domingo, 16 de outubro de 2022

O ADVOGADO - (CRÔNICAS E CONTOS)


O ADVOGADO

Depois do cliente, o advogado e a figura mais importante do Aparelho Judiciário.

Tão importante é que você verá lá naquela mesa de audiências, onde um único Juiz fica em uma das extremidades sobre um extrado mais alto, dois e não um advogado. Para existência da lide é necessário dois advogados e tão só um juiz. Até matematicamente impõe-se a primazia do advogado após a do cliente.

É certo sim o dito popular ao afirmar que “sem advogado não há Justiça”.

Mas é assim por que?

Veja bem. Há fatos que acontecem na espécie humana – e muitos – que estão sujeitos a existências conjunturais. A Lei, por exemplo, é factual. Leis e épocas houveram – e muitas onde a espécie humana entendeu de legar a um único homem o poder decisório, entre um homem e outro homem. O processo – direito subjetivo – foi encampado por uma única criatura, a qual legava este poder a outros seus delegados para exercê-lo em larga escala distribuindo a Justiça.

Você me dirá: “Aí está! Exatamente nesta situação, a figura do advogado deixou de existir e as pessoas do cliente e do Juiz continuaram.”

Não. Engano seu.

“Como engano? Se o juiz, encampando a pessoa do advogado ouve as partes, vê as provas e decide, onde está a figura do advogado?”

Sim, é verdade. Mas aqui você terá de usar muita sutileza para ver onde está o advogado. Faça comigo uma abstração e procure enxergar o advogado. Afaste-se da cena e procure verificar subjetivamente – quase como se estivesse a proceder uma terapia em um grupo – onde se esconde o advogado. Conseguiu vê-lo? Conseguiu senti-lo pelo menos?

Se o descobriu a brincadeira terminou. Se não descobriu, vou dar-lhe uma deixa. Na cena em questão, a figura do juiz encampou o processo, fez-se único onde ninguém vela fora dele pelos direitos subjetivos e objetivos dos clientes. Ele, o juiz, é o ente delegado do exercício do poder soberano e dispensa quem lhe contraponha normas no exercício do poder absoluto. Mas ainda assim o advogado está na cena. Embora subjetivamente, mas está.

Creia-me: nada do que não está no homem é criado por ele, fora dele. Julgar - “decidir, após reflexão” – é inerente da alma humana e para isso impõe-se que existam dúvidas e pelo menos duas vertentes de decisões, as quais são os advogados que vivem em nós a expor-nos no íntimo quais das duas convém a cada ato de nossas vidas.

O advogado, quando no exercício de um mandato, está a exercer um sacerdócio.

extraído do livro de minha autoria – "Confissões de um Advogado"

 

Uma ótima semana!

J. R. M. Garcia