terça-feira, 3 de janeiro de 2017

"ARREIO MOCHO" (CRÔNICAS E CONTOS)

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

ARREIO MOCHO (CRÔNICAS E CONTOS)

CRÔNICAS E CONTOS (Garcia)
ARREIO  MOCHO
Quando tinha ali meus 5 ou 6 anos, papai me colocava na cabeça de arreio mocho e íamos até uma ou outra fazenda próxima, quando os peões eram poucos. Ele fazia-o por distração.
Mas para mim era como se fosse um dia de glória. Chapéu de palha na cabeça, lenço no pescoço, botina mateira nos pés, esporas lisas e tendo a enrodilhar-me a cintura o braço forte do velho.
Ia gritando do começo ao fim:
--Vai chifrudo...
--Espera maiado....
E com o chicotinho fazia como se fosse bater.
A piãoada ria a mais não poder..
As vezes uma rez mais desgarrada e o velho o velho saia da trilha entrava no cerradinho fino e fazia voltar.
Aquilo era como se fosse eu quem tivesse feito.
E aquele poeirão a envolver-nos.
Até que lá em baixo da serra surgia a fazenda de Tio Gabriel.
Ele andava mais depressa à frente do gado, colocava-me no chão sob a observação de Ti Tatila e voltava para acompanhar o gado entrando no curral.
Eu adorava tudo aquilo.
No fim, sem que eu percebesse ou visse, de repente fui para a escola, um ambiente completamente diferente de tudo, onde não me entendiam e nem eu os entendia e  disso ficou apenas sonhos. Nunca mais voltei.
Adeus para sempre boiada.
Até um dia Papai...talvez em dia próxmo ainda cavalgaremos.
           J. R. M. Garcia.


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

VOOZINHO (CRÔNICAS E CONTOS)

"VOOZINHO" (CRÔNICAS E CONTOS) 

VOOZINHO

2.017
Eita-voozinho canseira!
Começou antes de começar.
Coisinha curta. Tanto o voo como o tamanho do avião. Era um bandeirantes, um bimotor barulhento que levava de 21 a 15 passageiros. Era usado pela TAM.  Hoje já não o fazem mais. Voava, penso eu, entre 3.000 e 5.000 mts de altura.
O voo era Ribeirão Preto para São Paulo. E para o lado de São Paulo estava escuro como breu. O céu já parecia noite, embora ainda não fosse.
Estes aviõezinhos não tinha porta separando a cabine dos dois pilotos. Era uma cortina.
Embarcamos e fui logo para a cabine grilar do perigo de voar como estava o tempo, já que no aeroporto (campo de aviação, melhor dizendo)  o vento da terrível borrasca balançava no solo o pequeno avião.
A resposta veio aos gritos:
--Temos horário a cumprir....Volte e sente.
Bem. Fiquei calado.
E lépido e fagueiro -se se pode assim dizer de máquinas- o aviãozinho ergueu-se como uma pluma no ar.
Uns cinco minutos depois começou a pular mais que cavalo.
--Amarrem os cintos.
Não precisava, já que a bagagem de mão caia na cabeça de todos indo para o chão e ninguém catava. Não tinha aeromoça.
E a coisa foi aos pulos. Descia como uma queda brusca e subia ainda mais rápido.
Depois de Jundiaí, pegamos uma chuva de pedra  que, batendo nas latas da cabine asas, parecia que estávamos sendo metralhados.
--Que isso ! Estamos caindo?
--Volte, sente e cale a boca.
Eu nunca tinha visto chuva de pedra em voo. Um horror!
O piloto somente não me veio dar uns tapas porque estava no manche.
E agora, quando vejo nuvens no céu de 2.017 e penso neste voozinho, fico a tremer.
Será que pulará muito ou vamos para o chão?
No céu as nuvens são densas, escuras e pesadas.
Mas, vamos com Deus.
J. R. M. Garcia.