(CRÔNICAS E CONTOS)
SOLIDÃO
Disse-me uma
leitora - cujo nome omito por discrição - que me inquino a escrever sobre temas
tristes.
He ! Talvez ela tenha razão.
Contudo, pensem comigo.
Não sei porquê,
mas falar de dramas, levantar estes temas, é muito mais fácil do que fazer
sorrir. Mesmo na comédia há, sempre, bem no fundo, um tema de tristeza, um algo
que não indo bem nos leva a sorrir. Vejam as comédias de Chaplin, dos irmãos
Marx, do Gordo e o Magro. E até em tombo aqui, outro ali, uma frustração óbvia
que nos leva dobrar de rir. Mesmo nos narrativas clássicas como Don Quixote,
Cervantes nos leva a gargalhadas pela idiotice de seus personagens. Até
William Shakespeare, esquece o drama para colocar algumas passagens
cômicas.
Assim, mais por preguiça, imagino que abordo temas dramáticos.
Mas hoje vou deixar a indolência de lado.
Passado muitos anos, Maria encontrou Orlando em uma fila de supermercado. Sei
lá. Talvez haviam passado vinte anos. Ele ficou olhando de frente para ele. Ele
a olhou bem, tentou lembrar e, de repente, foi se formando sob a imagem de
agora a figura da mocinha de ginásio que era ela.
--Não está me conhecendo? Perguntou ela sorrindo.
Pensando. Olhando bem, com mais calma, respondeu:
--Você é a Maaariaaaaa....? Gargalhando com o feliz encontro.
Sorriram.
Dito
os tratos casuais como o tempo, o quê haviam feito neste período, quantos
filhos etc. Maria disse impulsivamente.
--Você Orlando, foi minha paixão de infância.
Grato pelo elogio ele sorriu feliz e, encabulado, respondeu:
--Nunca imaginei que fosse assim. Eu era apaixonado por você também e nunca
passei daquele bom dia, boa tarde. Sonhava com você, mas a timidez não permitiu
aproximação. Nunca a esqueci.
--E eu o mesmo com você.
Ficaram ambos olhando um ao outro meio sem graça, silenciosos e, sorrindo,
ela disse:
--Adeus. Até mais. E se foi sorrindo.
Ele continuou parado, rememorando sua adolescência no colégio. Sentindo-se um
tolo não entendeu nada...Pensou: “Confuso este mundo...Muito...”
J. R. M. Garcia.