CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
IGREJINHA AZUL
Da janela de meu
apartamento, que é uma torre, vejo os limites da cidade e bem além, as
serranias que a cercam. É pequenino, mas a amplitude da visão larga, exceto
para o lado norte.
Nesta vastidão, entre o
pôr e o nascer do sol, vejo muito da cidade.
E aqui perto, logo fora
do condomínio, vejo uma pequena igrejinha azul. Pequenina mesmo. As vezes há
culto por lá. Outras não. Quando há algum cerimonial, o que é raro, ela
encanta-se com luzes por todos os lados, inclusive o patiozinho à sua frente que fica cheio de fieis.
Logo sei da cerimônia,
pois as vozes de um coral espargem pelo espaço adentrando ao longe por minha
janela. Ponho-me de pé à distância, a ver o pessoal simples que lá se reúne.
Sei que são simples, porque poucos são os veículos que param nas cercanias e a
simplicidade dos carros.
Então, olhando na noite
escura aquela manchinha azul iluminada, sei que há prece.
As vezes em silêncio
oro também. Outras sinto a alegria imanente daquela fé ardente, daquele punhado
de pessoas enviando suas orações ao infinito longe dos grandes centros, das
catedrais, das multidões.
Não sei qual Deus
poderão ouvi-las – tão poucos - mas sei de sua pobreza, de sua humildade, de
suas dificuldades e temo com receio de que eles se percam e desfaçam nos dias
terríveis que virão.
Que Deus esteja sempre
entre eles e lhes conservem sempre a fé incandescente em seus corações.
Um bom fim de semana para você, Igrejinha Azul.
J. R. M. Garcia.