É
com os olhos quase em lágrimas que inicio este pequeno texto.
Por que não dizer ?
Lavro estas letras com humildade, com
vergonha, com o coração oprimido e triste.
Faço-o, aliás, para que todos saibam que
não somente a eles recai as injustiças miseráveis de um país ingrato e covarde
como este.
Também eu sou covarde. Também eu me
omiti. Também eu falhei quando não devia falhar.
Participei da revolta de 1964 e, quando
acordei, dois anos após, vi que os canalhas “meus amigos” sequer sabiam onde ir
e o que desejavam. Cumpri inútil detenção.
Em 70 eu estava às margens da fome e já
com família.
Mas tive, depois, meios de intervir,
auxiliar, buscar um rumo pelo menos ao
nível da comunidade onde moro.
Agora, tardiamente, compreendo que,
embora devesse ter atuado em matéria de civismo, fui egoísta, medroso, inerme,
preguiçoso.
Vejo, passado todo este tempo, que a
“cultura” miserabilizou a nação. Não nos tornamos nada. Ficamos, com um estado
de mais de 200 milhões de habitantes sem nenhuma solução. Somos como aqueles boxeis burros e fortes, mas que apanham feito uma mula no ringue por nada
saberem.
PIB menor que zero; 65.000 assassinatos
anuais; favelas cercando cidades; sistema de saúde nulo; roubos por todas
instituições; comprando até energia de outros países vizinhos; uma
infra-estrutura nula de acesso aos portos; segurança é uma piada de mau ou bom
gosto; estupros coletivos e muito mais que aqui resenhar.
E por quê desisti de meu filho ?
Por que o queria perto. Amigos que
somos. Aqui, no entretanto, ele escreveu 6(seis) livros, um na terceira edição
e um em inglês. Escreveu na Folha de São Paulo. Escreveu mais de 600 artigos
publicados na revista virtual CONJUR e outras revistas. E disso quanto recebeu?
Nada. Nem uma carta de incentivo. Um bilhete que fosse. Advogou como um
desesperado, sem chance alguma, já que a OAB transformou esta terra em uma
pasto e rábulas imprestáveis. Apenas servem para entulhar a Justiça.
O Brasil, a permanecer na satisfação da
República em suas cancheiras de luxo, com o Judiciário feliz e alegre, os
deputados contentes e inatingíveis e o executivo folgazão, nada acontecerá.
Quinze anos serão poucos para algum princípio de recuperação.
Por isso desisti de meu filho. Foi para
outras terras. O que sempre discordei, terminei por vê-lo em uma luta honesta
na busca de um resultado no mínimo mais honrado. Lá sofrerá, mas talvez
compreendam-no com maior valia e maior decência e respeito a figura humana em sua cidadania.
Desculpem o desabafo.
Abraços.
J. R. M. Garcia.