Misericórdia é um vocábulo dos mais antigos na língua portuguesa. Ela é construída de palavras latinas que, somadas, resultam hoje na tradução de uma ideia vaga para os tempos atuais, mas muito expressivos em nossa formação cultural. Poderíamos, analisando a formação da expressão, ver o ajuntamento de muitos conceitos.
Na construção da palavra, existem os termos miseratio, cordia e dare. Miseratio vem do termo miserere, cujo significado é “compaixão”; já cordia vem de cor, que significa coração. Juntos, os termos significam “dar o coração àqueles que são vítimas da miséria”. Assim, a etimologia dos elementos da palavra ajudam a construir a ideia geral do significado de misericórdia.
Isto posto, é um dos raros casos em que etimologia se confunde com significado.
A compaixão é a essência mater da misericórdia. É um profundo sentir daquele que não sofre para o que está sofrendo. É experimentar um sentimento sutil de sentir a dor alheia como se isso fosse possível.
Deste modo, a dor do próximo traz a aquele que a vê semelhante sentir e, neste instante, com-partir em espírito esta dor.
Quantos de nós sentimos semelhante tristeza?
O mais comum é recriminarmos, criticar, maldizer e até inspirar-nos a semelhante ação igual e contrária. Difícil o perdão embasado em compaixão, o que nos faz de alguma forma iguais ao recriminado pela nossa intolerância e até segregação, a qual sequer percebemos.
Penso, modestamente, que a compreensão do algoz é o que nos leva a primeira ideia do espírito de misericórdia.
Mas mesmo que não consigamos tentemos entrar na grande seara da estrada que nos leva a misericórdia e veremos surgir a compreensão do próximo, a compaixão e, por fim, a humildade que nos afasta da soberba, do orgulho inconfesso e do espírito de segregação com a pensamento desastroso do fundamentalismo.
Um ótimo final de semana!
J. R. M. Garcia.