FOI ASSIM
VAGA-LUMES
Hoje os caminhos já não existem, as estradinhas de
terra das fazendas acabaram, os pastos desapareceram, as casas dos peões foram todas
convertidas em canavial.
Isso faz tempo.
Era uma noite escura. Escura como poucas. Mas ao
longe vinha um odor de terra molhada, como se em algum lugar próximo estivesse
chovendo ou chovido.
Eu ia para a fazenda, que era perto, guiando uma caminhonetezinha
velha, mas bem tratada, de meu pai.
Isso podia ser por volta das nove horas da noite. Ia
só.
Teria de passar um córrego que, por receio de atolar, iria cruzá-lo em uma pinguela (madeira amarrada entre si de forma a meio
equilibrarmos sobre ela). Parei antes da descida para o córrego e deixe longe
do atoleiro a caminhonete.
Fui descendo a pé. Estava com pressa, pois tinha de
voltar logo.
Quando vi, de repente, como se surgisse do nada, de
todos os locais, por toda parte, voando baixo como se forrasse o chão muito
mais de milhares de vaga-lumes. Dava para enxergar o caminho. As mãos enchiam
de vaga-lumes.
Parei. Assustei. Nunca vira aquilo.
Coincidência ou não olhei o céu. Estava cravejado de
estrelas. Exclamei:
---Estrelas
na terra e no céu !
A noite não era mais escura.
Já podia ir agora com calma buscar os peões: meu pai
acabara de deixar a vida. Não havia mais pressa.
J. R. M. Garcia.