quarta-feira, 21 de abril de 2021

O ROLA PEDRA (CRÔNICAS E CONTOS )

                             O   ROLA   PEDRA


                                Ainda criança, embora em um ambiente bastante impróprio, tomei conhecimento e ideia destes objetos e sua utilidade.  Uma irmã, cinco anos cinco anos mais velha ia, a minha frente, para a escola. Naturalmente conversarmos sobre estes e outros objetos.
                                Da infância pouco me lembro. Já tinha uns seis anos, quando um fato marcante é vivo na minha memória. O assassinato de um homem no bar da esquina de casa. O homem estava imóvel, caído nos ladrilhos do solo. Lembro-me de maneira marcante que, durante sua agonia, com os olhos bem abertos, saia de seu pescoço rápidas golfadas de sangue esparramando pelo chão. Ninguém fazia nada, somente olhavam. Eu, também. Nada entendia daquilo e tão pouco interessava. A noite, sempre escondido dos pais, fui ver o homem no velório. O reflexo que fiz daquilo foi nenhum. Alguém, que não gostava de alguém, havia matado alguém. Mais, nada do que este raciocínio tive. Talvez achasse interessante, quando muito.  Perguntei a uma pessoa - não me lembro a quem - o quê era morrer.
                               A resposta, por óbvio, não merecia continuar: "Quando o vivente morre a gente enterra...". Essa resposta possivelmente foi-me dada por uma selvícola. Ela sempre foi muito carinhosa comigo. Pode ser que ela quisesse fazer-me esquecer do assunto ou, muito atarefada, quis colocar um fim no desagradável tema.
                               Pronto. Minha infância terminara.
                               De uma vida caçando passarinhos, levantando descalço, rosto sem lavar, colocando escorpiões para brigarem, formigas, estilingue no bolço de traz, tudo acabou em um segundo. 
                               Mas não pacificamente. Não sem estranheza. Não sem muita  raiva. 
                               As brigas na escola eram constantes. Aprendi, graças ao esforço de senhoras dedicadas, a escrever, a ler pessimamente e as quatro operações sem que delas, até por pura piedade a mim, conseguiram fazer-me entrar os números. 
                               "Venci" -não literalmente- os quatro anos primários e entrei no que à época chamavam  ginásio. 
                                Bem, para resumir a arenga, fiquei três anos tentando fazer o primeiro ano ginasial. Meu pai foi convidado a comparecer a escola e, seriamente, teve um diálogo com  o Diretor. Neste diálogo, ao que vim a saber, meu pai fora aconselhado pelo Diretor a retirar-me da Escola e aprender um ofício qualquer. Pedreiro, carpinteiro, marceneiro e, enfim, qualquer serviço que fizesse mais uso do físico do que as atividades intelectuais. 

                                              -- CONTINUAREI NA PRÓXIMA CRÔNICA-

                                        J. R. M. Garcia   
                               
                                
                                                         

                          




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