domingo, 21 de maio de 2017

"DEITADOS ETERNAMENTE" -CRÔNICAS E CONTOS- BORGES E GARCIA-

CRÔNICAS E CONTOS -GARCIA-

QUEM SOMOS?
"DEITADOS ETERNAMENTE" 

Note-se que os olhos do soldado está coberto por um quepe que lhe cobre a vergonha de sua visão omissa. 
Depois de aqui vir por cinco anos consecutivos escrever crônicas as mais variadas, entendo de não mais cuidar de assuntos referentes aos poderes assim chamados constituídos: judiciário, parlamentar e executivo.
E tenho minhas razões.
Queimo pestana aqui em um gesto de crítica. Apelo em desespero e não vejo nada que se possa parecer a  uma palavra de apoio ou solidariedade.
Tudo inútil.
Treze milhões de desocupados; 65 mil assassinados; uma mulher é violentada a cada 11 minutos no país; ministros do Supremo que “pedem vistas de processos” e engaveta-os por todo o sempre; cadeias lotadas; crimes nas favelas; tráfico imiscuindo com parcerias na polícia; filas enormes no SUS; montes de lixos sendo apanhados por miseráveis; gente exausta, cansada nos metrôs e trens suburbanos que levam mais de três horas para atingir seu local de trabalho; portos marítimos cujo calado já não recebe navio algum; estradas abandonadas lá no interior de onde se tira a soja à custa de sangue; uma inflação mentirosa corroendo as veias do minguado salário de infelizes que ainda tentam trabalhar; gente dormindo pelas ruas nas grandes capitais do país; miséria generalizada; saúde zero; desespero a mil; violência desenfreada e explícita.
E vem aquela perguntinha surrada e nitidamente sem nenhuma graça: “Que país é este?”
“É o nosso país.” Diga-se aos berros.
Não há nação desvinculada de seu povo, nem instituições que fujam de seu caráter, nem países  dignos onde seu povo seja imoral.
Somos isso: covardes, desumanos, sem brios, calhordas, inconsequentes, inconfessáveis em nossa pobreza de alma, desonestos, buscando sempre um beliscão a mais no Estado. Isso e muito mais é o que somos.
Estaremos destinados a sofrer por anos e anos até que nossa gente modifique sua miséria moral.
Ninguém pode fazer uma nação senão ela mesma. Disso estejam certos. E lembrem-se: estamos indo para a casa dos 210 milhões de habitantes na maioria absolutamente miseráveis.
Esta é, talvez, a última crônica que farei antes de uma cirurgia de risco que irei sofrer e fico triste de aqui lançar este texto tão desanimado e profético.
Se volto virei aqui, mas não mais para falar desta zorra de cafajestes que se denominam políticos e autoridades constituidas.
Abração a todos.
Bom domingo se isso for possível.
J. R. M. Garcia.