sexta-feira, 29 de março de 2024

O UNIVERSO A CADA INSTANTE SE CRIA - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA

                             O universo a cada instante se cria.  
                        Cinco são seus sentidos perceptíveis. Outros há, obviamente, que estão distantes de nossa percepção, mas existem também.
                       Eu vejo o bem e mau, escolho-os, decido os caminhos por onde vou, piso nas pedras, na água, no fogo. Ora aprecio o amargo, o doce, o azedo, o acre e até o insípido. Sinto o calor, o frio, o mais ou menos quente. Ouço as músicas que gosto e as que não gosto também.  Os aromas sinto-os com maior prazer, evitando uns e aproximando dos que mais apetecem-me.
                    Mas é além de meus sentidos perceptíveis, é que realmente começam minhas verdadeiras sensações. De meu cérebro vem-me verdadeiras emoções desejadas e indesejadas,  as quais tento as vezes fugir e outras não. Lembranças ruins tiram-me o sono, outras passeiam comigo em jardins que sequer consigo lembrar. Negócios, dívidas tiram meu sono. Preocupações fundadas ou não exasperam-me quase a loucura. Algumas falsas, outras reais, outras possíveis e impossíveis, perturbam-me como raios que passassem em minha mente.
                     Logo, o mundo palpável, sensível dos chamados cinco sentidos, molesta-me muito menos do que aqueles que andam por minha alma. E sabe por quê ? Porquê imagino que estou muito mais preparado para lidar com os fatos corriqueiros e banais de meus sentidos mais sensíveis, e muito menos com a alogia do que me vai no espírito. A lógica do espírito é outra. Ela deve existir – certamente existe – mas não estamos acostumados a lidar com ela. Nossa necessidade maior, mais premente, aparentemente é pagar dívidas, fazer novas dívidas, cuidar do que materialmente sentimos como necessário e evitar os azares destes compromissos descumpridos. Atendemos ao grito do corpo, mas esquecemos que a alma pode estar gritando desesperadamente por socorro. E ela, a alma, o faz em uma alogia que ainda não entendemos, enquanto que os sentidos superficiais  gritam. Aprenderam a gritar.
               Mas saibam, tenham certeza, os dois, tanto o espírito como o corpo fazem parte de nosso universo.
                    Um universo dentro de nós e o outro fora de nós.
                   Acertar o compasso de ambos não é fato para um Blog, mas sim para todo um longo estudo ainda de remota compreensão. 
                  Pelo sim, Agora velho sem mais indagar. Resta-me pensar.
                
                J. R. M. Garcia.                       

quarta-feira, 27 de março de 2024

MODISMO - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA


O modismo é a forma mais superficial e chula de se viver a vida, é como um copo personalizado em destaque no dia da festa e sendo varrido para o lixo no dia seguinte!

Ê....TÁ VIDINHA CHULA...zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Abraços,

J.R.M. Garcia

sábado, 23 de março de 2024

IDENTIFICO - ME - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA


         Para o bem ou para o mal, nivelo-me com pessoas simples, sem nenhuma sofisticação visível. E, também, elas se aproximam de mim. É um fato natural. Espontâneo. Nada que me custe qualquer esforço.
         Um exemplo.
       Certa feita, na fazenda, tanto quanto quase uma hora, vinha carregando nos ombros um cacho de bananas e conversando com o empregado. Meu sogro, vendo aquilo, disse-me:
       --E a primeira vez que vejo um empregado de mãos livres e o patrão carregando nos ombros a carga.
       Ele não o fez por maldade. Não. Uma observação aleatória e pertinente.
      Papai, vendo-me a tratar com um escrivão, assim comentou:
     --Você não distingue o meirinho do juiz. Para você são iguais.
     Não é bem assim. Há juízes que nunca respeitei e oficiais cuja consideração e grandeza fizeram-me verter lágrimas. De pessoas blasés ou que assim finjam, tenho horror.
      Causas abandonei por não concordar com as pretensões de bons clientes e lutei por outras que, absolutamente, nem custas tinham como pagar.
      De santidade não tenho nada. Repito. É tudo uma questão de querência e estética.  A lógica vai até onde o desgosto suplanta. Com isso, supostamente, muito perdi e continuarei perdendo.
      E, o contraste de tudo isso, está no fato de que a sofisticação deixa-me deslumbrado. Um exemplo: a beleza de uma árvore, que estende destemida seus galhos ao céu na busca de sol, de vida, do amor de Deus. Isso me encanta, deixa-me em êxtase. Os campos verdes após a chuva, brincando com o vento ondulando o horizonte.
     Flores delicadas, à sombra, que tocá-las seria crime hediondo. Animais silvestres livres. Animais domésticos bem cuidados. Pessoas sem sofisticação, livres de afetação, francas, sem maldade, sem malícia, sem inveja.  
     Talvez me identifique com a Estética em letras maiúscula, em seu alcance filosófico.
     E só.
     
     Abraços.
     J. R. M. Garcia. 

sexta-feira, 15 de março de 2024

MISERICÓRDIA ESQUECIDA (CRÔNICAS E CONTOS) - GARCIA

MISERICÓRDIA    ESQUECIDA


        Misericórdia é um vocábulo dos mais antigos na língua portuguesa. Ela é construída de palavras latinas que, somadas, resultam hoje na tradução de uma ideia vaga para os tempos atuais, mas muito expressivos em nossa formação cultural. Poderíamos, analisando a formação da expressão, ver o ajuntamento de muitos conceitos.

        Na construção da palavra, existem os termos miseratio, cordia e dare. Miseratio vem do termo miserere, cujo significado é “compaixão”; já cordia vem de cor, que significa coração. Juntos, os termos significam “dar o coração àqueles que são vítimas da miséria”. Assim, a etimologia dos elementos da palavra ajudam a construir a ideia geral do significado de misericórdia.

         Isto posto, é um dos raros casos em que etimologia se confunde com significado.

        A compaixão é a essência mater da misericórdia. É um profundo sentir daquele que não sofre para o que está sofrendo. É experimentar um sentimento sutil de sentir a dor alheia como se isso fosse possível.

       Deste modo, a dor do próximo traz a aquele que a vê semelhante sentir e, neste instante, com-partir em espírito esta dor.

        Quantos de nós sentimos semelhante tristeza?

        O mais comum é recriminarmos, criticar, maldizer e até inspirar-nos a semelhante ação igual e contrária. Difícil o perdão embasado em compaixão, o que nos faz de alguma forma iguais ao recriminado pela nossa intolerância e até segregação, a qual sequer percebemos.

        Penso, modestamente, que a compreensão do algoz é o que nos leva a primeira ideia do espírito de misericórdia.

      Mas mesmo que não consigamos tentemos entrar na grande seara da estrada que nos leva a misericórdia e veremos surgir a compreensão do próximo, a compaixão e, por fim, a humildade que nos afasta da soberba, do orgulho inconfesso e do espírito de segregação com a pensamento desastroso do fundamentalismo.

 

         Um ótimo final de semana!

         J. R. M. Garcia.

domingo, 10 de março de 2024

MODÉSTIA - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA




Eu sei que esta crônica parecerá careta.
Nos dia que hora correm, onde a busca universal é sempre para a obtenção maior de bens de consumo, seja no Ocidente ou no Oriente e em todos quadrantes do planeta, uma crônica contrária a essas metas, é sim careta. É como estar na contra mão dos ideais de busca pelo desenvolvimento material dos propósitos humanos universais.
Mas, não posso deixar de faltar à verdade para comigo mesmo.
Não vejo grandes metas nesta busca desenfreada pela realização material neste planeta. Com isso podemos comprometer a vida sobre a terra.
Hoje estimula-se uma filosofia do mais, da soma, da busca do crescimento desesperado de um conforto supérfluo. No fim, muito se confunde a vaidade humana, o status social, como se isso fosse verdadeiramente uma necessidade das pessoas. Sou radicalmente contra isso. Não temos necessidade desta disputa.  
Entendo que a vaidade, seja entre todas as espécies, exclusiva do ser humano.  Somente o homem disputa os assentos de proa. A confusão disso deixa o ser humano atoleimado
Fala-se muito das figuras sociais em grande destaque.
O que é uma figura em destaque?
Se ela destacou-se porque assim provocou, obviamente já não é mais digna deste destaque. Se ela assim torna-se inevitável, certamente o que busca legitimamente é retrair-se na modéstia.
Mas enfim como esta crônica é de um Blog, não podemos aumentá-la.
A verdade é que a busca dos primeiros lugares é doentia, cansativa, inútil e verdadeiramente tola.
É na vida modesta que o ser humano pode pensar, refletir e, enfim, estar bem consigo mesmo e, ao final, até encontrar-se.
 
Um ótimo domingo para todos vocês.
Abraços.
                      J. R. M. Garcia.