros na fila. Não pego e volto para casa com quarenta reais no bolso. Faço isso tem trinta anos. Não aguento mais.
A madrugada estava fria. Pensei naquele homem ali, desamparado, sem proteção senão a de Deus.
E ele continuou a queixar.
--Sabe? O Brasil foi até que bom quando comecei aqui. Éramos poucos, a cidade era pequena e conhecíamos uns aos outros. Agora não sei quem é quem. Nem sei se meu companheiro é conhecido e não podemos confiar. Medo de assaltos, falta de companheirismo e tudo vai por aí...
    Chamei-o para tomar um café, pois havia algumas conveniências abertas. Ele aceitou. Insisti para que ele comesse algum salgado, o que ele recusou dizendo: “Estou muito cansado...se como alguma coisa o sono me derruba...e não consigo a corrida para o aeroporto.”
          Continuamos.
          E ele arriscou falar-me de uma piada sutil e emblemática.
          Contou.
--É como a roça de um sujeito. O gato viu uma ratoeira armada para pegar ratos e avisou a galinha, ao cabrito e a vaca. Ninguém se preocupou, pois todos animais de grande porte não se dariam a cautela de preocupar com os demais pequeninos. Nunca cairiam em uma ratoeira. Deu-se que a mulher do dono do sítio pegou uma cobra na dita ratoeira. Foi picada e adoeceu gravemente.  A galinha foi morta no primeiro dia para fazer um caldo para a mulher que estava doente. Mas ela morreu mesmo assim. Vieram todos familiares para acompanhar o funeral e o cabrito foi morto para alimentar os parentes e, por fim, a vaca foi morta e vendida para os vizinhos para pagar o enterro da falecida. Todos ao final foram mortos. Essa é nossa desgraça -completou ele- . Parece que ninguém acorda. No fim seremos todos mortos grandes e pequenos.
          Enfim todos mortos. Não nos falamos mais até o final da “corrida”, pensando no diabólico resultado da historinha que este humilde servidor contara.
          Bom fim de semana.
          J. R. M. Garcia.