Sexta feira, dia 11,
antes do final da Copa.
Tomei banho, vesti uma roupinha mais ou
menos, passei água de cheiro e desci para o banco. Logo vi a fila desanimadora,
mas ainda assim peguei uma senha na coluna dos velhos. O número de funcionários
é muito menor do que os necessitados.
O banco é o Santander. A agência não vou
dizer para não comprometer as vítimas, sejam elas funcionários ou
contribuintes.
Uma hora e trinta depois meu número
brilhou no placar.
Fui lá. Estava na fila errada. Deveria
ser na de “pessoas físicas” e eu, até que provem ao contrário, sou pessoa
física de carne e osso.
Entrei em uma fila menor. A de mais ou
menos uma hora.
Fui atendido por um cansadíssimo e amável
gerente.
--Identidade. Ele
pediu.
Ele olhou, olhou, conferiu meu rosto com
a foto, mas assim meio triste reconheceu-me na foto.
--Endereço?
--Não tenho. Sou sem
teto.
--Mas onde o senhor
mora?
--Na pensão da Dona Tunica.
Ele voltou-se para mim e viu que eu
estava sério.
--Mas que pensão é
essa?
Prontamente respondi.
--Não é uma pensão
oficial. Mas dão-me pouso e comida lá. E, aliás, muito boa.
Ele ficou assim meio que fora de órbita. Levantou-se
e foi até outra mesa, donde vi que ambos olhavam-me pelo vidro.
Voltou.
--E, como o senhor
faz para a correspondência?
--Como fazia em Montivideo.
Posta restante.
Aí ele realmente não entendeu nada. Parecia
não conhecer este serviço.
Voltou à mesa do outro. Olharam-me
novamente.
Disse.
--O senhor precisa
preencher uma carta.
--Sim. Concordei.
Redigiram uma correspondência solicitando
ao Banco Santander que me enviasse para a conta tal e tal a importância por mim
solicitada. Demoraram demais a chegar a uma conclusão se esta seria via fax ou
digitalizada.
Bem. Mas nesta altura dos fatos já o
expediente estava findando.
E findou.
Segunda não voltei. Estava com preguiça
demais.
Hoje, terça feira, fui lá.
Vendo-me o dito atendente da vez passada, adiantou-se.
--Todo aquele
serviço foi perdido. O senhor não veio na segunda.
--Pensei que
guardassem o dinheiro aí.
--Não. Ele veio e
voltou e o senhor teve setenta reais de despesas debitados na conta em
Ribeirão.
Reclamei.
--Isso é impossível.
Ele respondeu prontamente.
--O senhor pode
reclamar.
Eu disse:
--Já reclamei.
Ele indagou:
--Para quem ?
Eu finalizei sorrindo.
--Para Deus, ora.
Em sorrisos começamos a mesma maratona ou
via sacra anterior. Daí já me passaram para uma moça, também muito simpática.
Um detalhe. Durante o expediente da moça,
chegou um senhor idoso, pessoa simples e a agradeceu quase orando:
--Graça a
Deus....Tirei u dinhero. Minha oração foi tendida.
Ao final não consegui retirar meu
dinheirio. O expediente findou novamente.
Amanhã vou tomar banho, passar água de
cheiro novamente e vou lá.
Vamos ver, né?
Se eu precisasse mesmo deste dinheiro já
não estava entre as “pessoas físicas”, não é ?
Minha fila seria outra.
Depois eu conto como será amanhã.
Abraços.
J. R. M. Garcia.