CRÔNICA E CONTO
VELHO DE BENGALA
É O QUE SOU
A participação
deste Blog em minha vida é muito importante. Sempre escrevi em jornal. Forma-se
assim um hábito difícil de romper. Por isso sempre procuro vir aqui e abrir meu
coração, minhas emoções e sentimentos em um diálogo franco, singelo e sincero
com todos vocês. Amo este tipo de diálogo distante, mas muito próximo da alma.
Estava no
mercado novo da cidade e dirigia-me ao caixa. Subitamente tudo ficou
absurdamente escuro, perdi todo domínio muscular e o silêncio foi inteiro,
enorme, imenso. Caí sobre mim mesmo. Quando dei por mim estava com o rosto
ensanguentado, várias pessoas tentando erguer-me e não sei quanto tempo aquilo
demorou. Mas foi rápido, sem dúvida. Logo estava em uma ambulância equipada
para resgate, indo para o hospital São Lucas. Lá fizeram o que chamam
“entubamento” com soro. Dois dias na UTI e um em apartamento.
Agora estou
restabelecendo e em observação de um acidente clínico que nominam “síncope”,
chamada popularmente por desmaio. É a perda momentânea e súbita
de consciência e da força nos músculos por
curta duração. Melhor explicando. “A síncope tem origem na redução do
fluxo de sangue para o cérebro, causada pela diminuição da
pressão arterial.”
Isso é grave?
No meu caso é
muito grave, já que sofri dois infartos e somente tenho uma artéria para
vascularizar o coração. A cirurgia é de risco. Uma espécie de espada de
Dâmocles no pescoço. Para usar uma figura apelativa de retórica, vivo sobre a
sombra eminente de um derrame ou de uma morte repentina.
O que sempre
notei nas pessoas, quando todos se safam em conjunto de um perigo maior,
sem danos mas sob grande risco, vejo que há uma tendência de juntos
abraçarem-se uns aos outros, dando tapinhas nas costas e, as vezes, até
sorrindo espalhafatosamente e até beijarem-se inexplicavelmente sem motivo
aparentemente qualquer. Podia-se dizer que assemelham-se a uma espécie de
renascimento. É um renascer da morte.
Individualmente,
as criaturas comportam-se de maneira idêntica. É quase um porre de felicidade
ao ver-se livre de um risco que se correu saindo vivo. Parece que a pessoa fica
tão chocada que nunca mais o estado de felicidade geral o abandonará.
No meu caso,
cada dia de vida, é um a mais ganho das garras do destino. Mas tudo é tão
natural que não mudei nada em meu modo de vida. Sei que vítima de dois
infartos, tendo uma única artéria no coração e atacado por uma síncope
cardíaca, sou quase um milagre vivo. Aguardo agora a somatória de exames
médicos para enfim decidir se devo ou não submeter-me a uma “ponte de safena”
ou ao tratamento clínico destas artérias.
Julgo-me um
privilegiado. Vivi muito tempo, com muita saúde. Trabalhei muito. Criei dois
filhos. Penso que deixo-lhes condições para viverem com dignidade. Logo, não
tenho o que queixar. Não viajei exceto a trabalho e jamais constou de minha
pauta viagens de lazer. Logo, se por acaso aqui tiver de encerrar minha
jornada, acho-a justa. Deus foi bom comigo.
Como não tenho
netos, minhas distrações são singelas e modestas. Gosto de dormir e dormir
tarde. Sempre tive uma vida dinâmica e, no momento, nem posso pensar em piscina
(o que me dá grande prazer) e tão pouco em caminhadas. Gosto de ler e
leio muito. Mas, o que mais gosto mesmo, é de aqui fazer este Blog também
simples partilhando com vocês, meus amigos, minhas experiências e impressões
sobre o mundo que habito.
Fiquem com Deus
todos vocês.
J. R. M.
Garcia.