quarta-feira, 10 de maio de 2017

CRÔNICA  E  CONTO

VELHO DE BENGALA 

É O QUE SOU

A participação deste Blog em minha vida é muito importante. Sempre escrevi em jornal. Forma-se assim um hábito difícil de romper. Por isso sempre procuro vir aqui e abrir meu coração, minhas emoções e sentimentos em um diálogo franco, singelo e sincero com todos vocês. Amo este tipo de diálogo distante, mas muito próximo da alma.
Estava no mercado novo da cidade e dirigia-me ao caixa. Subitamente tudo ficou absurdamente escuro, perdi todo domínio muscular e o silêncio foi inteiro, enorme, imenso. Caí sobre mim mesmo. Quando dei por mim estava com o rosto ensanguentado, várias pessoas tentando erguer-me e não sei quanto tempo aquilo demorou. Mas foi rápido, sem dúvida. Logo estava em uma ambulância equipada para resgate, indo para o hospital São Lucas. Lá fizeram o que chamam “entubamento” com soro. Dois dias na UTI e um em apartamento.
Agora estou restabelecendo e em observação de um acidente clínico que nominam “síncope”, chamada popularmente por desmaio.  É a perda momentânea e súbita de consciência e da força nos músculos por curta duração. Melhor explicando.  “A síncope tem origem na redução do fluxo de sangue para o cérebro, causada pela diminuição da pressão arterial.”
Isso é grave?
No meu caso é muito grave, já que sofri dois infartos e somente tenho uma artéria para vascularizar o coração. A cirurgia é de risco. Uma espécie de espada de Dâmocles no pescoço. Para usar uma figura apelativa de retórica, vivo sobre a sombra eminente de um derrame ou de uma morte repentina.
O que sempre notei nas pessoas,  quando todos se safam em conjunto de um perigo maior, sem danos mas sob grande risco, vejo que há uma tendência de juntos abraçarem-se uns aos outros, dando tapinhas nas costas e, as vezes, até sorrindo espalhafatosamente e até beijarem-se inexplicavelmente sem motivo aparentemente qualquer. Podia-se dizer que assemelham-se a uma espécie de renascimento. É um renascer da morte.
Individualmente, as criaturas comportam-se de maneira idêntica. É quase um porre de felicidade ao ver-se livre de um risco que se correu saindo vivo. Parece que a pessoa fica tão chocada que nunca mais o estado de felicidade geral o abandonará.
No meu caso, cada dia de vida, é um a mais ganho das garras do destino. Mas tudo é tão natural que não mudei nada em meu modo de vida. Sei que vítima de dois infartos, tendo uma única artéria no coração e atacado por uma síncope cardíaca, sou quase um milagre vivo. Aguardo agora a somatória de exames médicos para enfim decidir se devo ou não submeter-me a uma “ponte de safena” ou ao tratamento clínico destas artérias.
Julgo-me um privilegiado. Vivi muito tempo, com muita saúde. Trabalhei muito. Criei dois filhos. Penso que deixo-lhes condições para viverem com dignidade. Logo, não tenho o que queixar. Não viajei exceto a trabalho e jamais constou de minha pauta viagens de lazer. Logo, se por acaso aqui tiver de encerrar minha jornada, acho-a justa. Deus foi bom comigo.
Como não tenho netos, minhas distrações são singelas e modestas. Gosto de dormir e dormir tarde. Sempre tive uma vida dinâmica e, no momento, nem posso pensar em piscina (o que me dá grande prazer)  e tão pouco em caminhadas. Gosto de ler e leio muito. Mas, o que mais gosto mesmo, é de aqui fazer este Blog também simples partilhando com vocês, meus amigos, minhas experiências e impressões sobre o mundo que habito.
Fiquem com Deus todos vocês.
J. R. M. Garcia.