sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia) = SOU UM BOM FUMANTE =


CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)



SOU UM BOM FUMANTE

Inveterado?
Sim. Creio que sim. Custo a esperar os passageiros descerem até o saguão do aeroporto. 
Fumo desde os treze anos. No início fumava talos de chuchu, o qual é oco e a polpa pega fogo, gerando fumaça. Depois cigarros de palha e, por fim, os de papel. Marcas como Continental, Hollywood  , Saratoga e muitas outras.  Fumei cachimbo muitos anos.
Adoro fumar.
Sou consciente de todos os males que o tabaco traz ao físico.
Aliás, um fato triste e que certamente deu-se por mera distração da família e outras pessoas caridosas.
Um  velho amigo (mais velho que eu) estava já hospitalizado a morrer de câncer no pulmão. A sacada de seu apartamento era mais abaixo no apartamento onde estava internado. Trêmulo, suando frio, quase sem ar, saltou a murada e fumou até queimar os dedos a bituca do cigarro jogado fora por alguém. Foi o ultimo que ele fumou. Logo entrou em coma e morreu. Seu nome era Aldurando Amui.
Penso que ele não tinha medo da morte. Tinha sim medo de parar,  com a morte, de fumar.
Vi jogadores inveterados deixarem de jogar e muitos nunca mais entraram em uma banca de jogo, outros deixarem de beber e detestarem a heroína.
O cigarro devasta, aos poucos, o físico saudável para liquida-lo sob várias formas.
Agora venho aqui e lhes pergunto:
Neste mundo confuso, onde vinte milhões de refugiados ameaçam a fronteira da Europa, 25.000 de assassinatos ocorrem por ano no Brasil, ladrões de toda espécie toldam os horizontes, milhares morrem a porta dos hospitais, o “zica” virus ameaça a todos, roubos acontecem a cada quinze minutos -é o que disse o Secretário de Segurança- a criatura aos 14 anos sem emprego, sem encontrar o que fazer, em que processo de angústia, ansiedade e desespero ela vive? Não solta fumaça pelo ouvido, pelos orifícios do corpo. Não quer se matar. Que futuro a espera? Que horizonte lhes discortinam?
Alguém se habilita a criticar este jovem ao cometer este leve delito, que somente a si mesmo afeta?
Quem dos senhores há de levantar o dedo de crítica?
Nós sim é que lhes estamos deixando um mundo cruel, bestial, podre.
É triste, porquê é um vício que nunca o abandonará, pois nem todos fumam pelas mesmas razões.
Mas é a minima transgressão que ele pode cometer.
Tenhamos compaixão e não pedradas.
Tenham um ótimo fim de semana.
J. R. M. Garcia.
<martinsegarcia@uol.com.br>