segunda-feira, 20 de julho de 2015

= DESISTI DE MEU FILHO =



       É com os olhos quase em lágrimas que inicio este pequeno texto.
        Por que não dizer ?
      Lavro estas letras com humildade, com vergonha, com o coração oprimido e triste.
        Faço-o, aliás, para que todos saibam que não somente a eles recai as injustiças miseráveis de um país ingrato e covarde como este.
        Também eu sou covarde. Também eu me omiti. Também eu falhei quando não devia falhar.
        Participei da revolta de 1964 e, quando acordei, dois anos após, vi que os canalhas “meus amigos” sequer sabiam onde ir e o que desejavam. Cumpri inútil detenção.
        Em 70 eu estava às margens da fome e já com família.
     Mas tive, depois, meios de intervir, auxiliar, buscar um rumo  pelo menos ao nível da comunidade onde moro.
        Agora, tardiamente, compreendo que, embora devesse ter atuado em matéria de civismo, fui egoísta, medroso, inerme, preguiçoso.
     Vejo, passado todo este tempo, que a “cultura” miserabilizou a nação. Não nos tornamos nada. Ficamos, com um estado de mais de 200 milhões de habitantes sem nenhuma solução. Somos como aqueles boxeis burros e fortes, mas que apanham feito uma mula no ringue por nada saberem.
        PIB menor que zero; 65.000 assassinatos anuais; favelas cercando cidades; sistema de saúde nulo; roubos por todas instituições; comprando até energia de outros países vizinhos; uma infra-estrutura nula de acesso aos portos; segurança é uma piada de mau ou bom gosto; estupros coletivos e muito mais que aqui resenhar.
        E por quê desisti de meu filho ?
   Por que o queria perto. Amigos que somos. Aqui, no entretanto, ele escreveu 6(seis) livros, um na terceira edição e um em inglês. Escreveu na Folha de São Paulo. Escreveu mais de 600 artigos publicados na revista virtual CONJUR e outras revistas. E disso quanto recebeu? Nada. Nem uma carta de incentivo. Um bilhete que fosse. Advogou como um desesperado, sem chance alguma, já que a OAB transformou esta terra em uma pasto e rábulas imprestáveis. Apenas servem para entulhar a Justiça.
        O Brasil, a permanecer na satisfação da República em suas cancheiras de luxo, com o Judiciário feliz e alegre, os deputados contentes e inatingíveis e o executivo folgazão, nada acontecerá. Quinze anos serão poucos para algum princípio de recuperação.
        Por isso desisti de meu filho. Foi para outras terras. O que sempre discordei, terminei por vê-lo em uma luta honesta na busca de um resultado no mínimo mais honrado. Lá sofrerá, mas talvez compreendam-no com maior valia e maior decência e respeito a figura humana em sua cidadania.
        Desculpem o desabafo.
        Abraços.
        J. R. M. Garcia.