MEDO DA MORTE
Há pessoas que não o tem.
Digamos que, em momentos de extremo risco, tive medo sim.
Já estive em situações de ter a vida dependurada por um tênue fio.
Será que me torno piegas, descrevendo estes incidentes ?
Se for assim perdoem-me. Digam-me que os desagrado e não mais o farei.
Era uma sexta feira a noite. O avião estava lotado, tendo conseguido um dos últimos bilhetes. O voo era Brasília - Goiânia - São Paulo. Já era noite noite o último trecho. O avião era da Vasp. Por volta das 22 horas. Meu destino Goiânia - São Paulo.
O avião foi até a cabeceira da pista, acelerou a turbina ao máximo, correu ao longo do asfalto e, instantaneamente, estávamos voando juntamente com um baque surdo. Neste instante, lá atrás, os passageiros começaram a gritar: "...fogo...fogo...." A aeronave balançou para direita e esquerda e sentimos em um instante que ainda voávamos e uma das turbinas havia sido desligada.
Um cheiro nauseabundo entrou pelo ar condicionado. Não identifiquei este odor.
Daí começamos a voar, digamos a uns trezentos metros de altitude, talvez. Eu perguntei neste interregno umas cinco vezes ao meu companheiro de viagem, o qual ficava na janela, o que via fora do avião:" ....você vê a turbina ? Ela continua desligada ? Que altura estamos ? "
Entra a voz meio trêmula (assim me pareceu) do comissário de bordo.:
"Senhores passageiros. Tivemos um pequeno incidente ao decolar e estamos ten-ta-ndo voltar ao aeroporto. "
A volta sobre a cidade foi longa, demorada, transpirando todos nós, em silêncio absoluto.
Passaram-se dez minutos compridos demais. Muito longo.
Volta agora a voz firme do Comandante.
"Voltamos ao aeroporto de Goiânia. Vamos aterrar dentro de instantes."
E o gigante pássaro metálico voltou à pista com uma única turbina, fazendo um pouso sem problemas.
A alegria foi geral. Uns abraçavam os outros, que não conheciam e tão pouco interessavam em conhecer. Abraçavam por abraçar. Por estarem vivos, talvez. Daí, com o ar condicionado desligado, não colocavam as escadas para descer.
O que eu vi pela janela foi um fato inédito, que nem entendo até hoje. O primeiro indivíduo que se aproximou do avião, o piloto foi agarra-lo e o agarrou, socando-o algumas vezes. O piloto descera antes por uma escada, que possui na cabine.
Isso não entendi. Informaram-me no aeroporto que a turbina sugara uma ave justo na hora que o avião ganhava altura. Um momento de extremo perigo.
Abração a todos.
J. R. M. Garcia.