sexta-feira, 21 de abril de 2017

"ESPERA-SE DO CÉU" (CRÕNICAS E CONTOS) Garcia


ESPERA-SE DO CÉU


Muitas noites venho aqui escrever algumas modestas letrinhas. Gosto disso.
Ocasiões há que venho ao teclado até mesmo sem saber o que dizer.  Madrugadas, em horas inesperadas, faço textos.
As vezes com alguma lógica. Outras não. Uma crônica indefinida e outra até pequenos contos.
Posso ter bom humor. Algumas peças levam-me a rir. Exemplo: Dilma tentando falar algo parecido com qualquer coisa como francês. Outras me irrito com os fatos que a mídia tendenciosa e sem honestidade busca confundir o leitor.
Mas hoje, como algumas vezes acontece, não tenho uma ideia específica.
Esta semana tive uma sério acidente vascular. Caí na rua. Uma síncope cardiovascular. O coração desligou-se momentaneamente e instantaneamente. Perdi a consciência por instantes. Caí. Machuquei a cabeça. E, daí, foi uma série de exames  investigativos. Espetadas de injeções, radioamadoras e uma série de raios “x” até que os males fossem especificados.
Ao que entendi andei a milímetros da morte. Vi-me prostrado uma noite e um dia na UTI de um hospital. Deitado ali vi-me bem próximo dos companheiros que estavam já embarcando no  caudal da morte. Dois foram e, com que eficiência e rapidez transportaram-nos para o necrotério. Mas o mais interessante e tétrico, é o preparo dos corpos. Silêncio, seriedade e respeito completo. Todos sabiam como proceder. Menos de dez minutos já estavam no necrotério. Mas vi gestos de carinho, afeto e dedicação também.
Minhas opções são apenas duas: tentar viver sob este perigo constante ou apostar em uma ponte de safena na única artéria que possuo.
Ainda estou pensando, meditando, imaginando qual a opção.
Mas, o mais trágico nem imagino que seja isso. O que vejo é a inutilidade desta vida pelo menos para mim. Escrevi desde os dezesseis anos em publicações e nem mesmo registrei o que gostaria. Viajei o mundo todo no campo cultural, palmilhando terras longínquas e não fui sequer próximo onde desejei. Busquei os poucos bens que tenho e nem mais tempo terei para deles usufruir minimamente. Amei muito, mas minha coragem não foi nem para lançar-me na turbulência infinita com as estrelas do céu, delas indagando o que seria o amor.
Enfim, meus amigos: vi-me o idiota maior deitado sobre o chicote do trabalho, jogado como um objeto sem nada indagar se, de fato, alguma galhardia em minha vida poderia esperar. Nem um chaveiro de mimo. -rs-
Mas...
Afinal a vida foi corajosamente vivida. Jogada no lixo ou não, foi uma longa vida até aqui.
E agora parece que a hora aproxima. 
Que Deus nos auxilie a todos.
J. R. M. Garcia.