domingo, 14 de março de 2021

MEDO DA MORTE (CRÔNICAS E CONTOS)

                              

MEDO  DA  MORTE

 
 
Há pessoas que não o tem. 

                  Digamos que, em momentos de extremo risco, tive medo sim. 
             Já estive em situações de ter a vida dependurada por um tênue fio.
             Será que me torno piegas, descrevendo estes incidentes ? 
              Se for assim perdoem-me. Digam-me que os desagrado e não mais o farei.
              Era uma sexta feira a noite. O avião estava lotado, tendo conseguido um dos últimos bilhetes. O voo era Brasília - Goiânia - São Paulo. Já era noite noite o último trecho. O avião era da Vasp. Por volta das 22 horas. Meu destino Goiânia - São Paulo. 
              O avião foi até a cabeceira da pista, acelerou a turbina ao máximo, correu ao longo do asfalto e, instantaneamente, estávamos voando juntamente com  um baque surdo. Neste instante, lá atrás, os passageiros começaram a gritar: "...fogo...fogo...."    A aeronave balançou para direita e esquerda e sentimos em um instante que ainda voávamos e uma das turbinas havia sido desligada.
              Um cheiro nauseabundo entrou pelo ar condicionado. Não identifiquei este odor.  
              Daí começamos a voar, digamos a uns trezentos metros de altitude, talvez. Eu perguntei neste interregno umas cinco vezes ao meu companheiro de viagem, o qual ficava na janela, o que via fora do avião:" ....você vê a turbina ? Ela continua desligada ? Que altura estamos ? "  
               Entra a voz meio trêmula  (assim me pareceu) do comissário  de bordo.:
"Senhores passageiros. Tivemos um pequeno incidente ao decolar e estamos ten-ta-ndo voltar ao aeroporto. "
               A volta sobre a cidade foi longa, demorada, transpirando todos nós, em silêncio absoluto
               Passaram-se dez minutos compridos demais. Muito longo.
Volta agora a voz firme do Comandante.
               "Voltamos ao aeroporto de Goiânia. Vamos aterrar dentro de instantes."
                E o gigante pássaro metálico voltou  à pista com uma única turbina, fazendo um pouso sem problemas.
               A alegria foi geral. Uns abraçavam os outros, que não conheciam e tão pouco interessavam em conhecer. Abraçavam por abraçar. Por estarem vivos, talvez. Daí, com o ar condicionado desligado, não colocavam as escadas para descer. 
                O que eu vi pela janela foi um fato inédito, que nem entendo até hoje. O primeiro  indivíduo que se aproximou do avião, o piloto foi agarra-lo e o agarrou, socando-o algumas vezes. O piloto descera antes por uma escada, que possui na cabine. 
              Isso não entendi. Informaram-me no aeroporto que a turbina sugara uma ave justo na hora que o avião ganhava altura. Um momento de extremo perigo. 
                                            
                                                 Abração a todos. 

                  J. R. M. Garcia.