CRÔNICAS E CONTOS (Borges e Garcia)
CREIAM-ME
OU NÃO
A verdade é que aqui perto das
torres onde moro, tem um mercado. Cinquenta metros. Não mais. Seu tamanho não é
grande, mas tem muitas variedades, guloseimas, três restaurantes, alguns cafés
ótimos e, enfim, serve bem a freguesia a que se propõe. Maior seria exagero e
menor o tornaria inútil.
Mas, como dizia: "creiam-me ou não..." nunca
fui a este mercado somente para passear. Sempre apressado, afobado, ansioso
para resolver isso e aquilo.
Hoje fui. Todos conhecem-me lá.
Aliás, muitas vezes tomo refeições no local. E interessante que notaram meu ar
despreocupado. Uns indagaram: “Passeando, professor?” (O porquê do professor
talvez seja a idade que vai avançada.) E na verdade estava zanzando mesmo. Sentei
nos bancos, tomei sorvete. Olhei detidamente a grande oferta de bens de
consumo. Sobretudo produtos alimentares. Vi vitrinas pequeninas, bem arrumadinhas
ao gosto artesanal e nelas notei que havia um colorido de amor. E ele existe.
Quem duvidar que aqui venha e confira. Acho que estas pequenas vitrinas mudam
de arrumação toda semana. Vou verificar.
E, afinal gostei.
E fiquei surpreso de, pela vez
primeira na vida, fui a um estabelecimento apenas para olhar, pensar e
imaginar.
Parabéns a todos lojistas do “MERCADÃO”,
como o chamam. Que Deus segurem-lhes as mãos na crise que está por vir neste
Brasil sem esperança.
J. R. M. Garcia.