sábado, 27 de maio de 2017

"CARTA AO PREFEITO" -CRÔNICAS E CONTOS-

CRÔNICAS  E  CONTOS  

carta ao prefeito

 Senhor Prefeito.

       Você não me irá ler. Seu tempo é exíguo. Mas ainda assim escreverei por desencargo de consciência.
Pessoalmente não o conheço, mas sempre julguei-o uma pessoa correta, com espírito cívico, disciplinada e trabalhadora.
Essas considerações todas a que peço vênias, cheias de louvor, é o que me causou espanto no anverso da atitude que V.S vem tomando frente ao problema gravíssimo da “cracolândia”.
Seria a urgência de resolver o problema? Ou uma vontade até inconsciente ao desprezar os viciados como um lixo social?
Se for o primeiro caso, até louvo a intenção ingênua de V.S. Se for o segundo, infelizmente tenho de julgá-lo como uma pessoa no mínimo ignorante e, no máximo, uma espécie de xiita. 
Por quê?
Acaso V.S., sendo politicamente correto, mentalmente muito articulado, já foi um viciado? Já experimentou o sofrimento dos viciados, tentando curar seus vícios? Já foi tão infeliz na vida, que a única forma de conseguir sobreviver às angústias de seu viver, usou algum tipo de droga?
Ou por outro lado, V.S. se sente tão perfeito que, tal qual a juventude nazista, nada seria capaz de abalá-lo, incapaz de sofrer dúvidas internas e sofrimentos interiores? Uma espécie de super-homem?
Penso que V.S. não pertenceu nem a uma classe e nem a outra. Nem a área do sofrimento desmesurado e tão pouco de um super-homem.
Logo, tê-lo como um ignorante sobre a matéria é um gesto gentil, quando nada.
Para curar um viciado, Dória, é antes necessário a compaixão que é a essência da misericórdia. É um profundo sentir daquele que não sofre para o que está sofrendo. É experimentar um sentimento sutil de sentir a dor alheia como se pudesse ser sua. É de compreender que nem todos podemos ser super-homens, como o desejaria Hitler.  Deste modo Dória, é preciso que você entenda antes que já muito sofre o viciado com sua podridão e nada mais lhe pode pesar. É preciso ser humilde, o que parece que você não é. O miserável não é lixo. Vá assistir Sinfonia Fantástica  de  Hector Berlioz, e então saberá que, na alma do “farrapo humano” deitado na calçada ainda há, dentro de sua alma, a criança que não morreu e ainda espera o colo de sua mãe. Olhe esta foto Dória. Ela faz parte de nós, embora talvez você não perceba.
 
menor abandonado



Antes Prefeito, dê uma passada de olhos em Ivan Pavlov, Nobel de Medicina -Reflexo Condicionado- e a “Cracolândia” poderá vir a ser um jardim.
Um bom e feliz domingo na companhia de seus familiares.
J. R. M. Garcia.


 


quinta-feira, 25 de maio de 2017

"CRACOLÂNDIA" -CRÔNICAS E CONTOS- Borges e Garcia

CRÔNICAS E  CONTOS 
 
"CRACOLÂNDIA"
     Será que Dória, razoavelmente bem informado, não sabe que vício é “Dependência física ou psicológica que faz alguém buscar o consumo excessivo de uma substância, geralmente alcoólica ou entorpecente: vício de fumar; costume de fazer sempre a mesma coisa.”
        É elementar, não é? Todos sabem disso.
       Álkimin também não sabe? Dizem que ele é até um médico razoável, mas não sabe disso.
        E sabem, Dória e Alkimin, que o craque é o maior número de usuário desta região denominada “cracolândia”? E sabem que é um vício terrível. Que o viciado não tem poder sobre o vício, mas que este tem o controle deste?
        Olhe aí o quê é o crack.  
“O crack é uma pasta de cocaína misturada a éter e bicarbonato de sódio. Essa mistura é feita sob água quente. Quando resfriada, ela empedra. Por isso, a droga é fumada em cachimbo. Assim como a cocaína, o crack aumenta a produção e a liberação de dopamina, o neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. Por ser fumado, o crack chega mais rápido ao cérebro e vicia mais rápido também, pois seu efeito é mais intenso.
Quando o efeito passa, dez minutos depois da tragada, os estoques de dopamina no cérebro ficam reduzidos. Aí, o cérebro sente a necessidade de voltar à euforia alcançada antes. É a dependência.”
        E por quê este governador obtuso e este prefeito mais burro ainda, pensa que poderá, com o simples deslocamento físico de uma área denominada “fumódromo”, eliminar um vício que se processa no cérebro do viciado, independentemente de sua vontade?
        Ora! Tenha paciência Dória e Alkimin! Deixem de praticar asneiras!
       Melhor seria se ambos pensassem em Pavlov para curar este vício tão terrível. Internar a força viciados é tortura-los até a morte.
        Aliás. Uma pergunta: vocês dois já foram viciados em alguma droga? Sabem o sofrimento por que passa um alcóolatra, um fumante, um viciado em éter, em morfina?
        Eu sei, seus “caras de pau”.
        Sabem coisíssima alguma disso. Se soubessem não pensariam assim. São puros de candura e corretamente integrados na sociedade. Não vieram de onde estas pessoas vieram, foram criados em berço esplêndido, cheio de carinho e de refinados gostos e prazeres.
        J. Roberto M. Garcia.

P.S. EU JÁ DEVERIA ESTAR AQUI INTERNADO EM UMA CIRURGIA DE ALTO RISCO, MAS NÃO AGUENTEI VER AQUI ESTA ESTUPIDEZ A SER COMETIDA POR PREFEITO E GOVERNADOR DO ESTADO.