CRÔNICAS E CONTOS -(Borges e Garcia)-
CIRURGIAZINHA COMPLICADA
É primeira vez que volto aqui em duas semanas.
Ufa !
Tudo seria simples. Mas complicou-se. E, embora eu soubesse, que era
assim, ninguém me acreditava.
Tive um infarto há mais de trinta anos. Lá no pasto, sem assistência
alguma. O peito doía tanto que terminei por desmaiar, após ter a roupa
molhadinha de suor pela dor. Desmaiado fiquei até que no outro dia já as dez
horas, quando o sol acordou-me, pois nada foi feito. Local ermo, inteiramente
sem assistência, exceto um nortista armado de carabina vigiando meu sono.
Daí tive um segundo infarto dez anos depois e, ao fazer o cateterismo,
verificaram que uma das três artérias que vão ao coração estava morta. Fato que
eu já sabia.
Enfim. Aí estava o problema: o homem que somente funcionava, este que vos
escreve, vive somente com duas artérias.
Passei por quatro anestesistas e nenhum deles quis operar-me. Já que era
anestesista geral, era uma cirurgia de risco, pelos fatos já descritos. Meu
médico, o que operou-me, Dr.Chodraui, indagou-me: “Topa?”. Respondi: “Topo sim.”
E ele arrumou dois anestesistas e pôs-me a dormir. Pronto. Uma hora de cirurgia
e eu roncando. (na verdade não ronco,
mera força de expressão).
Uma noite em repouso e estou aqui, graças a Nossa Senhora Aparecida e a
este médico corajoso, que não tem medo de arrostar sobre si a má fama de uma
morte em sua mesa.
Ele tinha quase certeza de que era câncer, pois sou um fumante
inveterado. Parece que, até agora, ainda não contraí esta “coisa”, foi o que
ele me disse.
Assim, voltarei constantemente aqui, molestando-os com minhas crônicas
nem sempre corretas.
Quis apenas que vocês compartilhassem comigo esta intervenção e
justificativas por minha ausência.
J. R. M. Garcia.