ÓDIO
rua do assassinato
O ódio, até onde me
compreendo, causa-me fúria.
Desta fraqueza não
consegui livrar-me. E não me arrependo.
Antes de ontem, ao
entardecer, uma menina e um rapaz –provavelmente namorados- em um bairro de
classe média baixa, desciam a rua movimentada de sua casa para comprarem
um sanduíche na esquina e retornarem a sua casa. Ela de tênis novos e ele mais
usados. Ela feliz, olhando de minuto a minuto seus tênis novos, como
acontece a todos nós. Afortunados, (pois era este seu único bem que
possuía), sem compromissos, exibindo talvez sua aquisição. Ela -vi na foto da
TV- fraquinha, para não dizer raquítica.
De repente, sem
qualquer postura ameaçadora um miserável, montando uma moto mandou, de arma em
punho, que ambos tirassem os tênis.
Queria roubar. O rapaz tirou mais rápido e
ela demorou um minuto mais. Foi assassinada com um tiro na cabeça em plena
calçada e o meliante se foi com o par de tênis do rapaz.
Tudo isso é
horrivelmente triste, mas o mais triste ainda estava por vir. Sua mãe, entre as
lágrimas pela filha morta, dizia que os tênis haviam sido comprados à prestação
junto com os lamentos.
Mundo miserável !
Será que este
comerciante tem a mesma desdita de cobrar as prestações ou os arrancou de seus
pés gelados da jovem assassinada?
Não sei.
Chorei copiosamente
de puro ódio e total impotência.
J. R. M. Garcia.