quarta-feira, 4 de julho de 2018

"VOOZINHO" - (CRÔNICAS E CONTOS) Garcia






VOOZINHO

Eita-voozinho canseira !
Começou antes de começar.
Coisinha curta. Tanto o voo como o tamanho do avião. Era um bandeirantes, um bimotor barulhento que levava de 8 passageiros. Era usado pela TAM.  Hoje já não usam mais. Voava, penso eu, entre 3.000 e 5.000 mts. de altura.
O voo era Ribeirão Preto para São Paulo. E para o lado de São Paulo estava escuro como breu.  Estes aviõezinhos não tinham porta separando a cabine dos dois pilotos. Era uma cortinazinha desta de correr.
Embarcamos e fui logo para a cabine grilar do perigo de voar como estava o tempo, já que no aeroporto (campo de aviação, melhor dizendo)  o vento da terrível borrasca balançava no solo o pequeno avião.
A resposta veio aos gritos:
--Temos horário a cumprir....Volte e sente.
Bem. Fiquei calado.
E lépido e fagueiro  -se se pode assim dizer de máquinas-  o aviãozinho ergueu-se como uma pluma no ar.
Uns cinco minutos depois começou a pular mais que cavalo. E os dois motores urravam sob a água.
--Amarrem os cintos. Gritou o piloto.
Não precisava do aviso, já que a bagagem de mão caia na cabeça de todos indo para o chão e ninguém catava. Não tinha aeromoça.
E a coisa foi aos pulos. Descia como uma queda brusca e subia ainda mais rápido.
Depois de Jundiaí, pegamos uma chuva de pedra  que, batendo nas latas da cabine e asas, parecia que estávamos sendo metralhados.
--Que isso ! Estamos caindo?
--Volte , sente e cale a boca.
Eu nunca tinha visto chuva de pedra em voo. Um horror!
O piloto somente não me veio dar uns tapas porque estava no manche.
E agora, quando vejo nuvens no céu de 2.017 e penso neste voozinho, fico a tremer.
Será que pulará muito ou vamos para o chão?
No céu as nuvens são densas, escuras e pesadas. E o voou sereno.
Mas agora isso é sonho.
Mas, vamos com Deus.
J. R. M. Garcia.