ESTE É O METRÔ MAIS LOTADO DO MUNDO
Certamente somos muito burros. Somos isso mesmo: burros.
Como seria possível que exigíssemos que as pessoas mantivessem o distanciamento dos corpos, quando transportamos pessoas pior que gado ou porcos. Literalmente esfregando os corpos uns no outros de maneira até promíscua.
"Com demanda em alta, linhas de metrô já transportam mais de 5,3 milhões de pessoas por dia"
Vejam. Todos os dias transportamos em túneis, mais de 5 milhões de criaturas. É como se metade da população mudasse de lugar todos os dias em São Paulo.
É de um cinismo tão vil, tão grosseiro, tão rasante, que temos vergonha de indagar sobre essa lambança. Nas igrejas, teatros, nas festas familiares, nos campos de futebol se é proibido reunir, mas nos metrôs a promiscuidade involuntária nos comprime até esfregarmo-nos uns nos outros.
Apenas uma experiência pessoal.
Certa feita tomei um avião de São Paulo a Belo Horizonte. Voo lotado como sempre. Noturno.
Ao meu lado sentou uma pessoa que tossia desesperadamente. Ele parece que se afogava e chegava a debruçar sobre si mesmo, para tossir. Situação terrível a dele. Pensei em conversar, mas nem ele e nem eu estávamos bem. Eu preocupado com o que ia tentar resolver. Ele desesperado pela doença que o molestava.
Por fim aterramos. Na fila para sair passei e ele ficou arfando nas minhas costas.
Chegando à porta para descermos na escada, senti primeiro o calor de seu hálito em minha nuca, em seguida o sopro do que vinha a seguir: um espirro enorme, imenso, impiedoso com gotículas salpicando por trás minhas orelhas.
No hotel, na madrugada, já acordei tiritando de febre.
No metrô eu estaria livre disso. Lá mesmo para respirar é difícil.
J. R. M. Garcia.