CRÔNICAS E CONTOS -GARCIA-
QUEM SOMOS?
"DEITADOS ETERNAMENTE"
Note-se que os olhos do soldado está coberto por um quepe que lhe cobre a vergonha de sua visão omissa.
Depois de aqui
vir por cinco anos consecutivos escrever crônicas as mais variadas, entendo de
não mais cuidar de assuntos referentes aos poderes assim chamados constituídos:
judiciário, parlamentar e executivo.
E tenho minhas
razões.
Queimo pestana
aqui em um gesto de crítica. Apelo em desespero e não vejo nada que se possa
parecer a uma palavra de apoio ou solidariedade.
Tudo inútil.
Treze milhões
de desocupados; 65 mil assassinados; uma mulher é violentada a cada 11 minutos
no país; ministros do Supremo que “pedem vistas de processos” e engaveta-os por
todo o sempre; cadeias lotadas; crimes nas favelas; tráfico imiscuindo com
parcerias na polícia; filas enormes no SUS; montes de lixos sendo apanhados por
miseráveis; gente exausta, cansada nos metrôs e trens suburbanos que levam mais
de três horas para atingir seu local de trabalho; portos marítimos cujo calado
já não recebe navio algum; estradas abandonadas lá no interior de onde se tira
a soja à custa de sangue; uma inflação mentirosa corroendo as veias do minguado
salário de infelizes que ainda tentam trabalhar; gente dormindo pelas ruas nas
grandes capitais do país; miséria generalizada; saúde zero; desespero a mil;
violência desenfreada e explícita.
E vem aquela
perguntinha surrada e nitidamente sem nenhuma graça: “Que país é este?”
“É o nosso país.”
Diga-se aos berros.
Não há nação
desvinculada de seu povo, nem instituições que fujam de seu caráter, nem países
dignos onde seu povo seja imoral.
Somos isso:
covardes, desumanos, sem brios, calhordas, inconsequentes, inconfessáveis em
nossa pobreza de alma, desonestos, buscando sempre um beliscão a mais no
Estado. Isso e muito mais é o que somos.
Estaremos
destinados a sofrer por anos e anos até que nossa gente modifique sua miséria
moral.
Ninguém pode fazer uma nação senão ela
mesma. Disso estejam certos. E lembrem-se: estamos indo para a casa dos 210 milhões
de habitantes na maioria absolutamente miseráveis.
Esta é, talvez,
a última crônica que farei antes de uma cirurgia de risco que irei sofrer e
fico triste de aqui lançar este texto tão desanimado e profético.
Se volto virei
aqui, mas não mais para falar desta zorra de cafajestes que se denominam políticos e autoridades constituidas.
Abração a
todos.
Bom domingo se
isso for possível.
J. R. M.
Garcia.