quarta-feira, 10 de maio de 2023

TRÊS RAÇAS TRISTES (CRÔNICAS E CONTOS) - GARCIA

TRÊS RAÇAS TRISTES


      Esta é a composição dos arquétipos que nos gerou. Sei lá que mão pesada do destino assim nos desditou.

      Quando se vê nas palavras de Camões, corta no fundo da alma o momento triste das pequenas naus deixando o Tejo e singrando as ondas do Atlântico.

     “Por águas nunca d'antes navegadas, em velas altaneiras no branco dos azuis mares elas vão...Naves sem rumos e sem destinos...queda longe a pátria amada, famílias que vão distantes....

       Navegam eles e distanciam da pátria.

       Eles vão, a terra gira, o sol passa, a noite vem, as estrelas já não são as mesmas e a quilha sempre cortando os mares.”

        Por quê uma nação tão pequenina ousa nos mares, carrega seus navios e lança no ermo de loucura a felicidade destas criaturas rumo ao nada?

         E aqui assusta e desaloja o pobre índio, que descansado vivia feliz há dez mil anos ou mais?

        Por quê?

                

              E mais tarde comete a suprema loucura e covardia  com a escravidão aqui implantada. Sandice maior não poderia.

              Convertemo-nos em preguiçosos na estiva destes miseráveis negros que, de fato, desbravaram o Brasil.

              Nas palavras de Castro Alves:

             “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?

              Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes....

                                                 ..............................

           Hoje em meu sangue a América se nutre

          Condor que transformara-se em abutre,

          Ave da escravidão,

          Ela juntou-se às mais... irmãs                                          

          Venderam seu irmão.

                                         ..........................

Negras mulheres, suspendendo às tetas 

Magras crianças, cujas bocas pretas 

Rega o sangue das mães: 

Outras moças, mas nuas e espantadas, 

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs! 

........... ...........

         Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga

         Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!

         Andrada! arranca esse pendão dos ares!

         Colombo! fecha a porta dos teus mares!”

...................

    
 

           Vê-se nitidamente o desespero do poeta.

       Morre aos 22 anos de tuberculose. Muitos de seus colegas morreram também de tristeza e desesperança neste chão.

          Com o trabalho escravo aprendemos a desacreditar do trabalho manual, físico e nossos jovens procuram os "canudos" para se apropriarem dos melhores cargos da nação. Tornamo-nos preguiçosos enfim.

      E aqui a escravidão foi menos que uma conquista - tal era a miserabilidade dela mesma por tangível pressão dos escravocratas- sendo que os escravos  foram reduzidos a mendicância. No Estados Unidos uma revolução violenta e fratricida de quatro anos quase dizimou o país.

       Assim convertemo-nos ou somos um país oriundos de três raças tristes e sem esperança.


        J. R. M. Garcia.