domingo, 29 de janeiro de 2017

(crônica e contos)- UM CASO NEBULOSO-


UM CASO NEBULOSO 

-O estranho caso da mulher que só enxerga quando muda de personalidade -



A visão tinha sido perdida por completo havia 13 anos, após ela sofrer um acidente traumático 
           
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·         ARTIGO TRANSCRITO
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·      Lucia  Blasco

Mulher foi diagnosticada com cegueira cortical, causada pelo dano cerebral ocasionado pelo acidente.

Ela tinha 33 anos quando visitou pela primeira vez a clínica psiquiátrica do médico alemão Bruno Waldvogel acompanhada de seu cão-guia, como costumava fazer há mais de uma década.

Tinha perdido a visão por completo havia 13 anos, após sofrer um acidente traumático sobre o qual os médicos não fornecem detalhes.

Na época, ela foi diagnosticada com cegueira cortical, causada – de acordo com seu laudo médico – pelo dano cerebral ocasionado pelo acidente.

Mas os motivos que a levaram à clínica de Waldvogel não tinham a ver com a cegueira.

A protagonista desta história, cujas iniciais são B.T., também sofria de transtorno dissociativo de identidade (múltipla personalidade) desde antes do evento traumático.

Personalidades diferentes

"Ela apresentava mais de 10 personalidades", diz artigo assinado pelo doutor Waldvogel e por Hans Strasburger, professor assistente de psicologia médica do Instituto de Medicina Psicológica de Munique, e que também tratou a paciente.

"Ela mudava de identidade espontaneamente. Em cada personalidade adotava nome, idade, gênero, atitudes e temperamento diferentes", relata o artigo, recentemente publicado na revista especializada PsyCh Journal.

— Em alguns casos, a paciente falava até mesmo línguas diferentes; às vezes só inglês, outras alemão e, algumas vezes, os dois idiomas misturados.

Segundo a análise médica, a paciente havia vivido alguns anos, durante sua infância, em um país de língua inglesa. Por isso conhecia o idioma.

"O mais surpreendente foi quando, na quarta consulta, encarnando a identidade de um garoto adolescente, ela recuperou a visão de repente", disse à BBC o professor Strasburger.

— A paciente reconheceu algumas palavras no título de uma revista. No princípio eram só letras, mas depois, muito rapidamente, começou a visualizar objetos, até que chegou a recuperar a visão por completo.

Os médicos começaram a utilizar técnicas de hipnose terapêutica, e a capacidade visual de B.T. "se estendeu a outras identidades ou estados de personalidade", segundo o trabalho publicado.

Cegueira 'psicológica'

"É incrível como esta paciente é capaz de mudar de um estado a outro, de modo que às vezes ela enxerga e outras vezes não. É o primeiro caso que se conhece dessas características", disse Strasburger.

Segundo o especialista, nenhum de seus colegas havia ouvido falar de um algo parecido.

Waldvogel e Strasburger chegaram à conclusão de que o primeiro diagnóstico havia sido equivocado: a cegueira de B.T. não era cortical, porque não se devia ao traumatismo cranioencefálico causado pelo acidente.

Se tratava de uma cegueira "psicológica", ou uma "perturbação psicógena da visão", tal como a descreveu Sigmund Freud em 1910.

"Não é algo tão raro, às vezes acontece e é um conceito que se conhece há muitos anos", explica Strasburger.

— O que nunca havia ocorrido até agora é que uma pessoa pudesse ser cega e ver ao mesmo tempo, de acordo com a personalidade que adote.

De acordo com o médico, a paciente já não está em tratamento e sua situação atual é a de uma pessoa cega que, de vez em quando, consegue ver.

Algumas das conclusões mais interessantes do trabalho, segundo Strasburger, se referem às "implicações da capacidade cerebral para controlar o fluxo de informação visual".

— As pessoas com cegueira por dano cerebral dificilmente recuperam a visão e, se o fazem, isso leva muitos anos. O fato de que B.T. ter recuperado a visão repentinamente é muito revelador.

O cérebro, grande desconhecido

Neste caso, para poder identificar a atividade cerebral da paciente, os médicos inseriram eletrodos na parte posterior de sua cabeça, com o objetivo de medir a resposta do sistema nervoso central aos estímulos sensoriais, o que se conhece como "potencial visual evocado" (PEV).

— Normalmente, a informação viaja do olho até o tálamo (no centro do cérebro) e depois até a parte posterior, no córtex visual.

No entanto, os psiquiatras descobriram, graças a essa técnica, que a informação era "bloqueada" no cérebro de B.T. e não chegava a seu destino final.

— Esse caso mostra como o cérebro é capaz de bloquear informação e também revela que há uma base biológica nos transtornos visuais psicógenos e de múltiplas personalidades.

O especialista afirma que muitas pessoas creem que os as pessoas com cegueira psicológica "fingem não ver", mas não é o que ocorre porque, de fato, "há mecanismos no cérebro que o impedem".

De acordo com os médicos, o caso de B.T. demonstra que as diferenças entre seus estados da personalidade "variam de acordo com a informação sensorial e têm fundamentos biológicos".

— Agora mesmo você e eu estamos tendo uma conversa. Você tem a sua personalidade e eu tenho a minha. Mas elas são, de alguma forma, inventadas: foram criadas em alguma parte de nosso cérebro.
 J. R. M. Garcia.




sábado, 28 de janeiro de 2017

CRONICAS E CONTOS -"ELA ENCANTA ANIMAIS"

ELA   ENCANTAVA   ANIMAIS

Foi lá pelas bandas do Uruguay. Mais perto da Argentina. Nunca mais a vi e também nunca passei por lá.
Ela não tinha nenhuma pretensão de mostrar-se. Era um dom
natural que a movia. 
Afinal ela gostava de animais e tinha no quintal soltos dois cães de raça (lindos), um sapo que morava debaixo da uma pedra, dois jabutis, muitos passarinhos e um papagaio. Quando levantava, logo vinha para fora e a bicharada toda a rodeava em um bom dia silencioso.
Eu nuca vira semelhante coisa. Passarinhos soltos vir comer em sua mão, os cães correndo pelo quintal, os jabutis chegando desajeitadamente oferecer-se para serem acarinhados, o papagaio naquele estardalhaço gritando: "Óooo!!! Táti...Táti..."e o sapo no meio daquilo tudo sem assustar-se, firme de olhos bem estatelados e abertos, suspendo o pescoço para ser coçado.
Era quando nada estranho.
Qualquer dia volto lá e filmo este quadro inusitado. São Francisco sei que era assim como ela, mas ele, também, subia nas nuvens e de lá fazia palanque. Café pequeno que, entre os pássaros e lagartixas, ficava a cantar.
Penso que ela deve comunicar-se com esta bicharada em um nível de ondas para nós imperceptível e, ali faz destas uma teia, que nem ela sabe entender. 
Mas isso é conversa para outra hora.
Abração. 
Bom fim de semana. 
J. R. M. Garcia.   
 

 


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

-CRÔNICAS E CONTOS - 76 ANOS DE BRASIL --



- 76 ANOS DE BRASIL –

 Londres bombardeada

          Setenta e seis anos no Brasil.
          Sinceramente nunca pensei atingir esta idade com vida.Enfim ela chegou.
Na época que nasci tudo era diferente neste mundão de Deus.  Se hoje se disser que há alguma semelhança com o mundo atual, tenho de contestar o querido leitor dizendo-lhe que tudo é estranho agora, e que nada seria capaz de trazer-nos   a esta comparação.
Voltando a 1941.
No ano de 1941 a Segunda Guerra Mundial continua. Vou realçar alguns dos aspectos que considero mais importantes para este ano.
Em Fevereiro, os alemães enviaram o Afrika Korps, destacamento do exército alemão, para reforçar as tropas italianas enfraquecidas. 
No início de Março, a Bulgária  une-se ao Eixo. Também em Março os Estados Unidos fornecem oficialmente material bélico aos aliados.
O Japão bombardeia a base naval norte-americana de Pearl Harbor. Os Estados Unidos declaram guerra ao Japão, assim entram na Segunda Guerra Mundial.
As tropas japonesas desembarcam nas Filipinas, na Indochina Francesa (Vietna, Laos e Camboja), e na colônia britânica de Singapura.
Por fim a Alemanha nazista e os seus parceiros do Eixo declaram guerra aos Estados Unidos.
Não existia TV, nem cinema, nem eletricidade. Os rádios, poucos, eram grandes aparelhos com duas pilhas que captavam mal as ondas longas ou curtas. Telefonia não existia onde nasci. Estradas todas de terra. As ruas da minha cidade não tinham nem esgoto, nem eram calçadas, nem passeio. Não existia tratamento de água e nem água encanada. Cisternas e fossas negras cuidavam do abastecimento. A água era retirada do posso em forma de sarilho manual. A luz era de lamparinas abastecidas em latas de querosene. Telha comum sem forro e a cobertura com as naturais goteiras.
Que mundo é este?
É o que eu nasci. Nos fundões distantes de Minas Gerais.
São lembranças toscas que narro aqui, fazendo um exercício de memória a estas regiões escuras e vazias.
Um mundo triste?
Acho que sim. Não sei. Talvez não.
Todos éramos pelo menos mais iguais.
Foi um ano de virada, da entrada do mundo realmente em uma guerra mundial.
Um mundo convulsionado em guerra, mas disso não se tinha naqueles fundões nem notícias. No entretanto, ao findar a guerra todo este mundo atual, que se havia gestado no período anterior, agora era apresentado à visão de todos.
E tudo se transforma. As pessoas não sabíamos, mas todos nascíamos já prontos a era atual.
Nada de novo para quem tinha nascido ali naquela era de nossa evolução. Logo vem a incidir sobre minha geração a monstruosa mutação de todos os tempos.
Para onde vamos?
Não sei. Apenas faço um exercício de comparação com o que hoje vivemos.
E hoje chego aqui: um velhinho que assistiu a esta fabulosa mutação que experimentamos.
É isso meus amigos.
J. R. M. Garcia.