sexta-feira, 5 de maio de 2017

SOLIDÃO (CRÔNICAS E CONTOS)

(CRÔNICAS  E  CONTOS)

SOLIDÃO

Disse-me uma leitora - cujo nome omito por discrição - que me inquino a escrever sobre temas tristes.
        He ! Talvez ela tenha razão.
        Contudo, pensem comigo.
Não sei porquê, mas falar de dramas, levantar estes temas, é muito mais fácil do que fazer sorrir. Mesmo na comédia há, sempre, bem no fundo, um tema de tristeza, um algo que não indo bem nos leva a sorrir. Vejam as comédias de Chaplin, dos irmãos Marx, do Gordo e o Magro. E até em tombo aqui, outro ali, uma frustração óbvia que nos leva dobrar de rir. Mesmo nos narrativas clássicas como Don Quixote, Cervantes nos leva a gargalhadas pela idiotice de seus personagens. Até William  Shakespeare, esquece o drama para colocar algumas passagens cômicas.
         Assim, mais por preguiça, imagino que abordo temas dramáticos.
         Mas hoje vou deixar a indolência de lado.
         Passado muitos anos, Maria encontrou Orlando em uma fila de supermercado. Sei lá. Talvez haviam passado vinte anos. Ele ficou olhando de frente para ele. Ele a olhou bem, tentou lembrar e, de repente, foi se formando sob a imagem de agora a figura da mocinha de ginásio que era ela.
         --Não está me conhecendo? Perguntou ela sorrindo.
         Pensando. Olhando bem, com mais calma, respondeu:
         --Você é a Maaariaaaaa....? Gargalhando com o feliz encontro.
         Sorriram.
        Dito os tratos casuais como o tempo, o quê haviam feito neste período, quantos filhos etc. Maria disse impulsivamente.
         --Você Orlando, foi minha paixão de infância.
         Grato pelo elogio ele sorriu feliz e, encabulado, respondeu:
         --Nunca imaginei que fosse assim. Eu era apaixonado por você também e nunca passei daquele bom dia, boa tarde. Sonhava com você, mas a timidez não permitiu aproximação. Nunca a esqueci.
         --E eu o mesmo com você.
Ficaram ambos olhando um ao outro meio sem graça, silenciosos e, sorrindo,  ela disse:
         --Adeus. Até mais. E se foi sorrindo.
         Ele continuou parado, rememorando sua adolescência no colégio. Sentindo-se um tolo não entendeu nada...Pensou: “Confuso este mundo...Muito...”
         J. R. M. Garcia.