segunda-feira, 31 de maio de 2021

"O QUE É A FELICIDADE ?" (CRÔNICAS E CONTOS)

 O QUE É A FELICIDADE ?

É um Blog com pretensões de refletir e sugerir novos paradigmas sem, contudo, esquecer as memórias de nossas vidas, porém superando falsos tabus.

                Ao se falar de Clarice Lispector toda cautela é pouca, eis que é um ícone justificado das letras pátrias. Elogios seriam poucos. Morta precocemente por uma doença maligna, teve tempo, ainda, de marcar seus pensamentos e reflexões por toda eternidade, em uma época que as mulheres não tinham espaço cultural nenhum. 
               Que se não me venham a impregnar-me com o alcunha maldito de quem "está procurando cabelo em casca de ovo". 
                   Por mais que eu busque na memória, não consigo conceituar ao que seja FELICIDADE.
                Todo mudo fala desta dita cuja "FELICIDADE" que, como digo, é uma busca disseminada pelo  planeta inteiro. A ciência não explica. As religiões não a definem. As seitas fogem da palavra. os sábios emudecem. 
                    Clarice, com todo respeito, indica na pergunta, "Ninguém pergunta se você é feliz."
                    E é verdade. 
                    Ninguém. 
                 A única resposta que vi sobre o assunto, foi de um paralítico em Ituiutaba, o qual somente podia mover a cabeça. A resposta foi rápida e liquidava a questão:
-----João, o quê é a felicidade ?
                   Ele respondeu sem meias palavras:
-----Para você eu não sei.... Para mim seria voltar-me na cama para ambos lados sem auxílio das pessoas. 
               Assim a felicidade é tão relativa, tão mínima e as vezes tão intensa, tão imensa que não saberemos, talvez, nem para nós mesmos. 
                    Aproveitem a semana. 
            J. R. M. Garcia.

                     




sábado, 29 de maio de 2021

= DIMENSÃO DA VIDA = (CRÔNICAS E CONTOS)

 

= DIMENSÃO DA VIDA =


Qual a dimensão da vida?
É um minuto?
Um ano?
Um século?
Infinita?
O quê, afinal, é a vida?
A Biologia, até o presente, não chegou à conclusão do que seja “vida”.
Onde a vida começa?
Ninguém sabe.
Onde termina?
O que existe são apenas suposições.
Ah! Mas de voz firme e tonitruante afirmo: “eu vivo”
He! Pode ser. Talvez seja verdade. Talvez, não.
A vida é um processo?
Uma energia que habita aqui seres constituídos desta e daquela maneira?
Ninguém sabe. Presunções, conjecturas, idealizações.
A vida é o presente?
É o passado?
O futuro?
Onde ela está que não a vejo?
De que forma a experiencio?
Como a experimento?
O ter e o ser nela se somam?
A vida é apenas uma força espiritual que encarna um organismo?
Não sei. Talvez nunca saiba.
Ahhhh! Mas afirmo: “eu vivo”.
Abraços a todos os que vivem.

J. R. M. Garcia. 

CRÔNICAS E CONTOS (TERCEIRIZEMOS O FURTO DOS POLÍTICOS)


 -TERCEIRIZAÇÃO -
 
      Aqui é um Blog e temos por exigências sermos concisos, breves e objetivos.
Falaremos de cultura.
“A cultura é o que regula nossa convivência e nossa comunicação em sociedade.”
Uma sucinta e breve conceituação sobre o quê vem a ser cultura, é difícil demais. É quase mais fácil explicitar o quê não é cultura.
Quase tudo no ser humano é cultural. Valores, crenças, religiões, mitos, aprendizado, hábitos, culinária, conceitos, lendas, estórias, costumes, opiniões, julgamentos, gostos e lembranças de erros, acertos e desgraças. Tudo isso e muito mais.
Assim vivemos, inevitavelmente, imersos em um caldo cultural que nos dá forma, preceitua e nos dita o perfil de cada um.
Óbvio que somos seres humanos e este traço nos dá um feitio distinto de nossos semelhantes irracionais. Mas exceto isso, o que se nos resta, são traços de temperamentos individuais, personalidades próprias, educação familiar, condicionamento profissional, erudição própria a nosso exercício social e nossa atividade profissional.
Logo, como sociedade, somos o resultado de um proeminente “modus vivendi” cultural. Pouco mais que isso.
A que título faço este apontamento?
O que desejamos aqui, é lembrar o paradoxo gritante de nossas pretensões sócio-políticas.
Cobramo-nos a existência de uma Sociedade honesta, solidária, humana, cordial, gentil, cortês, pontual, erudita etc.
Isso, quando nada, é um contrassenso contraditório e absurdo.
Se nossa cultura é grosseira, mal formada, desonesta, censurável, com nuances que chega às raias do banditismo injusto e covarde, exploradora dos mal nascidos, incrédula, sem nenhuma piedade, como podemos desejar que sejamos de forma diferente?
Jamais formaremos um mínimo corpo administrativo que não seja este o resultado.
Nem que terceirizássemos a gestão do Brasil sairíamos desta contexto de um fétido lodaçal moral.
BOM DOMINGO.
J. R. M. Garcia.

quarta-feira, 26 de maio de 2021

SENTENÇA INAPELÁVEL (CRÔNICAS E CONTOS)

 SENTENÇA   INAPELÁVEL



Toda pessoa velha é um réu submetido a julgamento.
"Sim ou não." 
Assim é na vida.
Seu direito de defesa, agora, já usou todo tempo que teria para fazê-lo. Também, a eventual acusação termina.
Fica a sala toda em silêncio até que retorne o Juiz, jurados, funcionários, advogados e demais interessados na sentença. A seção continua. Se for absolvido não caberá outro prêmio, senão a “liberdade” para seu uso próprio. Mais não tem e nem lhe estimulam para outro prêmio.
Enfim, aquele que nasce sem culpa nesta terra,  tem, como consolo, uma sentença de culpado ou absolvido.
E nada mais lhe resta senão o Direito de queixar ou jogar pragas.
Abração a vocês. 
J. R. M. Garcia.



segunda-feira, 24 de maio de 2021

SOLIDÃO (CRÔNICAS E CONTOS)

  SOLIDÃO 

A SOLIDÃO É UMA COMPANHEIRA QUE QUASE NÃO  FALA.

QUANDO NA MADRUGADA FRIA A SOLIDÃO ME ASSALTA, NO SILÊNCIO ESCURO DA MADRUGADA QUE AINDA NÃO RAIOU, UM MEDO GALOPA SOLTO EM MINHA ALMA, COMO SE TUDO QUE DE SEGUR0 PUDESSE CERCAR-ME . AGORA, QUIMÉRAS VÃS DE UM CORPO NU DESPIDO EM UMA POBREZA IMENSA E UM FRACASSO TENSO FRENTE A UMA REALIDADE QUE NÃO ENTENDO. OS FANTASMAS RUGEM ALTO E MINHAS VÍSCERAS DOBRAM-SE DE DOR. MAS RECORDO: ELA NÃO É MAIS CORAJOSA QUE EU.  

Há tribulações que não se podem dividir. 

Aliás. Quase nunca o ato solitário é dividido. 

Na verdade, a solidão é companheira da coragem. Pode-se beber a dor do nada, em gritos e gemidos de lágrimas. E, também, por lado outro, pode-se correr com pernas bambas, já sabendo da derrota certa. Mas, é diferente a fuga olhando nos olhos da própria morte, sentindo um último alento de vida sem medo algum do adeus. 

A solidão é, pois, sempre cercada de duas companheiras: A CORAGEM e ELA PRÓPRIA.

                            J. R. M. Garcia. 



sexta-feira, 21 de maio de 2021

FUNÇÃO SOCIAL DE UM VELHO -CRÔNICA E CONTOS-

           







FUNÇÃO SOCIAL DE UM VELHO

1) Função social de um velho está em sua prestação funcional ativa. 

2) Quando um velho que tem função funcional morre, geralmente a família dele entra em parafuso, até porque ele, no silêncio, provinha em silêncio.

3) A agonia de um velho é sua família não estar empenhada em ter função social. Aí o mundo cai sobre sua cabeça. 

4) No passado, a sabedoria era de muito valor na pessoa do velho. Hoje, é de tal monta o giro de aprendizado, que é quase inútil a prestação social.

5) Na verdade, com a destruição do conceito de família, parece que a função econômica supera em muito o sentido de amor consequente. Amor, gratidão, zelo, tem um valor bastante reduzido. Pouca influência. 

6) Se assim o mundo vai bem, pois que assim seja. Todos felizes e descompromissados com o passado.

7) E os velhos ? Eles que se danem. 

                            J. R. M. Garcia. 




 

  


terça-feira, 18 de maio de 2021

ISSO É MUITO SÉRIO! (CRÔNICAS E CONTOS)

             

                                                ISSO  É  MUITO   SÉRIO!


              Gente !
            Já observaram a quantidade de pessoas que, em alguns horários, acumulam-se nas plataformas do metrô ? E na rua 25 de março ? E isso repete-se pelo mundo todo. O tráfego humano é imenso. Dia mais, dias menos, plataformas de esteiras rolantes terão o lugar de ruas como nos aeroportos. Seremos sim, transportados como "pacotes" respeitados os limites humanos da mercadoria, a qual seremos nós.
              Isso advém de que ? Por que é assim ?
       Aqui, para entender isso, é necessário algum entendimento sobre Malthus e Darwin, ambos conhecedores inconteste deste fenômeno. 
          "Em 1838, Darwin leu o trabalho de Thomas Malthus, em que o autor fazia relação entre o aumento da população humana e a fome. Segundo Malthus, a população crescia em progressão geométrica, enquanto os alimentos, por sua vez, cresciam em progressão aritmética. Isso, com o tempo, levaria a população à fome."
         Após a leitura, Darwin fica chocado e em grande meditação  modifica seus textos em "A origem das Espécies", obra até hoje insuperável e cola suas observações:
 Darwin concluiu que, nas outras populações de seres vivos, o tamanho populacional não aumentava como acontecia com os humanos e que, de alguma forma, o meio impunha um limite nesse crescimento. Segundo Darwin, haveria uma luta pela sobrevivência” e apenas aqueles com características mais vantajosas poderiam sobreviver e reproduzir-se"
         Isso é textual e, por quê não é lembrado nestas "lutas" entre nações que, com ternos e gravatas e aviões na pista, cobram do Brasil a responsabilidades para ceder suas terras à produção de oxigênio ?
         Em uma crônica não é possível expandir uma ideia tão extensa e, por vezes, complexa. O que se tenta aqui é a popularização de nossos destinos neste planeta. Não se trata de polarização, mas sim de popularização de uma obra fundamental como a de Darwin.
         Sem as sugestões de Malthus e as previsões de Darwin, iremos a fome.
         E depois, de vírus em vírus, iremos a guerra. 
         
                                      !!!!!!!!!!!!!!
         
 
               
               
                



segunda-feira, 17 de maio de 2021

O MUNDO QUE JÁ NASCEU (CRÔNICA E CONTOS)

O MUNDO QUE JÁ NASCEU 


    Sendo uma crônica, somos compelidos a trazer aqui apenas um resumo de História Potica Ocidental.

    Falamos abaixo, com saltos e épocas que apenas nos lembramos da atualidade dos fatos. Isso, para demonstrar a carência da nulidade mundial de organizar administrativos universais hoje.

    Como modelo, a ideia de Democracia surgiu na Grecia (Atenas) por volta de 500 a.C. Bem antiga, a supor pelo desenvolvimento social humano. A escravatura, que era comum, tinha franca aceitação até então sem nenhuma repulsa. A “votação”, era realizada nos estádios de forma pública e permissível pelos cidadãos, habitantes da comunidade.

    Várias foram as revoltas deste longo triste e sangrento caminho.

    Ao final a Revolução Francesa estoura uma revolta de 1789–1799). Um período de intensa agitação política e social na França, que teve um impacto duradouro na história do país e, mais amplamente, em todo o continente europeu.

    Após um grande expansão industrial na Europa, surge a idéia do

socialismo moderno. No final do século XVIII, tendo origem na classe intelectual e nos movimentos políticos da classe trabalhadora, que

criticavam os efeitos da industrialização e da propriedade privada sobre a Sociedade.

    Desde a publicação  em 1848, Marx e Engels afirmaram que, “em cada época da História, é a produção econômica e a estrutura social que definem a história política e intelectual. 

 Esta ideia é dada como nominada comunista “Comunismo (do latim communis,) comum, universal) é uma ideologia política e socioeconômica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade , sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum dos meios de produção.[1][2][3]  “.

     Esta é a evolução didática da Democracia de forma resumidíssima.

    De Atenas, a evolução da administração pública vem a Democracia clássica, passa pela Revolução Francesa, surge o Socialismo e, por fim, o Comunismo. A tudo isso segue revoluções sangrentas entre os povos da mesma nação.

    Acima não colocamos o Nazismo, Fascismo e Anarquismo e Monarquia, vez que estes sistemas de governo escapam a ideia democrática e, na verdade, firmaram-se unicamente em ditaduras esporádicas. Não são sistemas considerados humanos. Não possuem organização jurídica, vez que a vontade do chefe é a voz do “macho alfa”, a moda animal. Do poder monárquico ,também, deixamos uma lacuna, vez que apenas reinou “zangões” dados como “reis”.

    Aí vemos em séculos se parou a evolução das doutrinas administrativas do dinheiro público.


     Da cidadania grega (quando alto era o preço do título de CIDADÃO) evolui o congressialismo para um comitê comunista, onde nada se resolve nas bases da Doutrina, em centenas de decisões que se somam sem base eleitoral, até os EUA, os quais cada dia tornam-se mais frágeis.

    Não tenhamos dúvidas que nosso mundo, na ordem de sete bilhões de habitantes, estará fadado a uma desgraça imensa sem um controle imediato em um assentimento de nações.

    Este é o mundo que já nasceu.

J. R. M. alternativa



sexta-feira, 14 de maio de 2021

QUAL O PARADIGMA ? (CRÔNICAS E CONTOS)

QUAL  O  PARADIGMA  ?

    Somente para lembrar:  "PARADIGMA é padrão, modelo, exemplo, protótipo, referência, regra, norma, arquétipo, molde." 
    Aqui, nem quero falar do "padrão, modelo, exemplo, protótipo, referência, regra, norma, arquétipo, molde" de uma família. Não. Isso seria exigir muito. Nesse "rolo" de TRANSIÇÃO, seria loucura pedir que alguém tentasse definir com protocolos, normas, regras, etc., o quê seria a ideia de família. A não ser que estivesse criando cães, aí se poderia com estes dóceis animais uma espécie de conduta, onde toda matilha se inspirasse. Mesmo assim haveria trânsfugas.  
    Logo, ao falar de família -sobre tudo nesta época- é muito arriscado. Mormente quando se vê dos poderes da república, exemplos de bandidos, ameaçando com ordem de prisão os que nunca dantes tiveram seus nomes embaraçados. Hoje estamos arriscados a apontar o dedo para uns e vermos que nós mesmos estamos em culpa. Ou pior: em risco.
    É aquele caso de espantarmo-nos com o comportamento do vizinho e, depois, verificarmos que estamos fazendo o pior para nós mesmos e para a comunidade. 
    Óbvio que não sou  Pastor e, se fosse, não teria o quê dizer. 
    A franqueza desespera.
    A condescedência destrói o ideal.
    A anuência leva a frouxidão.
    A inação leva a loucura. 
    Daí vai... Ao final, é quase impossível solicitar algo ou recomendar lá o que seja.
    A Lei descoberta e anotada por Darwin, não é um protocolo. Não. É como a gravidade.            Apenas sugere, mas está presente em todos os  tempos, em qualquer lugar. Invisível, mas perene. Ou adaptamos a realidade do universo ou pereceremos
    Por convicção não creio que pereceremos. 
Já dever existir um arquétipo de PARADIGMA em formação da "família" do futuro. 
    Um bom fim de semana a todos. 
        J. R. M. Garcia.

 
 








quinta-feira, 13 de maio de 2021

DILIGÊNCIAS DO PASSADO (COLUNA E CONTOS)

 




DILIGÊNCIAS   DO     PASSADO 


 

                                                                CAMINHÃO BOIADEIRO 1950


------Vire à esquerda. (gritando mais alto) À esqueeeerdaaaa…..
------ Você parece que é surdo.

------Surdo eu não sou...Mas com está poeira, a buraqueira e a luz apagada….

Eu poderia dizer-lhe que para o preço de uma viagenzinha de cinco quilômetros eu pagara quatro vezes mais….Mas, fiz como se não ouvisse. A coisa já era muito confusa.

Mais buracos. Mais sacolejos. Afinal, aquilo não era estrada. Era uma espécie de “picada” no cerrado que, de dia, percorremos a pé.

O motorista (se é que apelidado disso, somente podia guiar aquele caminhão). Um outro ele já não sabia nada.

------Tá escuro...Nunca pensei que guiar de noite fosse tão ruim.

------Também não. Mas a lua vai demorar….O horário que combináramos foi esse.

Já agora víamos a fracas luzes do posto.

------Este caminhãozinho está firme ?

------Está. Eu troquei as molas traseiras ontem doutor. Pode confiar.

Mais silêncio. Melhor. Barulho de lataria batendo.

----- O senhor combinou bem com o guarda ?

-----Sim. Tudo certo.

-----Que Deus nos ajude. Disse em voz alta o dito motorista. Ele não era motorista, era um péssimo caminhãozeiro e só.

É interessante o comportamento dos humanos ! No começo da “viagem” ele estava nervoso. Agora, que a hora chegara, passar um posto da fronteira, sujeito a prisão em flagrante, o caminhãozeiro estava tímido, leve como se tudo já fosse coisa do passado. Mas tudo ainda estava por vir.

Ascendemos as luzes de sinalização e fomos indo devagar. De lá, da casinha, um guarda saiu mandando-nos seguir.

Parece que todos voltamos a respirar. Passamos por ali dois caminhões de gado.

E pensei comigo “...meu pai nunca quis isso para mim. Pensou-me em um escritório, em salas de juízes, terno, etc….”Mas o mundo era diferente. Tinha um filho, uma esposa para zelar, casa alugada, sem carro e já dois anos de formado.

Deste gado, quarenta fêmeas, elas iniciaram um plantel muito maior, e foi este árabe meio louco que iniciou, aqui no Brasil, os primeiros planteis do gado “girolando”.

Ele morreu e não fui em seu sepultamento.

Abração.

J. R. M. Garcia










CAMINHÃO BOIADEIRO 1950


------Vire à esquerda. (gritando mais alto) À esqueeeerdaaaa…..

------ Você parece que é surdo.

------Surdo eu não sou...Mas com está poeira, a buraqueira e a luz apagada….

Eu poderia dizer-lhe que para o preço de uma viagenzinha de cinco quilômetros eu pagara quatro vezes mais….Mas, fiz como se não ouvisse. A coisa já era muito confusa.

Mais buracos. Mais sacolejos. Afinal, aquilo não era estrada. Era uma espécie de “picada” no cerrado que, de dia, percorremos a pé.

O motorista (se é que apelidado disso, somente podia guiar aquele caminhão). Um outro ele já não sabia nada.

------Tá escuro...Nunca pensei que guiar de noite fosse tão ruim.

------Também não. Mas a lua vai demorar….O horário que combináramos foi esse.

Já agora víamos a fracas luzes do posto.

------Este caminhãozinho está firme ?

------Está. Eu troquei as molas traseiras ontem doutor. Pode confiar.

Mais silêncio. Melhor. Barulho de lataria batendo.

----- O senhor combinou bem com o guarda ?

-----Sim. Tudo certo.

-----Que Deus nos ajude. Disse em voz alta o dito motorista. Ele não era motorista, era um péssimo caminhãozeiro e só.

É interessante o comportamento dos humanos ! No começo da “viagem” ele estava nervoso. Agora, que a hora chegara, passar um posto da fronteira, sujeito a prisão em flagrante, o caminhãozeiro estava tímido, leve como se tudo já fosse coisa do passado. Mas tudo ainda estava por vir.

Ascendemos as luzes de sinalização e fomos indo devagar. De lá, da casinha, um guarda saiu mandando-nos seguir.

Parece que todos voltamos a respirar. Passamos por ali dois caminhões de gado.

E pensei comigo “...meu pai nunca quis isso para mim. Pensou-me em um escritório, em salas de juízes, terno, etc….”Mas o mundo era diferente. Tinha um filho, uma esposa para zelar, casa alugada, sem carro e já dois anos de formado.

Deste gado, quarenta fêmeas, elas iniciaram um plantel muito maior, e foi este árabe meio louco que iniciou, aqui no Brasil, os primeiros planteis do gado “girolando”.

Ele morreu e não fui em seu sepultamento.

Abração.

J. R. M. Garcia








CAMINHÃO BOIADEIRO 1950


------Vire à esquerda. (gritando mais alto) À esqueeeerdaaaa…..

------ Você parece que é surdo.

------Surdo eu não sou...Mas com está poeira, a buraqueira e a luz apagada….

Eu poderia dizer-lhe que para o preço de uma viagenzinha de cinco quilômetros eu pagara quatro vezes mais….Mas, fiz como se não ouvisse. A coisa já era muito confusa.

Mais buracos. Mais sacolejos. Afinal, aquilo não era estrada. Era uma espécie de “picada” no cerrado que, de dia, percorremos a pé.

O motorista (se é que apelidado disso, somente podia guiar aquele caminhão). Um outro ele já não sabia nada.

------Tá escuro...Nunca pensei que guiar de noite fosse tão ruim.

------Também não. Mas a lua vai demorar….O horário que combináramos foi esse.

Já agora víamos a fracas luzes do posto.

------Este caminhãozinho está firme ?

------Está. Eu troquei as molas traseiras ontem doutor. Pode confiar.

Mais silêncio. Melhor. Barulho de lataria batendo.

----- O senhor combinou bem com o guarda ?

-----Sim. Tudo certo.

-----Que Deus nos ajude. Disse em voz alta o dito motorista. Ele não era motorista, era um péssimo caminhãozeiro e só.

É interessante o comportamento dos humanos ! No começo da “viagem” ele estava nervoso. Agora, que a hora chegara, passar um posto da fronteira, sujeito a prisão em flagrante, o caminhãozeiro estava tímido, leve como se tudo já fosse coisa do passado. Mas tudo ainda estava por vir.

Ascendemos as luzes de sinalização e fomos indo devagar. De lá, da casinha, um guarda saiu mandando-nos seguir.

Parece que todos voltamos a respirar. Passamos por ali dois caminhões de gado.

E pensei comigo “...meu pai nunca quis isso para mim. Pensou-me em um escritório, em salas de juízes, terno, etc….”Mas o mundo era diferente. Tinha um filho, uma esposa para zelar, casa alugada, sem carro e já dois anos de formado.

Deste gado, quarenta fêmeas, elas iniciaram um plantel muito maior, e foi este árabe meio louco que iniciou, aqui no Brasil, os primeiros planteis do gado “girolando”.

Ele morreu e não fui em seu sepultamento.

Abração.

J. R. M. Garcia