ESTRADA NO PARÁ
--Quatro
e trinta da manhã está bom ?
Espantado, indago:
--Quatro
e trinta horas? Como! Quê isso...São somente cem quilômetros.
Com um gesto largo ele fala.
--Explicar.
Continuo sem entender.
--Nesse
horário os bandidos já estão indo dormir. A estrada está livre. Não haverá
perigo. A gente vai e volta ainda de dia.
Essa não! Detesto madrugar. Tenho horror a isso.
Neurose é a expressão correta. Essa neurose advêm de sete anos madrugando entre
o ginásio interno e científico. Certeza que, levantando a esta hora, vou ficar
doente.
Mas ainda tenho uma outra pergunta.
--Que
diabo é isso de bandidos na pista?
Ele explica e justifica.
--Esta
estrada é chamada Do Pó. Mas não é pó de poeira. É pó de cocaína. Nela assaltam
por brincadeira, matam, espancam, seqüestram por farra.
Exclamo coçando a cabeça em gesto inconsciente.
--Xiiiiiiiiiiiiiii
!!!!!!!!!!!!!
Calado concordo. O certo é ir mesmo de madrugada.
Para encurtar o assunto.
Sabem que hora terminou esta viagenzinha? Das
quatro e trinta da manhã as duas horas da madrugada do outro dia.
A estrada ficou cinco horas paralisada por uma
manifestação da própria polícia civil e, mais adiante, duas horas pelos índios
de uma reserva. Resultado. Sete horas parado.
Mas, aqui uma graça: com este movimento todo não
fomos assaltados.
Essa é a vida do brasileiro destas bandas.
Ótima semana.
J.R.M.Garcia