Este Blog é, também, de
memórias. Como sou muito velho, posso, aqui, recordá-las com a permissão dos
leitores, não é mesmo ?
Em sendo assim, recordo-me.
Por volta do segundo semestre
de 2.009 “decretei” férias definitivas para mim. Pensei: “Não trabalharei mais.”
Isso após uma vida de 45 anos de serviços bastante intensos em atividades
variadas e acumuladas: advocacia por estes “brasilzão” de Deus, atividades político-administrativas e zelando por duas propriedades rurais que possuía. Entreguei
tudo ao filho.
Nossa !
Somente experimentei alegria
maior quando, no internato, via-me livre das obrigações rotineiras e viajava
para casa de meus pais. Lá não tinha horários, ficava entregue aos folguedos,
viagem à fazenda na companhia do pai, serestas à noite, bebedeiras e, enfim, lá
“era amigo do Rei.”
Fui para Bertioga curtir o que
supunha seriam as férias como antigamente. Livre. Inteiramente livre.
Lá adorava uma certa senhora, cuja
residência era em uma cidade próxima. Sempre que podíamos nos víamos.
Os dias corriam céleres. Fazia
longas caminhadas na praia. Fiz amigos entre os pescadores e, com eles, saía à
noite para jogar redes de arrasto para, ao amanhecer, as recolhermos cheias de
peixe. Tudo novo pelo que vivera até então. Gente nova, lugares novos, praias
que não conhecia e, assim, fiquei quase que um ano ali. Não voltei para casa.
Pensei que ia ser o novo nascer de uma vida.
Parecia feliz.
Dá-se que, com problemas
burocráticos absolutamente insolúveis em Belo Horizonte, fui para lá no começo
do ano de 2.010 e demorei demais envolvido nestas soluções. Só um milagre
poderia resolver. E, de fato, o milagre houve e tudo foi resolvido.
Voltei a Bertioga pelo meio
deste referido ano e, já tudo estava diferente. A senhora, tão amada, a outro
se vinculara de forma bastante próxima e as praias perderam a graça, a lua já não
mais tinha beleza, o vendo não brincava
com os cabelos de ninguém, o céu ficou escuro, as praias sem interesse e as
pescarias de arrastão desapareceram de meu interesse e os novos amigos
pareceram-me sem graça.
Fui para Montividéo, onde
tinha conhecidos. Nada era como antes. Eles envelheceram e morreram e ali, meus
interesses eram, agora, distrair-me. Tudo triste e monótono.
Fui para Santos. Nunca
imaginei que Santos fosse uma cidade tão civilizada, amável e doce como
parecia-me ser. São Vicente, Praia Grande tudo adorável. Tive muitos amigos e
amigas no pouco tempo que habitei ali. Mas, afinal, tudo se desfez como um
sonho cansativo.
Voltei a Ribeirão Preto. Aqui
todos ocupados em uma vida em trânsito.
Qual o meu lugar ?
Mas este é o primeiro de meus
últimos dias...
O Peregrino, há muitos anos quando ainda era jovem.
J.R.M. GARCIA