quarta-feira, 29 de maio de 2024

QUANDO LEVAMOS UMA PAULADA EM JUÍZO - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA

 QUANDO LEVAMOS UMA PAULADA EM JUÍZO

Muitas vezes acontece de levarmos uma paulada em juízo expressão que ouvi de um ex-presidente do Tribunal de Minas Gerais, com a qual ele queria referir-se àquele despacho ou sentença acachapante, imprevisto e inteiramente contrário ao que esperávamos.

Em qualquer ato ou fato da vida, sofrer um revés é sempre muito desagradável. Mas todos nós já tivemos, se não um, muitos reveses. Quem afirmar que não os teve, certamente estará mentindo.

O advogado especialmente sempre esta sujeito a sofrer reveses. É da sua profissão. Nós perdemos causas. Se não perdêssemos, como outros haveriam de ganhar? As perdemos por erro, por falta de maior estudo, porque a causa na verdade não merecia o julgamento a nosso favor, porque o juiz não leu nossas razões detidamente, porque o laudo pericial foi contrário a nossos interesses, porque nossas testemunhas não foram convincentes. Porque, porque e porque...

Mas não esqueça: quando o despacho ou a sentença é a nosso favor, quem sofre a decepção é o outro.

Contudo, quando acontece de levarmos uma paulada em juízo, nossa primeira reação é de raiva. A segunda, é de manifestar aos gritos o que fizeram conosco. A terceira, é de desânimo com tudo que se refere a justiça. A quarta, é de ódio pelo direito. Queremos sumir, deixar o fórum e lá nunca mais voltar.

Este sentir é inteiramente humano e muito próprio de todo advogado, pois indignar-se é uma de suas melhores virtudes.

Mas você não pode ser tolo a ponto de ficar no Fórum, na sala da Ordem, a manifestar sua desdita e tão pouco ficar pelos corredores daquela casa a praguejar contra o Juiz, o escrivão que lhe passou a perna, a esbravejar sua revolta para todos que encontrar.

Não faça isso jamais.

Saia do fórum quando isso acontecer. Se puder deixar de trabalhar o resto do dia, é exatamente isso que deve fazer. Este dia para você acabou. De uma caminhada a pé, procure esquecer momentaneamente o problema. Vá a um cinema, jante fora, entre em um templo para rezar se for de sua apetência.

Procure pensar em tudo, menos na paulada que levou. Se de tudo não conseguir esquecer a triste decepção, crave a unha do dedo médio sobre a base da unha do polegar. Este gesto lhe causará uma dor tanto mais intensa, quanto mais forte for a pressão que você exercer. Uma dor, ainda que física, pode fazer esquecer outra. Faça isso todas as vezes que a imagem da paulada; lhe vier a mente.

Já levei muitas pauladas destas. Algumas orientadas por escrivães os juízes, acumulados de processos, terminam por receber orientação destas verdadeiras eminencias perdas muitas vezes. Outras, devido ao ódio mesmo que alguns  juízes tem de advogados que não sejam aqueles, escolhidos de seu gosto ou que sejam de outras comarcas. Outras, de juízes estimulados. Outras, por justíssima razão.

Mark Twain aconselha: Arraste seus pensamentos para longe das suas preocupações... pelas orelhas, pelos calcanhares ou de qualquer outra forma que lhe permita consegui-lo. É a coisa mais salutar que a criatura pode fazer.

Somente volte a analisar a paulada um ou dois dias depois. Se for na primeira instância haverá grau recursal e somente você mesmo verá se é conveniente tentar o recurso ou entrar com outra ação.

Lembre-se: não será a primeira nem a última; paulada  que você receberá e nem somente você as recebe, mas seus colegas também. 

Extraído do Livro "Confissões de um Advogado"  de minha autoria.

 A todos um ótimo feriado!

 J.R.M. Garcia 

quarta-feira, 22 de maio de 2024

NUVEM ESCURA (CRÔNICAS E CONTOS) Garcia

NUVEM  ESCURA


Tenho uma consciência virtual e uma real.
O que significa isso?
Vejamos.
Quando estou raciocinado, inserido dentro de meu cérebro, fico fazendo como agora, ou seja, esqueço aparentemente o que se dá à volta para buscar de onde não sei, a forma de expressar o pensamento oculto onde ninguém tem a propriedade de estar comigo. Não há diálogo. É um mundo somente meu. Assim, se fora de mim ouço um grito, vejo um objeto cair em razão do vento que passa, pulo para fora deste mundo oculto, que chamo de abstração, para socorrer, em ato reflexo, o que ocorre a minha volta. Parte sou presença física, a outra parece que sou espírito dentro de mim.
Isso ocorre quando guio. Se vejo um veículo à frente, sem que eu perceba, diminuo a velocidade, reduzo a marcha faço todas as operações mecânicas sem me dar conta delas, mantendo o raciocínio nas ideias distantes deste momentâneo problema.
Será que me fiz minimamente compreensível?
É um pouco difícil analisar isso.
A estas duas consciências, uma virtual e outra real, chamo vida.
Busco racionalizar o que penso. É o que estou tentando fazer. Há lógica nisso? Não creio. Mas haverá lógica quando passar pelas comparações analógicas das letras, palavras, expressões gramaticais.
É o que estou fazendo neste momento.
Assim, vivemos em uma misteriosa nuvem de compreensão, acorrentados a uma expressão racional que não podemos dispensar.
É pouco para desenvolver uma análise tão complexa em uma linguagem limitada que é a de um blog.
Voltarei mais vezes falando disso.
Boa noite!
Abraços.
J. R. M. Garcia.
  

quarta-feira, 15 de maio de 2024

FAMÍLIA VIRTUAL - CRÔNICAS E CONTOS - Garcia


 

FAMÍLIA VIRTUAL

                Tenho dois filhos. Um casal. Uma filha com quarenta e nove anos e um filho com cinquenta e quatro anos. Ambos casados. Somos poucos. Dir-se-ia que uma família bem pequena.  
        Dá-se que, felizmente, atingimos uma época onde existe a telefonia móvel, whatsApp, skype, redes sociais, e-mail e avião. Isso facilita-nos dentro de nossa virtualidade. Até porque vemos-nos no skype, whatsApp, transmitimos nossas ideias por e-mails e outras telefonicamente, quando temos urgência.
            Se assim não fosse já nossos laços de amizade estariam destruídos há muito tempo.
            Um deles mora no Uruguai e a outra nos procura, embora em Ribeirão Preto, poucas vezes, mas falamo-nos sempre.
            Todos queixam-se da telefonia, sobre tudo da celular, mas a gente vê de um montão de gente conversando no celular. Seja nos supermercados, nos corredores do Fórum, nas ruas, nos automóveis etc. Ora, dizer que isso não funciona, como vemos tantos dependurados nestes aparelhinhos?
            Aliás, outro dia, vi um péssimo uso da telefonia celular. Uma senhora caiu em um buraco de aproximadamente meio metro na calçada. Sujando-se bastante, saiu mancando e, incrivelmente, ela não deixou o fone cair da mão e continuou conversando, mesmo sentada na sarjeta.
            Realmente bem o sabemos. O serviço de Internet e telefonia celular ainda não está de todo implantado no Brasil. Dizem que está. Aqui, após  500 anos, ainda estamos tentando implantar tudo. Sistema de segurança, saúde, estradas, barragens, estrada de ferro, desarmar o povão para facilitar o assassinato de 56.000 viventes, uma constituição decente. E vai por aí. Somos um país em formação.
            Mas no meu caso já dá para a eletrônica conservar minha família “unida”. Minha mulher diz: “Telefonia celular funciona com eficiência é na cadeia”.
            Não sei se ela quer sugerir-me para ir preso, ou se fala uma verdade que aqui é correta.
           Um bom fim de semana com seus celulares.


            J. R. M. Garcia.
 

terça-feira, 7 de maio de 2024

QUEM TEM O DOM PARA ADVOCACIA? - CRÔNICAS E CONTOS - GARCIA

 QUEM TEM O DOM PARA ADVOCACIA?

        Esta é, de fato, uma pergunta desafiadora que me faço. Por controversa, bem poderia deixá-la esquecida. Mas não seria honesto omitir-me por medo de críticas ou ambiguidades.
        Dependeria de dons essenciais específicos? "Um advogado já nasce feito", como o deseja o jargão popular?
        O interesse pelos assuntos do direito e a condição básica para identificar-se a vocação de um futuro advogado?
        É possível, em um lançar de olhos por um curso de segundo grau, saber quem tornar-se-á ali um advogado ou não?
        Arriscaria alguém -já cursando a faculdade mesma - a qualificar em um bom aluno os pendores para a advocacia e, em um mau, o seu fracasso?
        Penso que qualquer resposta neste sentido e absolutamente inócua.
       Conheci péssimos alunos que se tornaram excelentes advogados. Conheci juristas renomados, os quais publicaram obras validas, que frequentaram péssimas escolas. Conheço outros que, na mesma condição, cursaram os chamados cursos vagos - antigamente existiam.
        Advogados tímidos, mas tenazes. Advogados preguiçosos, mas brilhantes. Advogados sem o dom da oratória, mas que marcaram época. Advogados que se embriagavam, mas que deixaram escolas.             Advogados santos, pios. Advogados perdidos, cujo flerte com o diabo sempre foi sua diversão predileta, porem inimitáveis.
Aqui, caro leitor, você está a perguntar-me: "Logo, advocacia e exercício cabível a qualquer um?"
        Também não.
      Há elementos sem o quais é muito difícil advogar. Falarei adiante dos que me parecem mais visíveis... 
        Extraído do livro “Confissões de um Advogado” de minha autoria.
        Uma boa noite a todos!
         
        J.R.M. Garcia