sexta-feira, 17 de abril de 2015

= A FORMIGUINHA E A GALÁXIA =


Ontem, lendo pela noite à dentro vi, no piso que é branco, sob a luz do abat-jour, uma formiguinha andando aparentemente ao leu. Uma formiguinha que, de tão pequena, quase invisível. Parava aqui um instante, depois corria um pouquinho, parava de novo, virava, voltava, tornava a andar e, assim, ia. Em menos de cinco minutos ela, sem destino, desorientada, andou no mínimo uns dois metros. Era veloz e tinha pressa. Na proporção de seu tamanho, era como se corresse mais de dois mil metros, suponho.
Indaguei-me: “Qual seu propósito em um quarto ladrilhado, sem nada que a atraísse, tudo limpo, branco, sozinha?”
E ela correndo. E eu pensando.
A natureza é tenaz.
Certas feita, faz algum tempo, vi um imenso avião da Força Aérea Norte-americana, de quatro turbinas, correr solitário na pista, em Carrasco, e colocar-se com extrema dificuldade no espaço. Estava pesado, tanque cheio, engoliu quase toda pista. Ergueu-se e foi. No fim, olhando-o ele pouco mais era que um pingo no céu azul. Aquela coisa enorme aqui, mas pequenino no céu, iria no mínimo percorrer dez mil quilômetros. Era seu destino.
E a formiga também deveria ter um destino que não sei qual, mas teria.
E as galáxias também.
E o universo igualmente.
E toda humanidade, com a terra, seu sol e planetas irmãos, terão um fim.
Uma ótima semana.
J. R. M. Garcia.