terça-feira, 16 de janeiro de 2024

QUAL O MEU LUGAR ? - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA


Este Blog é, também, de memórias. Como sou muito velho, posso, aqui, recordá-las com a permissão dos leitores, não é mesmo ?

Em sendo assim, recordo-me.

Por volta do segundo semestre de 2.009 “decretei” férias definitivas para mim. Pensei: “Não trabalharei mais.” Isso após uma vida de 45 anos de serviços bastante intensos em atividades variadas e acumuladas: advocacia por estes “brasilzão” de Deus, atividades político-administrativas e zelando por duas propriedades rurais que possuía. Entreguei tudo ao filho.

Nossa !

Somente experimentei alegria maior quando, no internato, via-me livre das obrigações rotineiras e viajava para casa de meus pais. Lá não tinha horários, ficava entregue aos folguedos, viagem à fazenda na companhia do pai, serestas à noite, bebedeiras e, enfim, lá “era amigo do Rei.”

Fui para Bertioga curtir o que supunha seriam as férias como antigamente. Livre. Inteiramente livre.

Lá adorava uma certa senhora, cuja residência era em uma cidade próxima. Sempre que podíamos nos víamos.

Os dias corriam céleres. Fazia longas caminhadas na praia. Fiz amigos entre os pescadores e, com eles, saía à noite para jogar redes de arrasto para, ao amanhecer, as recolhermos cheias de peixe. Tudo novo pelo que vivera até então. Gente nova, lugares novos, praias que não conhecia e, assim, fiquei quase que um ano ali. Não voltei para casa. Pensei que ia ser o novo nascer de uma vida.

Parecia feliz.

Dá-se que, com problemas burocráticos absolutamente insolúveis em Belo Horizonte, fui para lá no começo do ano de 2.010 e demorei demais envolvido nestas soluções. Só um milagre poderia resolver. E, de fato, o milagre houve e tudo foi resolvido.

Voltei a Bertioga pelo meio deste referido ano e, já tudo estava diferente. A senhora, tão amada, a outro se vinculara de forma bastante próxima e as praias perderam a graça, a lua já não mais tinha  beleza, o vendo não brincava com os cabelos de ninguém, o céu ficou escuro, as praias sem interesse e as pescarias de arrastão desapareceram de meu interesse e os novos amigos pareceram-me sem graça.

Fui para Montividéo, onde tinha conhecidos. Nada era como antes. Eles envelheceram e morreram e ali, meus interesses eram, agora, distrair-me. Tudo triste e monótono.

Fui para Santos. Nunca imaginei que Santos fosse uma cidade tão civilizada, amável e doce como parecia-me ser. São Vicente, Praia Grande tudo adorável. Tive muitos amigos e amigas no pouco tempo que habitei ali. Mas, afinal, tudo se desfez como um sonho cansativo.

Voltei a Ribeirão Preto. Aqui todos ocupados em uma vida em trânsito.

Qual o meu lugar ?

Mas este é o primeiro de meus últimos dias...


O Peregrino, há muitos anos quando ainda era jovem. 


 J.R.M. GARCIA