QUANDO LEVAMOS UMA PAULADA EM JUÍZO
Muitas vezes acontece de levarmos uma paulada em juízo expressão que ouvi de um ex-presidente do Tribunal de Minas Gerais, com a qual ele queria referir-se àquele despacho ou sentença acachapante, imprevisto e inteiramente contrário ao que esperávamos.
Em qualquer ato ou fato da vida, sofrer um revés é sempre muito desagradável. Mas todos nós já tivemos, se não um, muitos reveses. Quem afirmar que não os teve, certamente estará mentindo.
O advogado especialmente sempre esta sujeito a sofrer reveses. É da sua profissão. Nós perdemos causas. Se não perdêssemos, como outros haveriam de ganhar? As perdemos por erro, por falta de maior estudo, porque a causa na verdade não merecia o julgamento a nosso favor, porque o juiz não leu nossas razões detidamente, porque o laudo pericial foi contrário a nossos interesses, porque nossas testemunhas não foram convincentes. Porque, porque e porque...
Mas não esqueça: quando o despacho ou a sentença é a nosso favor, quem sofre a decepção é o outro.
Contudo, quando acontece de levarmos uma paulada em juízo, nossa primeira reação é de raiva. A segunda, é de manifestar aos gritos o que fizeram conosco. A terceira, é de desânimo com tudo que se refere a justiça. A quarta, é de ódio pelo direito. Queremos sumir, deixar o fórum e lá nunca mais voltar.
Este sentir é inteiramente humano e muito próprio de todo advogado, pois indignar-se é uma de suas melhores virtudes.
Mas você não pode ser tolo a ponto de ficar no Fórum, na sala da Ordem, a manifestar sua desdita e tão pouco ficar pelos corredores daquela casa a praguejar contra o Juiz, o escrivão que lhe passou a perna, a esbravejar sua revolta para todos que encontrar.
Não faça isso jamais.
Saia do fórum quando isso acontecer. Se puder deixar de trabalhar o resto do dia, é exatamente isso que deve fazer. Este dia para você acabou. De uma caminhada a pé, procure esquecer momentaneamente o problema. Vá a um cinema, jante fora, entre em um templo para rezar se for de sua apetência.
Procure pensar em tudo, menos na paulada que levou. Se de tudo não conseguir esquecer a triste decepção, crave a unha do dedo médio sobre a base da unha do polegar. Este gesto lhe causará uma dor tanto mais intensa, quanto mais forte for a pressão que você exercer. Uma dor, ainda que física, pode fazer esquecer outra. Faça isso todas as vezes que a imagem da paulada; lhe vier a mente.
Já levei muitas pauladas destas. Algumas orientadas por escrivães os juízes, acumulados de processos, terminam por receber orientação destas verdadeiras eminencias perdas muitas vezes. Outras, devido ao ódio mesmo que alguns juízes tem de advogados que não sejam aqueles, escolhidos de seu gosto ou que sejam de outras comarcas. Outras, de juízes estimulados. Outras, por justíssima razão.
Mark Twain aconselha: Arraste seus pensamentos para longe das suas preocupações... pelas orelhas, pelos calcanhares ou de qualquer outra forma que lhe permita consegui-lo. É a coisa mais salutar que a criatura pode fazer.
Somente volte a analisar a paulada um ou dois dias depois. Se for na primeira instância haverá grau recursal e somente você mesmo verá se é conveniente tentar o recurso ou entrar com outra ação.
Lembre-se: não será a primeira nem a última; paulada que você receberá e nem somente você as recebe, mas seus colegas também.
Extraído do Livro "Confissões de um Advogado" de minha autoria.
A todos um ótimo feriado!
J.R.M. Garcia