terça-feira, 1 de abril de 2014

= VELHICE =


-   PARTE DE UMA CARTA QUE ENVIARAM-ME  -
TALVEZ ESTAS PALAVRAS DE REFLEXÃO SIRVAM PARA ALGUM JOVEM

“Mas, de uma forma ou de outra, vejo que já cumpri os desígnios da vida. Uma vida simples, curial, própria de um brasileiro mediano. Estudei, trabalhei muito, mas tive meus “dias de glória” também. Poderia chamá-los mediocremente assim? Acho que, talvez, com uma dose de cinismo, sim.  
Desta forma, não vejo porquê tentar prorrogar este tempo que supostamente Deus deu-me neste planetazinho. Não há motivos. Já vivi, vi algumas coisas, experimentei muito neste meu pequeno mundo. 
Assim, minhas expectativas são modestíssimas.  
Dir-me-ão que, se agora deixo-me levar pelas pesadas cargas de uma velhice de todo em todo provecta, males cairão sobre mim tal qual acidentes cerebrais, diabetes, infartos lesivos de minhas plenas capacidades, Alzaimer e mais e mais males imprevisíveis.
É possível que assim seja. Somente vejo ameaças e ameaças de maiores males. Nunca a humilde esperança de alguma forma de renascimento. Digamos, uma ilusão qualquer de que dias melhores virão. E isso é mesmo uma verdade. Ninguém, em sã consciência, haveria de “prometer-me” dias melhores.
A velhice, em si mesma, nunca imaginei que fosse tão solitária e triste. Vejo-me só em cada festa que vou, em cada logradouro público. Todos morreram ou encontram-se alquebrados. Eu ainda resisto. Não quero, deste modo,  esta luta que não leva a nada, ora. Já sei o fim. Já o vejo. Por quê tentar adiá-lo? O final da partida é próximo.
Dir-me-ão. “Se você deixar-se apagar lentamente, sua família quererá mantê-lo vivo de qualquer modo e, com isso, você infringirá sofrimento em outros e em si mesmo.” Mas não creio que isso seja verdade, pois ninguém quererá  -nem agora-  tolerar um velho. E, de mais a mais, esta maquina parará e, com igual intensidade, todos os males das doenças cairão de uma só vez sobre mim.
Será assim. Neste dias que virão tornar-me-ei um trambolho de uma forma ou de outra. Seja por doenças invitáveis, seja pela perca do interesse em minha pessoa, seja porque cargas d’água forem.
Mas, inevitavelmente será assim.
Deixemos que Deus realize nossos destinos. ”
TRANSCRITA POR
J. R. M. Garcia.


sábado, 29 de março de 2014

= CONFISSÃO =


Alguém que já existiu em mim, morreu.
Fui e não sou. Épocas houveram, as quais distanciam-se no tempo como sombras de um passado cada dia mais remoto.
Bom ou ruim não sei.
Na verdade, o fato real é que no afastamento deste espectro percebe-se  -sem de fato ter certeza-  que fui o quê não sou, ou que, não sendo, procuro o quê sempre fui.
Teria sido apenas uma imagem do que desejei ser?
Apenas uma vontade?
Uma espécie de ilusão que sonhei?
Fui uma mascara que nestes dias começo a abandonar.
Ou sempre fui de fato o que sou?
Por que, humildemente, partilho este fato com vocês?
Porque imagino que todos aqueles que realmente encontram de fato sua alma  - na verdade as vezes em provecta idade -   distanciam-se de si mesmo, encontrando algo  que é bastante diferente do que na verdade se é ou foi.
Creio que uma pessoa que não tem no espírito a evolução no decurso do tempo, passando por transformações anímicas, vendo e encarando fatos antigos como novos, tratando em sua alma estes enfoques que emocionalmente antes não conseguia sentir, é pouco menos que um ser insensível e pouco disposto a mutação. É como se sua alma estivesse parada no tempo.
Não sinto idênticas emoções nas mesmas manifestações artísticas, na lógica dos raciocínios exatos, nos parâmetros de proposições políticas e sociais, no encarar os paradigmas éticos e, tão pouco, dos ideais que antes cultivei, dos sonhos que outrora vi como possíveis, cabíveis e desejados.
Para um Blog não se recomenda textos longos.
Tenham um domingo abençoado.
Abraços.

J. R. M. Garcia.  

quinta-feira, 27 de março de 2014

= DECEPÇÃO =


Uma vez eu era um menino. Tinha ali por volta de cinco anos. Em um monte de cascalho achei uma pedra verde. Para mim ela era linda. Pensei em presenteá-la a uma pessoa muito querida. Esperei com ansiedade que esta pessoa viesse a hora do jantar. Com as mãos no bolso, com os dedinhos de criança acariciava a linda pedrinha verde; lizinha. Presenteei esta pessoa. Qual não foi minha tristeza ao ver em suas faces a decepção e enfaro.  Depois encontrei a mesma pedrinha jogada ao acaso em um canto do pequeno jardim.
De outra feita, no primeiro emprego que exerci por volta dos dez anos, com O primeiro salário que ganhei, comprei um broche de falsas pedras azuis para minha mãe. Mais tarde, tendo ela guardado o mimo, vi que o broche se enferrujara e não valia nada. Latão tosco e sem valor algum. E fiquei com vergonha dela ter guardado aquilo.  
Duas decepções horríveis, penso eu.
Dois presente idiotas, aleijados, inexpressivos e deprimentes.
Hoje tenho horror ao receber presentes e não sei nem o por quê. E dá-los, também, deixa-me terrivelmente acanhado.
E assim, pela vida -não a minha, mas de todos nós- vão se somando alegrias e tristezas, dúvidas e certezas, ilusões e fantasias, amor e ódio, quereres que não entendemos, ambigüidades que sombreiam momentos iluminados, épocas em que   imaginamos que tudo é muito bom, quando na verdade nada de bom existe.
Tenham um ótimo fim de semana. As sexta já está chegando. 
Abraços.

J. R. M.  Garcia. 

quarta-feira, 26 de março de 2014

= VIVA A PREGUIÇA =


Meu sobrinho é advogado. Ele é trabalhador. Roda as comarcas destes brasis  levando varadas e jogando pedras em todas estas infelizes comarcas. Agora, em sã consciência, escandalizado, interpelou-me –advogado sempre interpela-  com a última crônica, reivindicando que esclarecesse "esta coisa" de louvar a preguiça.
Pois aceito a interpelação de meu querido e mui amado Sobrinho.
Repito.
Amo a preguiça em todos seus matizes.
Não consigo mentir em assuntos tão sérios.
Por quê louvo-a?
Realmente nunca vi, seja em que sentido for, uma idéia nova surgir na mente de um trabalhador inveterado.
Na Grécia, na Roma antiga e mesmo no Egito ou na Mesopotâmia, os filósofos e fundadores de grandes religiões e civilizações nunca trabalhavam. Quando muito meditavam em regime especial, mas sempre sossegados, sem a balburdia da sociedade que os rodeavam. Eram, muitas vezes, tratados a pão e mel.
Os criadores dos códigos, das leis, dos paradigmas que norteiam a Humanidade, são resultados de pessoas que se afastaram do labor cotidiano e colocaram-se a olhar para o alto e meditarem.
Aliás, há uma corrente antropológica, a qual afirma que o ser humano apenas galgou a evolução científica, quando foi capaz de manter uma classe pensante capaz de organizar seus rumos.
Sou, pois, contra o labor diário e imagino mais louvável a meditação preguiçosa, descompromissada, onde nasce a arte em todas suas manifestações, a física, as religiões etc.
Estou com os monges budistas gordões, gemendo seus mantras infindáveis à sombra de frondosas árvores centenárias.
Mas o assunto é muito extenso para a curta crônica de um Blog.
      Tenham um fim de semana abençoado. Já, já ele virá aí com as folgas de estilo. 
      Abraços.
      J. R. M. Garcia.