RESIGNAÇÃO
Perdoem-me os que não concordarem.
E eu digo para os muito inteligentes, os nem tanto, ricos,
pobres, ousados ou não, vitoriosos e derrotados, ambiciosos ou poucos
ambiciosos, felizes, infelizes, alegres e tristes...
O que digo ?
Digo clara e objetivamente que o pouco de felicidade que podemos
ter neste pequeno planeta, volteando uma estrela de quinta grandeza, existe -se
de fato existe- na atitude simples, simplória até, da concepção psíquica na
resignação. A melhor conceituação que encontrei foi essa: "A resignação,
ou ainda aceitação, na espiritualidade, na conscientização e na psicologia
humana, geralmente se refere a experienciar uma situação sem a intenção de
mudá-la. A aceitação...nem necessita que a situação seja desejada ou aprovada
por aqueles que a aceitam.”
ALEXANDRE CHEIO DE GLÓRIA RETORNANDO A GRÉCIA
Tomemos o gesto lendário de Diógenes frente a Alexandre Magno,
na Grécia antiga.
Consta que tendo Alexandre conquistado o mundo civilizado de
então, volta à Grécia. Ali recebe de todos sábios, pensadores, ricos,
políticos, magistrados, figuras exponenciais da sociedade, reverências e
comendas. Mas um deles não estava ali: Diógenes. Reconhecidamente um filósofo
expressivo, que Alexandre muito admirava, não estava na comitiva dos festejos
de reverências.
ALEXANDRE ENCONTRA DIÓGENES
Dia seguinte Alexandre vai até a humilde choça onde Diógenes
morava na praia, em um logradouro afastado da cidade. Encontra-o deitado
tomando sol.
Alexandre chega com sua guarda pessoal, em desabalada carreira,
até o humilde casebre de Diógenes. Diógenes continua deitado. Em um misto de
surpresa e desalento, Alexandre se dirige a ele:
--Que
me diz, Diógenes ?
Silêncio.
--Bem
sabe que levei até as fronteiras do mundo as conquistas da Grécia. Admiro você.
Mas entristeço-me ao vê-lo nesta vida miserável. Diga-me o que posso fazer por
você ? -indaga o maior Imperador que o mundo conheceu até então-
--Afaste-se
um pouco do sol para que não me impeça com sua sombra de tomá-lo em meu corpo.
ALEXANDRE IRRITA-SE COM DIÓGENES
Alexandre
franze o cenho. Enrubesce. Sente-se ofendido na atitude inusitada de Diógenes.
Sua guarda pretoriana aproxima-se mais daquele pobre que ousa escarnecer do
senhor de todos os senhores. Todos aguardam um trágico desfecho. Por um fio o
filósofo estava da morte violenta. Os áulicos já tinham na mão o copo das
espadas.
Alexandre, assustando a todos, sorri.
Sorri e vai logo para uma gargalhada sem par. Era, afinal, um grego.
E, montando sua sela, diz em voz alta
para o velho Diógenes, que também já agora gargalhava:
--Se
eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes.
Afinal, como nem na tragédia os gregos choram,
ambos separam-se gargalhando.
Esta é a alegre resignação de que falo.
Sem tirar nem por.
Direi mais depois.
Uma ótima semana para todos.
Abraços.
J. R. M. Garcia.